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Pais têm de avaliar a importância do Natal para a família antes de liberar ou não o jovem da festa

Os pais têm de mostrar para o jovem a importância da comemoração para a família - Stefan Pastorek/UOL
Os pais têm de mostrar para o jovem a importância da comemoração para a família Imagem: Stefan Pastorek/UOL

Eduardo Zanelato

Do UOL, em São Paulo

21/12/2012 07h05

O Natal se aproxima e, de repente, seu filho adolescente anuncia que não quer participar da celebração em família. E agora? Antes de responder se você concorda ou não com a decisão, tente entender o que motivou essa postura.

“Se for vontade de passar (a data) com o namorado ou namorada, é importante ressaltar que os primeiros relacionamentos são exagerados. Por mais apaixonados e dependentes que estejam, os adolescentes são muito jovens e não devem deixar de passar o Natal com os pais por essa razão”, afirma Daniela da Rocha Paes Peres, psicanalista e terapeuta de casal e de família.

Mariana Schwartzmann, psicóloga clínica especializada em adolescência pela Unicamp, sugere soluções conciliadoras, como dividir a comemoração, dia 24 com uma família e 25 com a outra, ou juntar os dois lados em uma única festa.

Caso o jovem manifeste que está defendendo alguma ideologia, é necessário lembrá-lo de que todo ato tem uma consequência. “Os adolescentes tendem a ser radicais e podem achar que naquele ano o Natal é algo a ser repudiado, porém, muito provavelmente, não terão maturidade para lidar com a reação dos parentes”, fala Daniela.

Mas o passe livre deve ser concedido em alguma situação? De acordo com Mariana, a família só deve liberar o filho se julgar que não há problema nenhum nisso, não em função da pressão feita por ele.

“O adolescente pode não querer rezar ou participar de uma brincadeira –o que deve ser respeitado–, porém, se a família faz questão de se reunir, ele precisa estar presente”, fala Daniela. Para a psicanalista, os jovens são sensíveis a sentimentos de exclusão e de rejeição e talvez não aguentem ficar sozinhos, mesmo manifestando esse desejo. O fato de serem deixados para trás pode causar muita angústia.

“Independentemente de os pais serem mais ou menos permissivos, convém conversar, mostrar o que importa para a família, dividir a responsabilidade com o filho e ouvir sugestões de possíveis arranjos”, declara Marilene Krom, mestre e doutora em psicologia clínica pela PUC de São Paulo e psicoterapeuta de casais e famílias. A especialista afirma que, mesmo se o filho for inflexível e não participar da celebração, os pais devem deixar um presente e um recado para que ele saiba que a família sempre será seu porto seguro.


Conselhos para diferentes tipos de pais e mães

Religiosos
“Incluam os filhos em seus rituais e conversem bastante sobre valores, não somente religiosos, mas morais e éticos. Mostrem o lado agradável de sua crença e sejam flexíveis. Os jovens não suportam práticas muito radicais e restritivas. Eles devem se sentir acolhidos no ambiente religioso”, afirma a psicóloga Mariana Schwartzmann.

Conservadores
“Aprendam a conversar e a colocar suas razões, a ceder quando as coisas podem ser negociadas para que os filhos aprendam o mesmo. Tentem não agir como donos da verdade o tempo todo. Sim, a autoridade dos pais é inquestionável, mas argumentar e ouvir os jovens é sempre saudável”, diz Mariana.

Flexíveis
Quem sabe ceder, mas impõe certos limites, está no caminho certo. Segundo Mariana, pais assim têm mais facilidade para lidar com essa e outras situações.

“O adolescente deve ser ouvido, mas os pais precisam saber filtrar o que escutam. É possível dizer ao filho que entende que ele gostaria de estar com a família da namorada, mas a própria família não abre mão dele. Ele vai ficar emburrado a noite toda, mas não carregará sentimento de rejeição ou de falta de importância”, afirma a terapeuta Daniela da Rocha Paes Peres.

Diplomáticos
Estabelecer um acordo que agrade tanto aos pais quanto aos jovens é o ideal. “É possível ser liberal, mas sempre dando um contorno. Pode dormir na casa da namorada, mas volte para o almoço”, diz Daniela. Para Marilene Krom, a negociação é o melhor caminho, mas é preciso ter em mente que ela pode não sair exatamente como se esperava. Contente-se com o possível.

Nada tradicionalistas
“Façam o que sua escala de valores ditar. Cada família tem uma e isso deve ser respeitado”, declara Mariana. “Em famílias que não dão nenhuma importância para a data, o adolescente vai seguir a mesma toada”, diz Daniela.

Sem autoridade
De acordo com Mariana, ao contrário do que se pensa, o “não” passa a sensação de segurança, de limite e de afeto. “Devemos preparar os filhos para a frustração: eles ficam fortalecidos, com excelente autoestima e tornam-se perseverantes. Não se transformam em pessoas que nunca se responsabilizam por suas atitudes e culpam o mundo por tudo o que lhes acontece.”

Para Daniela, o jovem que não recebe nenhum limite fica angustiado, sem referências e refém da própria instabilidade. “O adolescente não tem noção do sentimento que desperta nos outros e pode passar por folgado e mal-educado. É o cuidado dos pais que vai protegê-lo dessa situação.”