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"Festas da catapora" são populares nos EUA

Para muitos pais, expor os filhos à doença "naturalmente" é menos arriscado do que optar pela vacina - AFP
Para muitos pais, expor os filhos à doença "naturalmente" é menos arriscado do que optar pela vacina Imagem: AFP

Alessandra Corrêa

De Nova York para a BBC Brasil

21/02/2014 14h36

Comuns até meados dos anos 1990, antes da introdução da vacina, as chamadas "Festas da catapora" continuam a ganhar adeptos nos EUA.

Auxiliados pela internet, pais de todos os cantos do país trocam informações sobre como colocar seus filhos em contato com crianças infectadas pelo vírus causador da catapora – ou varicela (Varicela-Zóster).

O objetivo é tentar fazer com que os filhos contraiam uma doença que, acreditam, se manifesta de forma bem mais branda em crianças do que em adultos, e fiquem assim imunizados para o resto da vida.

Para muitos pais, expor os filhos à doença "naturalmente" é menos arriscado do que optar pela vacina.

"Somos um grupo nacional de pais unidos no apoio ao vírus da catapora na infância em vez da vacina", diz a apresentação da página Pox Party USA, no Facebook.

Na página, uma das várias dedicadas ao tema na rede social, integrantes trocam dicas sobre as "Festas da catapora" mais próximas de onde moram e debatem prós e contras da vacina e de contrair a doença.

"Este é um grupo para indivíduos/famílias que, por diversos motivos pessoais, preferem a exposição natural à catapora do que a vacina contra a varicela", afirma outro grupo, Chicken Pox Parties – Southeast US.

Pirulitos

Além do temor de que a vacina possa provocar efeitos colaterais graves – o que, segundo especialistas, não tem comprovação científica –, alguns pais questionam sua eficácia.

O Centers for Disease Control and Prevention (Centros para o Controle e a Prevenção de Doenças, ou CDC, na sigla em inglês), agência ligada ao Departamento de Saúde dos EUA, afirma que a eficácia da vacina é de 98%.

Mas o fato de serem recomendadas duas doses – a primeira dos 12 aos 15 meses e a segunda dos quatro aos seis anos de idade – provoca desconfiança em certos pais, que acham mais seguro garantir a imunidade contraindo a doença.

Há inclusive os que recorrem a outros métodos, como enviar ou receber pelo correio pirulitos lambidos ou roupas usadas por crianças infectadas.

A prática ganhou as manchetes há cerca de dois anos, quando autoridades tiveram de alertar que quem enviasse materiais do tipo pelo correio estaria infringindo a lei e sujeito a pena de prisão.

Riscos

"Alguns pais acham que a vacina contra varicela não é necessária, porque lembram que tiveram a doença quando crianças e, apesar do desconforto, ficaram bem", disse à BBC Brasil a epidemiologista Allison Fisher, do CDC.

"Acham que contrair a doença naturalmente é melhor que a vacina", afirma Fisher. "É nossa função alertá-los sobre os riscos de não vacinar."

Seja na forma de "Festas da catapora" ou do compartilhamento de pirulitos, especialistas afirmam que expor as crianças ao vírus propositalmente é arriscado.

Segundo o CDC, apesar de complicações não serem tão comuns no caso da catapora, elas podem ocorrer, e incluem pneumonia, encefalite, infecções graves e até a morte.

De acordo com o CDC, até o início dos anos 1990 a doença atingia uma média de 4 milhões de pessoas por ano nos EUA. Destas, entre 10,5 mil e 13 mil tinham de ser hospitalizadas e entre cem e 150 morriam a cada ano.

A vacina foi introduzida em 1995 e atualmente atinge cerca de 90% das crianças até 35 meses de idade nos EUA.

De 2000 a 2010, os casos da doença no país registraram redução de 82%. As mortes de crianças e adolescentes de até 20 anos de idade em decorrência da doença caíram 98,5%, afirma o CDC.

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