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Crianças expostas ao tabaco podem ser mais agressivas ou medrosas, diz estudo

Crianças não devem ser expostas ao tabaco - Getty Images
Crianças não devem ser expostas ao tabaco Imagem: Getty Images

29/09/2015 18h19

 

Paris, 29 Set 2015 (AFP) - Crianças expostas ao tabaco antes e após o nascimento teriam praticamente duas vezes mais riscos de ter problemas de comportamento, como serem mais medrosas, raivosas ou briguentas. É o que diz um estudo feito com mais de 5.200 crianças em idade escolar.

Os malefícios do tabaco nas crianças são velhos conhecidos: a substância favorece a ocorrência de asma ou o nascimento de bebês com baixo peso, quando a mãe fuma durante a gravidez.

Mas o papel potencial da fumaça ambiente sobre os comportamentos é muito menos conhecido, ressaltou o Inserm (Instituto Nacional de Pesquisa Médica e Saúde da França), responsável pela pesquisa.

"A exposição ao tabaco durante a gravidez e após o nascimento praticamente dobra o risco de problemas comportamentais entre as crianças escolarizadas no ensino fundamental, com média de idade de dez anos", disse à AFP Isabella Annesi-Maesano, diretora de pesquisa do Inserm/Universidade Pierre e Marie Curie.

As crianças expostas ao tabaco seriam mais agressivas, coléricas, desobedientes, briguentas e mais frequentemente inclinadas às mentiras e às trapaças, até mesmo aos pequenos furtos.

Esse aumento do risco é grosseiramente refletido pela proporção das crianças expostas ao tabaco em pré e pós-natal (18%) que têm esse tipo de condutas anormais (18%) comparadas àquelas que não têm fumantes nas proximidades (9,7%).

Para os problemas emocionais, elas desenvolveriam mais facilmente medos, problemas psicossomáticos (dores de cabeça e na barriga) e não ficariam à vontade em situações novas ("criança que fica grudada nos pais", nesse caso).

No estudo, 13% das crianças têm problemas de conduta e 15% problemas emocionais --quer tenham sido expostas ou não ao tabaco, explicou a pesquisadora.

Ao todo, 20% das crianças estudadas foram expostas ao tabaco tanto durante a gravidez (mãe fumante) quanto nos primeiros meses de vida, neste estudo feito em parceria com hospitais de seis cidades francesas.

Os pais das crianças preencheram um questionário especializado --o "SDQ" (questionário pontos fortes e dificuldades/Strengths and Difficulties Questionnaire)-- indicando especialmente se a criança tinha sido exposta ao tabaco até a idade de um ano.

Os impactos desses problemas comportamentais na escolaridade não foram estudados, mas devem ser analisados em uma próxima etapa.

Os fatores habituais (nível social, prematuridade, nível de educação, etc.) que poderiam influenciar nos resultados foram levados em conta, com exceção do estado mental dos pais (depressão).

Trabalhos anteriores já apontavam para uma relação entre a exposição à fumaça do cigarro e uma taxa acentuada de problemas comportamentais.

Mas o novo estudo, publicado na revista norte-americana "PloS One", é o primeiro a mostrar em um número tão grande de crianças uma "associação" entre a exposição pós-natal ao tabaco e os sintomas emocionais e de conduta, notaram os autores.

Para aquelas crianças expostas apenas durante a gravidez (mãe fumante), "a associação aparece apenas para problemas emocionais", explicou Annesi-Maesano. Mas poucas crianças pertencem a esse grupo no estudo (cerca de 40), notou.

Para a epidemiologista, "o estudo traz um motivo a mais para evitar o tabagismo passivo em função dos problemas comportamentais que podem ser provocados nas crianças".

Essas observações parecem confirmar as realizadas nos animais, segundo as quais a nicotina da fumaça do tabaco poderia ter um efeito neurotóxico sobre o cérebro, em particular sobre o crescimento neuronal nos primeiros meses de vida.