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Timidez em excesso pode prejudicar seu filho; ajude-o a se soltar

Incentive a criança tímida a dar sua opinião sobre situações do dia a dia - Thinkstock
Incentive a criança tímida a dar sua opinião sobre situações do dia a dia Imagem: Thinkstock

Gabriela Horta*

Do UOL, em São Paulo

03/10/2012 07h27

"Ele é tão quietinho, não dá trabalho nenhum!". Se você já ouviu seu filho ser elogiado assim muitas vezes, por outros pais e pelos professores, é bom saber que tranquilidade, obediência, quietude e disciplina podem ser sinais de timidez. A característica é, de uma forma geral, inofensiva, mas, em excesso, pode se tornar prejudicial para o desenvolvimento da criança.

“Nem todos precisam ser extrovertidos. Há pessoas quietas muito felizes, que se dão bem profissionalmente e nas relações pessoais”, diz a psicóloga Maria Luiza Marinho, professora do Departamento de Psicologia Geral e Análise do Comportamento da UEL (Universidade Estadual de Londrina). "O problema é quando a timidez interfere na vida da pessoa e a impede de fazer coisas por medo de ser reprovada", diz a especialista. Quando isso acontece, ações rotineiras como cumprimentar alguém, pedir ajuda diante de uma dificuldade ou apresentar um trabalho na escola podem se tornar um pesadelo.

Como ajudar os tímidos

Leve em conta as particularidades de uma criança;

Respeite-a do jeito que ela é;

Faça com que as superações sejam gradativas e naturais. Não force situações;

Melhore a autoestima da criança mostrando que a opinião dela é importante, que você acredita nela;

Incentive-a a falar, deixe que ela conte o que sente e pensa. Escute de verdade;

Evite comentários na frente dela do tipo "é muito retraída", "não adianta falar com ela, não vai lhe responder";

Mostre que ter iniciativa é algo muito bom; 

Tenha paciência. O processo é gradativo. Não espere mudanças drásticas do dia para a noite.

Timidez tem a ver com a autoestima. "O tímido espera a aprovação do outro em qualquer coisa que faça. Não gosta de dar explicação e prefere não falar, mesmo que esteja certo", afirma Edilene Modesto, pedagoga do Núcleo de Cultura, Estudos e Pesquisas do Brincar da PUC-SP e mestre em psicologia da educação. "Por nunca ter a possibilidade de se expressar, a criança tímida perde muito, principalmente, porque começa a desenvolver um complexo de inferioridade."

As causas na infância

Mas o que leva uma criança a ser tímida? Segundo Marisa de Abreu, psicóloga clínica, há três fatores principais: genética, personalidade e ambiente, que é o mais forte deles. "A genética é a característica passada pelos familiares de forma biológica. A personalidade é o ‘jeitão’ que a pessoa tem, ou seja, é daquela maneira porque é e pronto. Já os fatores ambientais se referem às oportunidades que a criança teve de aprendizado para ser mais ou menos espontânea", afirma.

É em relação a esse último fator que os pais, sem perceber, podem estar levando o filho a se fechar. Uma criança que não recebe apoio para se expressar ou que sempre é reprimida e ensinada a ficar quieta, não é incentivada a conquistar amigos. Se a criança leva bronca cada vez que pretende contar coisas sobre si ou sobre o seu dia –pois consideram que ela está atrapalhando–, ela pode se tornar tímida. "Ela vai pensar que, quanto mais quietinha ficar e não responder aos pais, mesmo se sentindo muito incomodada, mais eles gostarão dela", diz Marisa.

Para a especialista, punições também formam um tímido. Criança que é punida porque brincou na hora errada e não recebeu a devida explicação nem o acolhimento, quando se mostrou arrependida, também corre o risco de se fechar. "Ela perceberá que, para ter alguma aprovação, deve ser a mais passiva possível."

Prejuízos

A maior perda de uma criança excessivamente tímida é quando ela deixa passar oportunidades de realizar trocas tanto com outras crianças quanto com adultos e, assim, tem o seu aprendizado limitado em relacionamentos interpessoais.

"Essa criança brincará menos e treinará menos sua resistência à frustração. Não se arriscará a falar e a fazer coisas que terão consequências importantíssimas para a sua percepção do que é adequado, de como as outras pessoas reagem ao que ela faz e de como deve alinhar suas investidas para obter o que deseja", afirma a psicóloga Marisa. Edilene concorda. “A timidez impede que ela possa avançar, porque não consegue expor o que pensa, o que sente.”

Situações para driblar a timidez no dia a dia

  • Frequentar a de amigos ajudam a criança tímida a socializar


- Para fazer a criança excessivamente tímida ter mais segurança, deixe que ela convide amigos para frequentarem a sua casa e permita que ele visite a deles. Nessas oportunidades, mostre que ela sempre pode bolar brincadeiras e sugerir atividades, mas também ensine que nem sempre será atendida –o que é natural, pois faz parte da vida;

- Quando vocês saírem, incentive seu filho a cumprimentar as pessoas que encontrarem;

- Encoraje-o a fazer suas próprias solicitações e escolhas e evite que ele faça uso de outra pessoa para isso. No restaurante, por exemplo, deixe que ele faça o pedido de toda a família ao garçom. Se tiver dificuldade no começo, ajude a criança e, aos poucos, deixe que ela conduza. No fim da refeição, permita que pague a conta;

- Organize um show de calouros em família, com um caraoquê, por exemplo. Se a criança topar, convide-a para ser a apresentadora;

  • Valorize a opinião do seu filho e o incentive a fazer escolhas

- Demonstre interesse por suas atividades e histórias do dia a dia da criança. Elogie-a quando se mostrar adequadamente espontânea;

- Cuidado com a superproteção, excluindo seu filho de brincadeiras e atividades que ele, naturalmente, teme por envolver outras pessoas. Estimule-o a participar. Se ele pedir a sua presença, diga que ficará até que se sinta mais à vontade;

- Não deboche da criança quando uma tentativa de exposição for mal-sucedida, como no teatro da escola. Isso só piora a situação. Mesmo quando algo dê errado, elogie o esforço e incentive o aprimoramento;

- Elogie o esforço em vez de a inteligência. O atributo é logo percebido como algo que alguém tem ou não, mas o força de vontade depende de cada um. Fazendo isso, os pais incentivam que a criança tente e não se incomode com as consequências, pois, a cada resultado ruim, há um aprendizado do que não fazer da próxima vez.

*Colaborou Fernanda Alteff