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Pais contam como enfrentaram a saída dos filhos adolescentes de casa

Do UOL, em São Paulo

14/02/2016 07h20

Saudade não é um sentimento fácil de administrar. Ainda mais no caso de pais de adolescentes, que, por algum motivo --estudo, decisões familiares ou vontade própria--, vão morar longe de casa. No entanto, é preciso considerar a chance única de amadurecimento que sair do "ninho" proporciona aos jovens. E uma chance para os adultos aprenderem junto.

"No caso dos pais que vivem em função dos filhos, a ausência é uma oportunidade para retomarem a própria vida e, inclusive, o casamento", diz a psicóloga Ceneide Cerveny, professora do Núcleo de Família e Comunidade da Pós-Graduação de Psicologia Clínica da PUC (Pontifícia Universidade Católica) de São Paulo.

A seguir pais falam sobre suas experiências.

  • Arquivo Pessoal

    Adriane Cabrini, 47, periodontista, e o filho, Pedro, 16

    "Pedro acabou de viajar para um intercâmbio na Alemanha. É a primeira vez que ele viaja sozinho. Por ser bastante independente, dinâmico, extrovertido e maduro para a idade dele, acredito que não terá problemas. A decisão foi dele, eu e o pai apoiamos. Havíamos marcado de passar o fim do ano na Itália, então, toda família embarcou junta. No dia de começar o intercâmbio, Pedro foi sozinho até Milão e, de lá, com a ajuda de um amigo nosso, voou até Dusseldorf, onde a família que o hospeda o esperava. De volta ao Brasil, sinto um misto de alegria, saudade e tristeza. Sou muito apegada aos meus filhos (ela também é mãe de Lucas, 22), mas entendo que essa é uma conquista dele. Às vezes, é difícil controlar a saudade, já que somos parceiros e temos gostos parecidos. Ter de me desapegar está sendo um grande aprendizado para mim. Meu marido, Mauricio, na adolescência, quis fazer o mesmo intercâmbio, mas não pode por questões financeiras. Por isso, ele se sentiu realizado ao ver o filho embarcar."

  • Arquivo Pessoal

    Cíntia Araium, 42, assessora de comunicação, e a filha, Marina, 16

    "No início da adolescência, minha filha começou a dizer que gostaria de morar com meus pais em Sorocaba (SP). Durante um tempo, não levei a sério. Porém, aos 15, ela pediu para não ser rematriculada na escola e disse que queria mesmo ir para o interior. Falei que o dia a dia seria difícil, pois tudo na casa girava em torno do meu pai, que estava doente. Também me questionei: por que minha filha quer sair de casa e ficar longe de mim? Ela dizia que só tinha morado em São Paulo e queria experimentar outra cidade. Quando vi que o desejo era viver o diferente, me convenci. Inicialmente, o pai foi contra, mas Marina o convenceu. Fizemos um combinado: seria um ano, nem mais nem menos. No primeiro dia de aula, levei e fui buscá-la na escola nova. Almoçamos --eu, Marina e minha mãe--, celebrando a nova etapa. Voltar para casa sem ela foi muito estranho. Sou separada, então, nos fins de semana 'da mãe', ia para Sorocaba, assim já visitava todos. Nesse período, acabei estreitando minha relação com meu caçula (João, 13). E minha filha ficou bem próxima ao meu pai, que morreu em 2015. Agora, ela está de volta e diz que um ano foi suficiente. Sentiu as diferenças positivas e negativas entre uma cidade do interior e uma metrópole. Está mais independente e expansiva. Posso dizer que a experiência da distância só nos aproximou. As duas saíram ganhando."

  • Arquivo Pessoal

    Liege Rava, 54, empresária, e o filho, Tariq, 13

    "Desde pequeno, Tariq (à esquerda), 13, tinha a ideia de morar com o pai na Bélgica. Achei que aconteceria quando ele fosse mais velho. Só que ele foi há um ano, quando completou 12. Tem sido difícil para mim, ainda choro muito de saudade. É como se uma parte minha tivesse sido arrancada. Já havia passado por isso, pois quando saí de São Paulo para morar na Chapada dos Veadeiros (GO), eu me separei do meu mais velho, João, que na época tinha 17 anos. Foi sofrido, apesar de saber que uma separação pode ser ótima para a formação emocional de um jovem. Hoje, todo o tempo que tenho disponível posso usar só para mim e acho até meio chato. Nós nos vemos duas vezes por ano e, quando isso acontece, eu me realizo. Dou aquele abraço, fico com vontade de não soltar mais. Também fico olhando ele dormir, faço todas as comidas que ele gosta. O que mudou foi a independência dele. Meu filho se tornou muito mais responsável, o que me deixa feliz demais."