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Aplicativos para pais espionarem os filhos ganham popularidade

Tela do aplicativo TeenSafe, criado para permitir que os pais monitorem os filhos - Reprodução
Tela do aplicativo TeenSafe, criado para permitir que os pais monitorem os filhos Imagem: Reprodução

Regan Morris

Da BBC News em Los Angeles, Estados Unidos

02/02/2015 10h40

Pais que desconfiam que seus filhos estão sofrendo bullying na escola, enviando mensagens pornográficas ou mesmo vendendo drogas têm à disposição uma série de novos aplicativos que os ajudam a controlar o que os menores fazem online. A variedade do mercado de aplicativos de pais é tamanha que alimenta o debate sobre a privacidade dos adolescentes.

Um deles, o TeenSafe, é como ter um espião da CIA infiltrado no celular do adolescente: o programa pode mostrar o que o usuário está postando nas mídias sociais, dar acesso a mensagens de texto deletadas e revelar mensagens enviadas em aplicativos como Whatsapp e Snapchat. A empresa pede aos pais que contem aos filhos que estão sendo monitorados, mas o aplicativo pode funcionar secretamente.

"É completamente legal que os pais façam isso discretamente", diz o diretor executivo da empresa TeenSafe, Rawdon Messenger. "A pergunta é: há justificativa? E estas são decisões morais que os pais têm de tomar. Nós acreditamos que, quando se trata de proteger seus filhos, a privacidade tem de dar lugar à proteção."

Messenger diz acreditar que, pelo menos, metade dos usuários de TeenSage espiona os filhos. A empresa opera nos Estados Unidos, no Canadá, na Austrália e na Nova Zelândia e espera chegar ao Reino Unido em breve. Desde o início de suas atividades, em 2011, cerca de 800 mil pessoas contrataram o serviço.

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Alertas

A popularidade de aplicativos  do gênero surfa na onda da expansão dos smartphones. Nos Estados Unidos, quase 80% dos jovens têm telefones celulares, e cerca de metade desses aparelhos tem recursos como câmeras de foto e vídeo e acesso à internet e às mídias sociais.

Além de monitorar o uso de mídias sociais e de mensagens de texto, os aplicativos também podem mostrar a velocidade em que o adolescente está dirigindo ou a velocidade do carro onde ele viaja como passageiro.

A empresa MamaBear oferece esse serviço, e sua co-fundadora, Robyn Spoto, diz que o aplicativo é usado para conectar famílias inteiras e enviar alertas quando alguém está acima do limite de velocidade ou saiu de um determinado perímetro estabelecido como limite.

O aplicativo, no entanto, não pode ser usado secretamente. "A tecnologia é o seu braço direito para prover informações de que precisa para ter as conversas corretas", afirma Robyn.
De acordo com ela, muitas famílias se sentem mais seguras recebendo notificações sobre onde estão os filhos.

A fundadora conta que usa o aplicativo para localizar seus pais e também seu filho de dez anos, que não tem telefone, mas usa um iPod Touch. Mas seus pais não se irritam com o fato de a filha adulta receber mensagens cada vez que eles se apressam para o trabalho ou voltam mais tarde de uma festa?

Robyn Spoto ri e diz que eles estão acostumados. "Eu não os fico vigiando", diz. Ela afirma querer apenas estar segura de que eles chegaram em casa bem.

Jogo de gato e rato

Porém, os adolescentes, geralmente, são melhores no uso da tecnologia do que seus pais, de forma que aplicativos como esses podem criar uma espécie de "jogo de gato e rato" em que eles tentam evitar os olhares curiosos dos mais velhos.

Os aplicativos de pais também estão preparados para essas situações. Se os filhos não ligam de volta ou desligam o telefone, é possível, à distância, desabilitar o telefone, de modo que ele só funcione para ligar para o pai ou a mãe.

Um grupo de adolescentes abordado pela BBC em um shopping de Los Angeles, nos Estados Unidos, disse achar improvável que estivessem sendo monitorados por seus pais.
Segundo eles, seus pais são muito ocupados e confiam nos filhos.

A história era diferente em uma escola primária da cidade, onde o especialista em cibersegurança Lou Rabon falava aos pais dos colegas de seu filho. Muitos dos casais pareciam favoráveis à ideia de monitorar os movimentos dos filhos. "Se eu pudesse, colocaria chips neles como se fossem cachorros", disse uma mãe.

Muitos dos pais presentes achavam que entendiam de tecnologia, mas ficaram chocados ao ver quão fácil era para Rabon localizar todos eles pelas fotos que postavam no Facebook. Até que ele os ensinou como desligar a geolocalização nas câmeras de seus celulares.

Todos também ficaram horrorizados quando o especialista mostrou mensagens que um "predador" escreveu em uma sala de bate-papo fazendo-se passar por uma menina de 14 anos que se sentia sozinha e estava procurando novos amigos.

Ingenuidade

Lou Rabon, que também está no processo de criar seu próprio aplicativo para pais, aconselha os casais a usarem senhas difíceis em aparelhos compartilhados pela família.

Durante a reunião, uma mãe contou a história do filho de nove anos que aprendeu com uma criança mais velha uma maneira de escapar do controle dos pais em seu telefone usando uma senha comum na família. "Em questão de minutos, ele já tinha procurado a palavra sexo no Google e meu filho de nove anos estava em um site pornô."

"Ele viu coisas que não queríamos que visse por, pelo menos, mais dez anos", afirmou. Rabon diz que é ingenuidade confiar cegamente nos filhos, mas concorda que, por muitas razões, o momento atual é ruim para ser adolescente.

Ao ser perguntado sobre se a próxima moda entre os adolescentes será desligar seus telefones, ele diz que não funcionaria –o aplicativo que ele está criando vai alertar um grupo de pais se as crianças em um círculo de amigos desligarem seus telefones. E informar suas localizações. Ou seja, acabou a festa.

"Se você quiser se desconectar completamente e criar seus filhos nesse mundo é preciso ir para a Amazônia ou algo assim. No mundo em que nós vivemos esse tipo de tecnologia difundida e onipresente só vai aumentar", afirma.

"Não quero criar meus filhos em uma bolha, mas não posso ignorar a realidade. Essa tecnologia pode salvar vidas, então acho maravilhoso podermos monitorar nossos filhos."