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Conheça o hebiatra, o médico especialista em adolescentes

No atendimento, o médico analisa o que influencia na saúde e na qualidade de vida do jovem - Thinkstock
No atendimento, o médico analisa o que influencia na saúde e na qualidade de vida do jovem Imagem: Thinkstock

Fabiana Gonçalves

Do UOL, em São Paulo

24/05/2013 08h05

Apesar de causar estranhamento, o indivíduo entre os dez e os 20 anos de idade ainda é considerado criança, tanto pela OMS (Organização Mundial de Saúde) quanto pela SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria). Mas como os pais podem lidar com a vergonha do filho que já não se sente à vontade para fazer acompanhamento de saúde regular com um pediatra?

“No último encontro da Associação Americana de Pediatria, em 2012, estabeleceu-se de forma clara que a pediatria é a área do conhecimento médico que deve atender recém-nascidos, lactentes, crianças, adolescentes e jovens adultos”, afirma José Martins Filho, professor titular e emérito de pediatria da Unicamp, de Campinas (SP), e fundador e pesquisador do Ciped (Centro de Investigação em Pediatria), ligado a essa universidade.

Segundo Martins Filhos, na prática médica, há uma constatação de que os jovens de 20 a 25 anos precisam de um clínico geral para acompanhá-los, e o de adultos, dificilmente, se dá bem com esses pacientes.

Hebiatra: o médico dos adolescentes

Embora ainda difícil de encontrar, existe, dentro da pediatria, um especialista preparado especificamente para atender pré-adolescentes e adolescentes: o hebiatra. “A especialidade existe desde 1974 e seu primeiro curso surgiu na Faculdade de Medicina da USP. Depois, deu-se início a outro no Rio e assim foi se disseminando”, fala Maurício de Souza Lima, médico hebiatra, formado pela USP e diretor de pediatria do Hospital Sírio Libanês, em São Paulo.

A AMB (Associação Médica Brasileira) reconheceu a especialidade em 1998, mas são poucos os cursos de medicina que oferecem essa formação. “O crescimento tem ocorrido devagar, até porque muitas pessoas ainda não têm conhecimento da existência de um profissional que atenda especialmente o adolescente”, declara o pediatra e hebiatra Mauro Fisberg, professor do Centro de Atendimento e Apoio ao Adolescente da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo). “Sem contar que não é todo pediatra que atende o adolescente”, afirma Lima, do Sírio Libanês, que há 25 anos atende apenas jovens.

A consulta

A dinâmica da consulta do hebiatra difere da do pediatra. Com este médico, os pais procuram e participam do atendimento. No caso do hebiatra, os adultos só tomam parte da primeira consulta.

“O médico, durante o atendimento, observa e analisa vários quesitos que influenciam na saúde e na qualidade de vida do adolescente, como seus hábitos alimentares, comportamentais e sexuais, além do relacionamento com a escola e com a família”, afirma o hebiatra Mauro Fisberg.

Depois da primeira consulta, o adolescente passa a se consultar sozinho. “Esses momentos servem para o jovem ficar à vontade para expor problemas e dúvidas que o afligem e que não quer compartilhar com a família. O médico fala com os pais sobre a conduta a seguir e, se o jovem permitir, o especialista pode contar o que foi conversado em particular, sempre respeitando a privacidade do jovem”, diz Maurício de Souza Lima, hebiatra do Sírio Libanês.

Recomenda-se que a primeira visita ao hebiatra aconteça no início da puberdade (que ocorre, geralmente, entre nove e dez anos) e que seja repetida após seis meses. Após esse contato inicial, é preciso, pelo menos, uma visita anual.

Sexo e drogas

Segundo Mauro Fisberg, os problemas ambulatoriais mais abordados nas consultas com os adolescentes são ligados ao crescimento, ao sedentarismo e à obesidade. “Mas as doenças sexualmente transmissíveis e o consumo de álcool e drogas estão sempre em pauta”, afirma.

Encabeçam a lista de preocupações dos pais a iniciação sexual cada vez mais cedo e o consumo de drogas, principalmente a maconha. “A idade média de pacientes que atendo e que já tiveram a primeira relação é em torno de 13, 14 anos. O problema é que a ‘síndrome da onipotência’ acontece desde a Grécia Antiga até hoje: ‘ah, isso nunca vai acontecer comigo’, ‘confio nela ou nele’, entre outras afirmações, continuam sendo muito comuns. E o resultado é a falta do uso de preservativo, que leva à gravidez e a doenças sexualmente transmissíveis”, afirma Maurício de Souza Lima.

Vacinação em dia

Outro aspecto que também é avaliado pelo médico é a carteira de vacinação do jovem. “É preciso saber se todas as vacinas da infância foram tomadas. Se não, esse é o momento de atualizar”, afirma o hebiatra Mauro Fisberg.

Se o adolescente está com a carteirinha completa, é hora de rever o calendário e completar as doses, entre elas o reforço da vacina dupla de difteria e tétano, meningite, hepatite e fazer a vacina contra o vírus papiloma humano (HPV), o principal causador de câncer de colo de útero.