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O bebê não é de vidro: saiba como cuidar do recém-nascido sem exagerar

Nos primeiros meses de vida, é preciso ter cuidados, mas o bom senso deve prevalecer - Thinkstock
Nos primeiros meses de vida, é preciso ter cuidados, mas o bom senso deve prevalecer Imagem: Thinkstock

Ivonete Lucírio

Do UOL, em São Paulo

02/10/2012 07h35

Dentro da barriga da mãe, o bebê estava protegido da maior parte das ameaças do mundo exterior. Agora que está do lado de fora, ele dá a impressão de que qualquer coisa pode quebrá-lo. Mas a criança não é tão frágil quanto parece.

É verdade que alguns cuidados são necessários, mas você não precisa enlouquecer imaginando que tudo pode fazer mal a seu filho. A infectologista pediátrica Daisy Maria Machado, da USP; a pediatra Alessandra Kimie Matsuno, da FMRP (Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto), da USP,  e o pediatra Renato Procianoy, presidente do Departamento Científico de Neonatologia da SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria), apontam o que é exagero e com o que você deve se preocupar no início da vida da criança.

É melhor pedir para que as visitas não venham no primeiro mês do bebê?

Não é proibido receber visitas nos primeiros 30 dias de vida da criança. A chegada de um bebê traz alegria para toda a família e é natural que os parentes queiram conhecê-lo. O que se recomenda é evitar muitas pessoas de uma única vez e que as visitas sejam demoradas. O tempo ideal de permanência é de, no máximo, 45 minutos. Assim torna-se possível respeitar o período de descanso da mãe –que ainda está se adaptando ao novo ritmo de sono– e do bebê. Além disso, é preciso combinar o melhor horário de modo a não atrapalhar as mamadas.

As visitas podem pegar o bebê no colo?

Essa não é a situação ideal, já que o recém-nascido precisa de sossego e de interação com o pai e a mãe, não com desconhecidos. Mas, como muitas vezes é impossível evitar, peça aos visitantes que lavem bem as mãos com água e sabão antes. E não permita que peguem a criança se estiverem com qualquer doença infecciosa, ainda que seja aparentemente um simples resfriado. E não é preciso usar álcool em gel para desinfetar as mãos. Basta lavar bem com água e sabão.

É preciso esterilizar mamadeiras e chupetas?

Pelo menos nos primeiros seis meses de vida, o ideal é que a criança receba apenas leite materno. Caso precise usar a mamadeira, ela deve ser esterilizadas antes de cada uso. Para isso, leve os utensílios ao fogo em uma panela com água até que levante fervura (consulte o modo de higienização na embalagem da mamadeira). Se preferir, é possível usar esterilizadores, que permitem controlar o tempo de exposição ao calor e evitar de danificar o produto. No caso da chupeta, basta esterilizar uma vez por dia (isso se ela não cair no chão, por exemplo).

O bebê não deve sair de casa no primeiro mês?

Pode sair de casa, só não deve frequentar lugares com aglomeração de pessoas, como festas infantis, supermercados e shoppings. Desde que o tempo esteja bom, os passeios ao ar livre estão liberados também. O sistema imunológico da criança é frágil e por isso é bom evitar expô-la a vírus e a bactérias que circulam no ar.

Atenção, ter tomado as primeiras doses das vacinas não garante que a criança esteja completamente imunizada. O bebê só completa o chamado primeiro esquema de vacinação por volta de seis meses, por isso o que vale é o bom senso ao escolher os primeiros passeios.

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É preciso visitar o pediatra periodicamente nos primeiros meses?

Sim, isso é imprescindível para que o crescimento e o desenvolvimento do bebê sejam acompanhados de forma bem orientada. Segundo a SBP, o bebê deve fazer a primeira consulta com o pediatra ainda na primeira semana de vida. Estando tudo bem, a criança retorna quando estiver prestes a completar o primeiro mês. No primeiro semestre de vida do bebê, as visitas devem ser mensais. A partir do segundo semestre, podem acontecer de dois em dois meses.

A casa deve ficar na penumbra e em silêncio?

Não, a casa deve manter seu ritmo e rotina. Assim o bebê vai, aos poucos, reconhecer o ambiente e diferenciar o dia da noite. É claro que é melhor evitar muito barulho, para não assustar a criança nem deixá-la agitada demais.

É proibido usar lencinhos umedecidos nos primeiros meses de vida?

Os lenços umedecidos devem ser evitados no dia a dia. O melhor é limpar a região genital da criança com algodão embebido em água morna no momento da troca da fralda, pois algumas crianças apresentam reações alérgicas às substâncias químicas contidas nesse tipo de produto. No entanto, o lencinho umedecido pode ser utilizado em casos especiais, como em um passeio ou em lugares em que a mãe não tenha possibilidade de realizar a limpeza da maneira recomendada.

Se o casal tiver um animal, é melhor deixá-lo na casa de alguém até o bebê crescer?

Não há necessidade de retirar o animal da casa, mas é conveniente não deixar que ele tenha acesso ao quarto da criança. É também aconselhável evitar o contato direto do bebê com o bicho, pelo menos nos seis primeiros meses de vida. Mas como não há um consenso da comunidade científica sobre o assunto –porque há crianças com problemas de alergia e diferentes tipos de bichos– é bom que os pais tomem orientações com o pediatra do filho e observe se ele apresenta algum sintoma.

O recém-nascido não deve ter contato com outras crianças?

O recém-nascido pode e deve ter contato com as crianças da família. Mas, se possível, é melhor evitar receber muitas visitas de crianças pequenas, que sempre querem tocar o bebê e pegá-lo no colo.

Devido à imaturidade do sistema imunológico, e pelo fato de ainda não ter recebido todas as vacinas contra as doenças da infância, o ideal é que crianças não frequentem escolas ou creches nos primeiros meses de vida. Mais uma vez, não há consenso entre os especialistas, mas, em linhas gerais, os pediatras costumam sugerir esperar até o segundo ano da criança, quando seu sistema imunológico estará fortalecido.

Mas os pais que precisam deixar seus filhos nesses locais mais precocemente não precisam se culpar. Nem sempre o ideal é o possível, e isso deve ser levado em consideração. Nesses casos, uma conversa com o pediatra do bebê pode ajudar. O especialista pode informar sobre quais são as doenças mais comuns em crianças que frequentam berçários e escolas e suas formas de prevenção. O médico do bebê ainda pode dar dicas para os pais escolherem melhor a instituição que irá cuidar de seus filhos, auxiliando-os a observar aspectos de higiene do lugar, se exige caderneta de vacinação em dia e como a instituição controla o acesso de crianças doentes.

O bebê pode dormir sozinho no quarto?

Sim, pode e deve. Muitos pais têm dúvidas sobre a melhor posição para o bebê dormir. A recomendação do Ministério da Saúde e da SBP, entre outras instituições, diz que o bebê deve dormir de barriga para cima, pois pesquisas mostram que essa posição reduz em até 70% o risco de morte súbita, uma das principais causas de óbitos de crianças com até um ano.

A moleira do bebê não deve ser tocada?

Não existe apenas uma moleira ou fontanela (seu nome científico) na cabeça do bebê. Mas a que está localizada no alto da cabeça, chamada de fontanela anterior, é a mais conhecida e temida pelos pais. Realmente, trata-se de uma região um pouco mais sensível, uma vez que nela os ossos do crânio não se encontram totalmente unidos. Mas isso não significa que não possa ser tocada. A mãe pode passar a mão tranquilamente na hora do banho, fazer carícias, pentear. E não se impressione ao ver a região pulsar, o que é resultado da pressão arterial no cérebro. Isso é normal, especialmente quando a criança chora. Até por volta do 15º mês de vida, ela deve estar fechada.

*Com colaboração de Adriana Nogueira