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Com o fim da licença-maternidade, esqueça a culpa por não ficar com o bebê e organize-se

Se o seu filho tem afeto pelo cuidador, é sinal de que você fez a melhor escolha para ele - Thinkstock
Se o seu filho tem afeto pelo cuidador, é sinal de que você fez a melhor escolha para ele Imagem: Thinkstock

Daniela Venerando*

Do UOL, em São Paulo

27/11/2012 10h06

Após o fim da licença-maternidade, algumas medidas de ordem prática e emocional podem fazer a volta ao trabalho ser um momento de transição mais tranquilo para a mãe e o bebê.

A primeira providência é aprender a lidar com a sensação de insegurança por deixar o filho aos cuidados de outra pessoa –e até com a culpa por estar animada em voltar à rotina de antes da gestação. "É perfeitamente normal passar por esses conflitos e não há como escapar deles. Para a mulher que sente prazer em trabalhar, será mais fácil enfrentar essa fase, que exige jogo de cintura", afirma Rita Calegari, psicóloga do Hospital São Camilo, em São Paulo.

Para a psicóloga e educadora perinatal Angelina Pita, do Gama (Grupo de Apoio à Maternidade Ativa), em São Paulo, a transição é simplificada à medida em que a mãe está certa do que quer. "Quanto mais ambiguidade e dúvidas a mãe tiver, maior será a dificuldade dela e do bebê", diz a especialista.

Planejamento

Com quem deixar o bebê na volta ao trabalho é a decisão principal no pós-parto e a que gera os mais dolorosos conflitos. "Quanto antes começar o planejamento e a busca por informações, melhor", declara Angelina.

Qualquer que seja a solução encontrada para que a mulher retome suas atividades profissionais –babá, escola ou creche ou avó–, ela precisa estar consciente de que a sua escolha tem de ser constantemente reavaliada e que mudar não é crime.

"A escolha pode funcionar por seis meses e depois não mais. Tem mulher que se desespera achando que tinha resolvido a questão para toda a vida", afirma a psicóloga e psicanalista Sheila Skitnevsky Finger, uma das fundadoras do Instituto Mãe Pessoa, de São Paulo.

Para a psicóloga Ceres Alves de Araujo, professora da PUC (Pontifícia Universidade Católica) de São Paulo, o caminho é concentrar esforços em deixar um ambiente seguro com pessoas preparadas para fazer esse trabalho. Entre babá, escola e avós, a decisão vai depender das condições de cada núcleo familiar. "É melhor tomar essa decisão em família. Assim o marido pode acalmar a mulher e vice-versa”, diz Sheila.


Babá
Se a sua opção for pela babá, contrate-a com, pelo menos, um mês de antecedência para que a profissional se habitue com toda a rotina do bebê e da casa. Lembre-se que ela não substituirá ninguém, e sim ajudar. "A escolhida precisa de vocação e treinamento. E você tem de sentir que ela está feliz em trabalhar na sua casa", diz Ceres de Araujo.

Berçário ou escola
Um mês antes de a licença-maternidade terminar, visite as escolas e, uma semana antes do retorno ao trabalho, comece a adaptação da criança. A vantagem é que o bebê vai estar cercado de profissionais especializados. Por outro lado, ele tem mais chances de ficar doente do que se estivesse em casa por causa do contato com outras crianças.

A maioria dos pediatras não recomenda colocar na escolinha antes dos dois anos. "Se não há outro jeito, nada que um bom acompanhamento médico não resolva", diz Ceres.

Avó
Para os especialistas, essa deveria ser a última das alternativas. A época é outra, hoje muitas avós têm muita coisa a fazer ou não têm pique o suficiente para aguentar a exigente demanda de um bebê . "Educar não é dever da avó. Além disso, os conflitos entre mãe e filha (ou nora), sempre surgem. E mais tarde com a própria criança, porque a maioria das avós tem dificuldade para estabelecer limites”, diz Ceres.

Se essa é a melhor solução para a sua família, comece a adaptação uma semana antes do seu retorno ao trabalho. No primeiro dia, deixe o bebê com a avó apenas por uma hora e, gradativamente, aumente o período até chegar ao tempo real.  Para evitar conflitos, entre em um acordo com a avó para que ela siga as regras que você acha importantes para criar uma criança.


Sentimentos em conflito

Mãe e culpa, diz o senso comum, andam de mãos dadas. Culpa por tudo, mas, principalmente, por não passar tanto tempo com o filho. É uma questão contemporânea, já que a mulher precisa exercer muitos papéis ao mesmo tempo.

"Compartilhar os conflitos e trocar experiências com outras mães ajuda muito. Outras opções são os blogs e a participação em comunidades. Se estiver muito difícil resolver a questão, procure ajuda psicológica de um profissional", afirma a pediatra e psicanalista Miriam Ribeiro de Faria Silveira, presidente do Departamento de Saúde Mental e membro do Departamento de Aleitamento Materno da SPSP (Sociedade de Pediatria de São Paulo).

Outro sentimento que pode tomar conta da mãe é o ciúme de quem está tomando conta de seu filho. Por isso, antes de se martirizar, fique feliz porque se o bebê demonstra afeto pela pessoa é sinal de que você fez a melhor escolha para ele. "A qualidade é mais importante do que a quantidade na formação dos vínculos", declara a psicóloga Ceneide Maria de Oliveira Cerveny, professora da PUC de São Paulo.

Peça ajuda

Não dá para vestir a camisa da supermãe e não tirá-la nunca mais. Se ficar sobrecarregada, você e o bebê serão os mais prejudicados. Delegue tarefas, conte com a família e, principalmente, peça socorro ao marido de forma clara. Muitas vezes, a mãe assume, mesmo inconscientemente, que a criança é responsabilidade só dela.

Amamentação

A OMS (Organização Mundial de Saúde) recomenda o aleitamento materno exclusivo até o sexto mês, mas a licença-maternidade com essa duração ainda não é um direito de todas as mulheres. Por isso, uma saída para prolongar o período de amamentação é a extração do leite, seja manualmente ou com bomba, processo que precisa ser iniciado 15 dias antes da volta ao trabalho. Confira dicas da pediatra Miriam Ribeiro de Faria Silveira:

- Antes de voltar a trabalhar, separe frascos de vidro de maionese ou de café solúvel e os esterilize por dez minutos em água fervente para acondicionar o leite;

- Manualmente ou com uma bomba extratora, retire leite após a mamada do bebê ou no intervalo entre as mamadas;

- Antes de iniciar a extração, lave as mãos, prenda os cabelos e, se possível, use máscara cirúrgica descartável para não contaminar o líquido;

- Etiquete o recipiente com a data da retirada e guarde no freezer por 15 dias, no máximo. Quando for usar o leite, ele pode permanecer, no máximo, 24 horas na geladeira;

- O melhor estímulo para a produção do leite é a sucção, por isso procure retirar também durante o expediente. Por lei, toda mulher tem direito a dois intervalos de 30 minutos cada para retirar o leite no trabalho ou sair para dar de mamar em casa;

- Se extrair o leite durante sua jornada de trabalho, armazene em recipiente previamente esterilizado em geladeira. Para transportar para casa, utilize bolsa térmica. Assim que chegar em casa, transfira para a geladeira ou freezer;

- Caso não seja viável retirar no ambiente de trabalho, ofereça o peito antes de sair de casa e à noite, antes de a criança dormir. Na empresa, você terá de esvaziar as mamas para aliviar o desconforto. O ato também servirá como estímulo à produção de leite.

*Colaborou Adriana Nogueira