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Reverter laqueadura ou vasectomia é possível; saiba como funciona

Sucesso da reversão da laqueadura ou da vasectomia depende da técnica utilizada na primeira cirurgia - Thinkstock
Sucesso da reversão da laqueadura ou da vasectomia depende da técnica utilizada na primeira cirurgia Imagem: Thinkstock

Marcelle Souza

Do UOL, em São Paulo

16/04/2013 08h15

Anos depois de uma vasectomia ou de uma laqueadura, o casal se pergunta: é possível reverter a cirurgia contraceptiva? Segundo os médicos, a resposta é sim, mas, antes de partir para uma nova intervenção, é preciso saber qual técnica foi utilizada na primeira operação e quais são os níveis de fertilidade do casal.

A laqueadura é o método em que as tubas (ou trompas) uterinas são amarradas, cortadas ou queimadas para impedir o encontro dos espermatozoides com o óvulo. Segundo a Lei do Planejamento Familiar, o procedimento só pode ser feito em mulheres que tenham mais de 25 anos e/ou dois filhos. A cirurgia deve ser realizada após 60 dias da manifestação do desejo do casal, tempo que deve ser usado para se refletir sobre a decisão.

Já a vasectomia é uma intervenção mais simples, em que os canais deferentes (que conduzem os espermatozoides a partir do epidídimo, local onde eles ficam armazenados após serem produzidos nos testículos) no homem são cortados para interromper a passagem das células reprodutivas masculinas. Também só pode ser realizada em indivíduos acima de 25 e/ou com dois filhos. Nos dois procedimentos, o paciente fica impossibilitado de ter filhos. 

“Cerca de 60% das pacientes procuram a reversão da laqueadura, pois mudaram de parceiro e esses não têm filhos. O restante é composto por mulheres que perderam seus filhos ou melhoraram de condição financeira”, afirma a médica Fabiana Ruas, coordenadora da ginecologia do Hospital Santo Antônio da Beneficência Portuguesa de São Paulo.

A gravidez semana a semana

  • Carla Borges e Orlando/UOL

Reversão no homem

Não existe idade máxima para realizar uma reversão de vasectomia, desde que respeitados os limites clínicos do próprio paciente. Antes de ser submetido à intervenção, o homem precisa fazer uma série de exames para detectar eventuais doenças preexistentes.

Assim como a vasectomia, a reversão é uma cirurgia ambulatorial (não necessita de internação). Nela, as partes danificadas dos canais deferentes são isoladas e “emendadas” com a finalidade de dar passagem novamente aos espermatozoides. Só que, ao contrário da vasectomia, que é simples, rápida e feita sob anestesia local, a reversão é uma microcirurgia que depende de material cirúrgico delicado e que tem de ser feita sob anestesia geral ou raquianestesia (que tira a sensibilidade da cintura para baixo).

Após a intervenção, o paciente recebe alta no mesmo dia, mas precisa ficar, no mínimo, 15 dias sem ejacular e 30 dias sem realizar exercícios físicos.

“A vantagem é que a reversão devolve a autonomia reprodutiva ao casal, não impõe à mulher nenhum procedimento invasivo, tem um menor custo e não invalida a técnica de fertilização in vitro, caso a cirurgia não dê certo (ou seja, o homem pode ser submetido a punção para retirar espermatozoides para serem usados na técnica de reprodução assistida)”, declara o médico Marcelo Vieira, chefe do Departamento de Reprodução Humana da SBU (Sociedade Brasileira de Urologia).

Em geral, afirma o médico, o nível de eficácia do procedimento é de 85% e a mulher pode engravidar em qualquer período após a cirurgia. Para quem tem medo de que o método comprometa a atividade sexual, Vieira diz ainda que não há chance de que o homem fique impotente.

Na mulher

Mais complexa do que a intervenção masculina, a reversão da laqueadura depende diretamente da técnica cirúrgica realizada no passado. De acordo com a médica da Beneficência Portuguesa, as operações feitas com anel plástico ou clipes são mais fáceis de serem revertidas. Já as intervenções que lesaram grande parte da tuba são mais difíceis de alterar.

A cirurgia de reversão consiste em retirar a parte danificada das trompas e, em seguida, unir as partes sadias. A mulher recebe anestesia geral e o procedimento demora, em média, de duas a três horas. Na maioria dos casos, a paciente recebe alta no mesmo dia ou no dia seguinte à cirurgia.

Apesar de não haver restrição direta, é preciso levar em consideração quantos anos a mulher tem no caso de uma reversão de laqueadura. “Com o aumento da idade, há maior incidência de comorbidades (associação de, pelo menos, duas patologias em um mesmo paciente), como hipertensão e diabetes, aumentando assim os riscos cirúrgicos e de gestação de alto risco. A fertilidade também é afetada com o passar dos anos”, diz a médica.

O principal problema é que as mulheres apresentam uma queda gradual de fertilidade, processo que se acelera entre os 35 e 40 anos. Fabiana ainda fala que a possibilidade de ocorrer um aborto aumenta dependendo da idade. “Por exemplo, o risco de abortamento dos 25 aos 29 anos é de 10%, enquanto que dos 40 aos 44 anos é de 34%.”

Após a realização do procedimento, a paciente leva duas ou três semanas para retomar suas atividades normais. Diante das condições ideais, a mulher pode começar a tentar engravidar a partir do terceiro mês após a cirurgia.

Segundo estudo realizado em um hospital público do Distrito Federal com pacientes submetidas à recanalização tubária, de outubro de 1977 a março de 2006, 67,26% das mulheres conseguiram engravidar após o procedimento. Só que desse total, 5,6% tiveram gestação ectópicas, ou seja, fora do útero –e que costumam se interromper naturalmente entre seis e 12 semanas.

Independentemente da complexidade das intervenções, a eficiência dos dois métodos depende muito se o homem ainda produz espermatozoides de qualidade e da idade da mulher. Por isso, quanto mais cedo a reversão for feita, maiores são as chances de que o reversão funcione e que a gravidez aconteça.