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Entenda o que é o bar-mitzvá: a cerimônia que marca a maturidade religiosa no judaísmo

Adolescente faz uma leitura em seu bar-mitzvá na Congregação Israelita Paulista - Fernando Donasci/UOL
Adolescente faz uma leitura em seu bar-mitzvá na Congregação Israelita Paulista Imagem: Fernando Donasci/UOL

Ledy Valporto Leal

Do UOL, em São Paulo

13/09/2012 08h10

Bar-mitzvá (filho da lei ou do mandamento em hebraico) significa a transição mais importante na vida de um judeu e acontece quando o menino completa 13 anos e a menina 12. Segundo o judaísmo, a partir dessa idade, os adolescentes alcançam a maioridade na tradição da religião.

“A pessoa passa a ser livre e responsável por seus atos. A partir desse momento, não pode mais atribuir suas escolhas aos pais´", explica o rabino Ruben Sternschein, da CIP (Congregação Israelita Paulista) e professor-convidado da Faculdade de Filosofia da USP (Universidade de São Paulo). O rabino diz ainda que o jovem define seu caminho de acordo com seus valores e comprometimentos. "Essa lei da religião ajuda o jovem a assumir sua maturidade social e cultural, como cidadão e judeu”, afirma .

Ao completar 11 anos -10 para as meninas-, o jovem começa um curso preparatório sobre os vários aspectos do bar-mitzvá. Nessa preparação, um período é dedicado ao aprendizado da cerimônia propriamente dita, já que é o garoto quem oficia o ritual repleto de simbologia e realizado, em parte, em hebraico. O UOL Gravidez e Filhos acompanhou um bar-mitzvá realizado em agosto na CIP.

Outra etapa do curso enfatiza o processo educativo com aulas de conteúdo diverso sobre assuntos como lealdade, amizade, ecologia, sustentabilidade, direitos humanos, justiça e responsabilidade social, entre outros. Há ainda aulas sobre o judaísmo, nas quais se procura fazer o jovem refletir e interpretar as leis a seu modo. “Tentamos aproveitar a idade desses rapazes para torná-los seres humanos melhores”, afirma o rabino.

A cerimônia de bar-mitzvá dos meninos existe há 2.000 anos e, a das meninas (chamada de bat-mitzvá), há cerca de 70 anos. Em diversas correntes do judaísmo, as mulheres eram dispensadas dos estudos religiosos, o que pode explicar o fato de o ritual feminino ser mais recente na história da religião. Por isso, o bat-mitzvá está em processo de construção e assemelha-se ao bar-mitzvá, dependendo da corrente do judaísmo.

O bar-mitzvá tem símbolos muito fortes. Um deles é a leitura pública da Torá, composta por cinco livros (o Pentateuco -Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio), livro sagrado do judaísmo. Na cerimônia, quem lê o trecho da Torá é o garoto. Simbolicamente, o que ele está dizendo é que a partir daquele momento o livro sagrado também é dele, passando a ser responsável por ele e a ter liberdade para interpretá-lo. “Desse modo, ele se apropria da história, da lei, dos valores e do texto”, explica o rabino Ruben Sternschein.

Outro símbolo de grande importância no bar-mitzvá é o tefilin –caixinhas pretas com faixas de couro que são colocadas no braço, na altura do coração e também na cabeça. Quando o garoto o coloca significa que busca, a partir daquele momento e como adulto, a coerência entre o que pensa, o que sente e o que realiza.

Outro paramento usado pelo menino durante a cerimônia é o talit, um manto branco com quatro pontas e franjas que representam a transparência, a beleza interior; as boas ações e o comprometimento do novo adulto com o bem.

  • Fernando Donasci/UOL

    O adolescente teve de fazer um curso para estar apto para a cerimônia de bar-mitzvá

Como é a cerimônia

Com duração média de uma hora e meia, o bar- mitzvá começa quando o menino coloca pela primeira vez o talit e o tefilin. Depois de rezar e cantar, ele recebe a Torá da maneira mais tradicional: na forma de um grande rolo ou pergaminho.

Em seguida, carregando o livro sagrado, o garoto anda pela sinagoga, reproduzindo a viagem de Moisés que, de acordo com as escrituras, conduziu as Tábuas da Lei com os Dez Mandamentos até a Terra Prometida. O rito significa que a mensagem precisa viajar, circular. Não pode ficar estática, morta dentro de uma gaveta. “As mensagens têm de ser lidas, discutidas, reinterpretadas e divulgadas. Quando entregamos a Torá nas mãos do jovem, dizemos: agora inicie a sua viagem”, afirma o rabino.

Depois de ele próprio ler trechos do livro sagrado, o adolescente escuta uma mensagem escrita pelo rabino especialmente para a ocasião. Feito isso, é a vez da bênção final. Normalmente, a cerimônia de bar-mitzvá é seguida por uma grande festa para comemorar a nova fase na vida do adolescente.