Como contar a uma criança que ela tem câncer
Recentemente, o cantor canadense Michael Bublé e sua mulher, a atriz argentina Luisana Lopilato, anunciaram que o filho de três anos foi diagnosticado com câncer.
"Estamos arrasados pelo recente diagnóstico de câncer de nosso filho mais velho, Noah, que está em tratamento nos Estados Unidos. Luisana e eu vamos dedicar todo nosso tempo e atenção a ele e ajudar Noah a melhorar", informou o cantor, em um comunicado.
Muitos outros pais pelo mundo passam por situações parecidas - e não sabem como contar aos filhos que eles estão doentes.
Se alguém inserir na busca do Google em português a pergunta "Como digo ao meu filho que ele tem câncer?", são obtidos 412 mil resultados, que vão desde guias de instituições médicas especializadas, exemplos de outras famílias, a artigos de revistas médicas.
Apesar da variedade de respostas, os especialistas afirmam que o importante nesta hora é transmitir a mensagem de forma simples. Um exemplo: alguns artigos científicos e até médicos usam palavras diferentes, se referem ao câncer como "tumor".
A importância das palavras
Mas a enfermeira pediátrica Helen Lythgoe, da organização beneficente britânica Macmillan Cancer Support, que realiza pesquisas e oferece apoio a pacientes com câncer, diz que usar termos diferentes podem confundir a criança.
Para a Lythgoe, o melhor é que os pais usem palavras com as quais se sentem confortáveis.
Geralmente é melhor usar a palavra câncer e ser claro sobre o que ela significa, já que a criança pode ouvi-la em um contexto diferente e ficar com medo.
Lythgoe aconselha os pais a não ter medo de falar com os filhos sobre o que está acontecendo, mas, devido às emoções que podem aparecer quando já se conhece um diagnóstico grave, é preciso planejar bem o que dizer.
"As crianças são muito práticas. Uma vez que saibam o que está acontecendo, geralmente vão continuar com a vida normal", disse a enfermeira à BBC.
"Frequentemente é melhor explicar o que está acontecendo pouco a pouco, ou quando acontece alguma mudança. Isto ajuda a consolidar a compreensão delas, sem sobrecarregá-las."
Princípios básicos
Inicialmente o conselho é a honestidade: usar linguagem simples e clara quando conversar sobre o assunto com crianças muito pequenas.
A maioria das crianças tem medo da dor, então converse com ela e esclareça de antemão qualquer exame ou tratamento que possa causar dores. Explique que esses tratamentos irão ajudar a melhorar a saúde delas.
Você também pode explicar que os médicos podem ajudar e fazer com que os tratamentos sejam menos dolorosos.
Também é importante informar que, quando o tratamento acabar, ele ou ela poderá voltar para casa (se isto for verdade).
E se você sabe quantos dias a criança vai ficar no hospital, divida esta informação com ela.
Conversar sobre o câncer e o diagnóstico pode tranquilizar a criança, segundo o site Live Well, do Serviço Público de Saúde britânico, o NHS. Mas a abordagem dos pais pode ser diferente dependendo da idade da criança e o que ela pode compreender.
A Cancer.net, organização que reúne informações e arrecada recursos para o combate ao câncer, informa que crianças muito pequenas não entendem muito sobre câncer e o medo mais básico delas é do afastamento dos pais. Elas, então, precisam de garantias de que isso não vai acontecer.
Mais esclarecimentos
É importante que os pais acalmem as crianças e esclareçam logo no início do processo que nada que elas ou qualquer outra pessoa tenha feito ou pensado causou o câncer.
À medida que as crianças crescem, elas começam a entender que a doença não foi causada por algo que elas tenham feito ou pensado, afirma a Cancer.net.
Também é importante explicar que o câncer não é como um resfriado ou gripe, não é contagioso e, por isso, não há problema em ficar junto dos outros, abraçar ou beijar.
Os pais também precisam explicar que não vão abandonar os filhos no hospital e que as crianças não vão ficar internadas para sempre.
As crianças mais velhas poderão ouvir falar sobre o câncer a partir de outras fontes, como a televisão ou internet. Então os pais precisam estimular os filhos a compartilhar essas informações.
Os adolescentes podem ter mais dúvidas e ficar mais interessados em saber mais sobre o diagnóstico, geralmente pensando em como a doença pode afetar a vida diária e atividades como escola, esportes e amizades.
Os efeitos colaterais relativos à aparência física também podem se transformar em prioridade para os adolescentes, e alguns deles podem ter um papel maior nas decisões sobre o tratamento.
Em resumo: não importa a idade da criança, o mais importante é que os pais conversem com ela da maneira mais clara possível.
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