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Limites claros e modelos positivos evitam sensualização precoce

Os pais têm de avaliar se não incentivaram o comportamento que condenam - Thinkstock
Os pais têm de avaliar se não incentivaram o comportamento que condenam Imagem: Thinkstock

Rita Trevisan e Louise Vernier

Do UOL, em São Paulo

09/02/2013 07h15

Cada vez mais cedo, muitas crianças têm se interessado em reproduzir hábitos e comportamentos do universo adulto. Não são raras as meninas que usam maquiagem e imitam roupas e gestos das mães. Assim como meninos que reparam como essa ou aquela colega de classe é bonita.

“Vivemos em um ambiente social em que há muito mais liberdade sexual e os adultos namoram e se beijam na frente das crianças com naturalidade, o que de forma alguma é ruim. O que acontece é que elas crescem em um contexto muito mais sensual do que há 30, 40 anos”, afirma a educadora sexual Maria Helena Vilela, diretora do Instituto Kaplan, centro de estudos da sexualidade.
 
Segundo a especialista, a mudança no papel das mulheres é outro fator que causa impacto nesse cenário. “As meninas imitam suas mães. Só que essas mulheres, ou pelo menos a maioria, não passam mais tanto tempo em casa. Muitas vezes estão separadas e à procura de um namorado. Então, de certa forma, é natural que essas crianças brinquem de trabalhar fora e que tenham mais vaidade do que as de outras épocas, que cresciam imitando suas mães cozinhando e limpando a casa”, diz Maria Helena.
 
Por tudo isso, para a especialista, alguns comportamentos nem sempre poderão ser modificados. Porém, nos casos em que as crianças mostram-se extremamente interessadas em situações e conteúdos adultos, a ponto de abrirem mão de seus passatempos de costume, a intervenção dos pais é necessária.
 
Uma criança que começa a se tocar de forma compulsiva, em locais públicos, ou que acessa conteúdos relacionados à sexualidade, na internet ou na televisão, obviamente precisa de um acompanhamento mais próximo por parte da família.
 
“A criança é curiosa por natureza e a tecnologia coloca à disposição dela todo o tipo de informação. Então, se os pais não selecionarem, ela corre o risco de se expor antecipadamente a conteúdos que ainda não está preparada para assimilar”, diz a psicóloga Juliana Bonetti Simão, do Inpasex (Instituto Paulista de Sexualidade). Assim, conhecer a rotina da criança, saber quais são seus interesses e como se diverte no seu tempo livre é essencial.
 
Ao perceber que um determinado filme, jogo ou música não é apropriado para a idade, o melhor é tentar explicar isso à criança, porém sem repreendê-la, pois ela não tem o senso crítico necessário para fazer a avaliação que os adultos fazem. “Repreender por repreender pode mitificar o tema e estimular ainda mais a curiosidade, pois aquilo que se torna proibido, por vezes, torna-se também mais instigante”, declara Juliana. A comunicação firme, porém respeitosa, é sempre a melhor estratégia ao tratar desses assuntos.
 

Vem brincar comigo?

 
Outra alternativa, além de ajudar a criança a selecionar suas fontes de lazer e informação, é organizar a rotina familiar de modo que ela tenha atividades, como aulas de esporte e passeios culturais, ou simplesmente um tempo para brincar com os pais. Esses programas vão permitir que ela receba referências diferentes das adquiridas pela TV, pelo computador, pelos jogos eletrônicos e pelo seu círculo social. “O simples fato de oferecer a sua companhia para brincar ou de mostrar que existem outras atividades, mais de acordo com a idade da criança, podem fazer com que ela migre naturalmente seus interesses, sem que os adultos precisem fazer mais nada”, afirma a psicoterapeuta infantil Anne Lise Scappaticci.
 
Por fim, é necessário que os pais não estimulem ou valorizem os comportamentos da criança considerados inadequados. “A família precisa refletir se não ‘patrocinou’, mesmo sem se dar conta, algumas posturas que agora condena. Alguns adultos acham engraçado quando a menina começa a repetir a coreografia daquela dança sensual ou quando o filho pequeno começa a observar as meninas com segundas intenções. Só quando esse comportamento começa a ficar repetitivo é que se dão conta de que deveriam ter colocado alguns limites, talvez mais cedo”, declara a psicóloga Maria Helena Masquetti, do Instituto Alana,organização sem fins lucrativos (ONG) que atua na defesa dos direitos de crianças e adolescentes.
 
“As regras de comportamento na sociedade são noções adquiridas, ensinadas. Por isso mesmo é fundamental que a criança receba orientação em casa, proteção e modelos positivos. Se tiver tudo isso, seu desenvolvimento será tranquilo e ela estará segura, independentemente da geração a que pertence”, afirma Juliana, do Inpasex.