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Como escolha de times nas aulas de educação física pode deixar traumas nas crianças

A experiência que as crianças têm em aulas de educação física pode ter consequências a longo prazo, diz especialista - Tânia Rego/Agência Brasil
A experiência que as crianças têm em aulas de educação física pode ter consequências a longo prazo, diz especialista Imagem: Tânia Rego/Agência Brasil

09/02/2017 08h54

Mesmo uma pequena (e não científica) pesquisa entre colegas de trabalho ou entre amigos em um bar já pode mostrar que a prática de escolher times durante as aulas de educação física permanece gravada na memória de muitos como uma espécie de tortura.

"Me escolhiam sempre por penúltimo" e "ainda que não te escolhessem no final, você sabia que era ruim" são frases comuns quando esse período da infância é lembrado.

A prática ainda é comum em aulas de educação física ao redor do mundo, mas um professor especialista em formação de docentes, David Barney, da universidade americana Brigham Young, quer acabar com essa tradição.

De acordo com Barney, a prática pode fazer as crianças associarem exercícios a algo negativo.

Uma prática 'desconfortável'
Barney acredita que ser escolhido por último pode não apenas ser humilhante para um adolescente, como também ter consequências emocionais de longo prazo.

Professor sugere como alternativa escolher as equipes em particular - Byu Photo - Byu Photo
Professor sugere como alternativa escolher as equipes em particular
Imagem: Byu Photo

Em um artigo publicado recentemente na revista The Physical Educator, ele analisa os resultados dessa prática com jovens dos primeiros anos do ensino médio.

Para ele, esse momento "desconfortável" em que professores ou alunos selecionam o jogadores - publicamente, aunciando um de cada vez - para formarem as equipes de uma disputa esportiva, pode ter um impacto emocional profundo para os alunos.

Muitos dos estudantes que Barney entrevistou disseram não gostar de fazer exercícios, mas participavam dos jogos porque eram obrigados pelo professor.

"Se você escolhe equipes para jogar basquete, por exemplo, dentro de dois dias as crianças já não lembram quem ganhou", diz Barney.

"Mas se lembram de como se sentiam, lembram que foram escolhidas por último", acrescenta.

A prática não ajuda a dar confiança aos alunos e pode se tornar um ciclo vicioso que desencoraja crianças com pouco talento para o esporte.

Melhor no privado
Como alternativa, o especialista em educação sugere escolher as equipes de forma privada, para evitar humilhações.

Segundo Barney, se próprios professores fizerem as escolhas dessa forma, os alunos podem expandir seu círculo de amizades, sem se sentir envergonhados ou excluídos, e as equipes podem ficar mais equilibradas.

Por outro lado, as crianças e adolescentes podem avaliar seu desempenho segundo seu progresso pessoal e não de acordo com quanto tempo demoraram para serem escolhidas por uma equipe.

Além disso, observa, "se economiza muito tempo quando isso é feito no privado."

Objetivo: criar associações positivas

Estudo da mesma universidade descobriu que crianças que sofreram bullying durante a aula de educação física fizeram menos do esporte no ano seguinte. - Thinkstock - Thinkstock
Estudo da mesma universidade descobriu que crianças que sofreram bullying durante a aula de educação física fizeram menos do esporte no ano seguinte.
Imagem: Thinkstock

Barney acredita que ter uma boa experiência nas aulas de educação física pode ter uma correlação com a sensação de bem-estar no longo prazo.

De fato, um estudo de 2014 conduzido por psicólogos da mesma universidade descobriu que crianças que sofreram bullying durante a aula de ginástica faziam menos esporte no ano seguinte.

O professor tenta focar os resultados dos seus estudos em ações concretas que os professores podem tomar para melhorar essas experiências.

Uma sugestão feita pelo especialista em outro artigo é colocar música durante a aula.

De acordo com seu trabalho, estudantes com idades entre 9 e 10 anos ficavam quase 6 vezes mais propensos a aproveitar os exercícios se havia música, que tinha um efeito motivador.