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Exemplo dos pais é essencial para a criança lidar bem com diferenças

Se os pais lidam com as diferenças com naturalidade, os filhos tendem a repetir o comportamento - Thinkstock
Se os pais lidam com as diferenças com naturalidade, os filhos tendem a repetir o comportamento Imagem: Thinkstock

Ivonete Lucirio

Do UOL, em São Paulo

14/05/2013 07h25

Etnia, orientação sexual, time de futebol, classe econômica... Todas essas peculiaridades farão parte da vida da criança em algum momento. Por isso, é importante que ela comece a ser preparada para lidar com as diferenças desde cedo, muito embora o momento em que uma determinada criança passe a perceber o diferente varie muito de uma para outra. Há bebês, por exemplo, que se assustam com os idosos. “As feições do idoso, para uma criança que não tem contato com pessoas mais velhas, é muito diferente”, diz a psicóloga Ana Paula Cuocolo Macchia, especializada em neuropsicologia pela USP.

Diferenças sutis como etnia e classe social costumam ser percebidas mais tarde. “A idade em que isso acontece depende do grau de maturidade de cada um e do nível de sensibilidade”, diz a psicóloga Angélica Rodrigues dos Santos, autora do livro “Família, Afeto e Finanças” (Editora Gente). “Mas essa percepção costuma ficar mais marcada a partir dos três anos quando aumenta o desejo de socialização. Até essa idade, a criança está mais centrada nela mesma, o que torna mais difícil perceber as características dos outros.”

A noção de diferença passa por questões de identificação de grupo e de construção social. “Com isso, a percepção de pertencimento ou não a um grupo relaciona-se com aquilo que é aprendido nos contextos sociais, nas relações com a família, com os amigos”, diz a psicóloga Daniela Tsubota Roque, mestre em psicologia experimental na área de neuropsicologia infantil pela USP.

Para ajudar

Veja sugestões de livros que podem ajudar os pais a falarem sobre o tema com o filho:

“Tudo Bem Ser Diferente”, Todd Parr (Panda Books);

“Elmer, o Elefante Xadrez”, David McKee (WMF Martins Fontes);

“Orelhas de Mariposa”, Luisa Aguilar (Callis);

“Menina Bonita do Laço de Fita”, Ana Maria Machado (Ática);

“Cada um... É um!”, Aline Louro (Franco Editora);

“Ninguém É Igual a Ninguém – o Lúdico no Conhecimento do Ser”, Regina Otero e Regina Rennó (Editora Brasil).

Quando isso acontece, os pais precisam estar prontos para dar o bom exemplo se quiserem que o filho conviva em paz com as diferenças. Se o adulto usa termos desrespeitosos para se referir a pessoas de etnias diferentes da sua, por exemplo, a criança cresce com a mesma percepção.

Da mesma forma, se os pais ficam constrangidos diante de uma pessoa com deficiência, a criança também ficará. “As diferenças fazem parte da vida. Se os adultos lidarem de forma tranquila, as crianças farão o mesmo”, diz Angélica.

Abaixo orientações dos especialistas ouvidos nesta reportagem sobre como lidar com diferentes situações:

Homossexualidade

Em algum momento, a criança vai perceber a existência de pessoas homossexuais. Pode ser um tio, amigos da família, um amiguinho que tem duas mães ou dois pais ou vendo um casal homossexual se beijando na rua. O melhor é falar com naturalidade que existem vários tipos de casais: homens que namoram mulheres, bem como homens que namoram homens ou mulheres que vivem com outras mulheres.

Deficiência física ou mental

“Não se deve tratar a deficiência como doença, isso é um conceito ultrapassado”, diz a psicóloga Maria Inês Garcia, da PUC do Rio de Janeiro. “Pessoas com deficiência possuem potenciais e merecem ser respeitadas e valorizadas.”

Mais uma vez, a chave é como os pais lidam com o assunto. Se eles ficam desconfortáveis diante de pessoas com deficiência –mesmo dizendo o contrário– nada mais natural as crianças também ficarem. Elas percebem a incoerência.

O melhor é sempre ressaltar o que há de semelhante. A pessoa com deficiência pode fazer lindos desenhos como seu filho, gostar das mesmas músicas que ele, ser louco por sorvete ou chocolate. E, acima de tudo, é preciso demonstrar respeito, não estacionando nas vagas preferenciais, por exemplo.

Classe social

Tratar disso pode ser uma oportunidade para que os pais comecem a passar noções de educação financeira para os filhos. “Geralmente conseguimos dinheiro por meio do trabalho. Os pais podem explicar que existem diferentes tipos de trabalho e os mais complexos, que exigem uma preparação maior, de modo geral, pagam salários maiores”, diz Angélica Rodrigues dos Santos. Assim, há pessoas que ganham mais e outras menos.

O fundamental é ensinar a criança a ter respeito por qualquer um, independentemente da quantidade de dinheiro que a pessoa possui. Ela tem de saber falar sobre um brinquedo novo ou de uma viagem com naturalidade, sem esnobismo. “Mais uma vez, vale o comportamento dos pais. Se eles forem arrogantes, as crianças também o serão.”

Outro questionamento que pode surgir é o contrário: por que meu amigo pode ir para a Disney todos os anos e eu não? É um bom momento para falar sobre o orçamento da família de modo participativo. Pode ser algo como “nosso orçamento está apertado neste ano e não dá para fazer viagens. Mas podemos planejar nossos gastos para os próximos anos. Vamos fazer isso juntos?”.

Morador de rua

Cuidado para não cair em estereótipos do tipo: ele não tem trabalho, por isso não tem onde morar. A situação dessas pessoas costuma ser muito mais complexa, envolvendo drogas e doença, e é essa a ideia geral que deve ser passada.

Etnia

Para explicar por que a cor da pele muda ou por que os olhos têm formato diferente é só chamar a atenção para a abundância da vida na natureza. Imagina se todo mundo fosse igual, com o mesmo cabelo, a mesma pele, os mesmos olhos. Como o mundo seria monótono, não? “Leia muito e assista a filmes que enriqueçam a bagagem cultural da criança", diz Ana Paula Cuocollo Macchia.

Time

Da mesma forma que alguns gostam de vermelho, outros de roxo e outros de amarelo, há quem torça para São Paulo, Corinthians, Fluminense ou Atlético Mineiro. É uma questão de gosto. “Mostre que, apesar da diferença de time, existe muito em comum, como a paixão pelo futebol”, diz Daniela Tsubota. “Ou ainda explique que, se todos gostassem do mesmo time, não haveria campeonatos por falta de adversários.”