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Entenda o "cutting", distúrbio que atingiu a filha de Michael Jackson

Imagem do site TMZ, de abril, mostra Paris Jackson e detalhe do seu braço com marcas de corte - Reprodução/TMZ
Imagem do site TMZ, de abril, mostra Paris Jackson e detalhe do seu braço com marcas de corte Imagem: Reprodução/TMZ

Louise Vernier e Rita Trevisan

Do UOL, em São Paulo

27/06/2013 08h15

Fazer pequenos cortes nos braços, nas pernas e na barriga é a maneira encontrada por muitos jovens para, por meio da dor física, aliviar a dor emocional. Em inglês, o problema é chamado de “cutting”.

No início de junho, Paris Jackson, filha de Michael Jackson (1958-2009), foi levada para um hospital na Califórnia depois de tentar se matar cortando os pulsos. A garota de 15 anos agora está em tratamento contra uma profunda depressão. Antes do gesto radical, ela já dava sinais de que enfrentava sérios problemas emocionais e que estava vulnerável ao “cutting”. Em seu perfil na rede social Tumblr, Paris colecionava fotos de pessoas se ferindo com tesouras, entre outras imagens fortes.

Para muitos jovens, as novas responsabilidades trazidas pela adolescência podem ser um peso difícil de suportar. “Passar no vestibular, ser aceito em seu grupo social, escolher uma profissão, votar... São tantas pressões que, dificilmente, um jovem não entra em crise existencial durante essa fase da vida”, afirma a psicóloga Rita Calegari, especialista em psicologia da saúde pela PUC de São Paulo.

A presença de outros transtornos –como ansiedade, depressão e bulimia–  e um ambiente doméstico em que o adolescente se sente excessivamente cobrado, punido ou no qual recebe pouca atenção, por parte dos pais, também aumentam a vulnerabilidade ao “cutting”. “Nessas situações, o adolescente fere o próprio corpo repetidamente com o desejo de aliviar as dores emocionais que não consegue expressar, como a intensa ansiedade, a angústia ou o medo”, diz Rita.

Além da dificuldade de falar sobre o que sentem, os adolescentes que ferem a si mesmos –usando lápis, canetas, bijuterias com pontas, pregos, canivetes e arames–, geralmente, percebem-se impotentes, isolados ou excluídos e têm baixa autoestima.


Como identificar e tratar

O “cutting” é mais comum entre os 14 e os 20 anos e é praticado tanto por meninas quanto por meninos. Porém, para os pais menos observadores, o distúrbio pode passar batido por algum tempo, pois, geralmente, o adolescente procura esconder as lesões que provoca em si mesmo.

“A maioria desses jovens escolhe partes do corpo que podem ser escondidas para cortar. Além disso, costumam se vestir com roupas que escondem as cicatrizes”, fala a psicoterapeuta Márcia Malvazzo Almeida.

Segundo a psiquiatra Jackeline Giusti, assistente do Ambulatório de Adolescentes do Hospital das Clínicas de São Paulo, esses adolescentes ainda evitam roupas de banho ou viagens para locais em que terão de expor o corpo.

Uma vez detectado o "cutting", é fundamental que os pais abordem o filho com uma conversa tranquila e franca, sem nenhum tipo de acusação ou ameaça. Também não é aconselhável impor uma punição na tentativa de fazer o jovem parar. Afinal, ele, muito provavelmente, está tendo dificuldade de falar sobre si e suas emoções, e qualquer tipo de repressão só vai agravar a situação.

A intervenção de um psicólogo pode facilitar a comunicação. “Os pais não precisam saber lidar com todo o tipo de situação nem devem ter resposta para tudo. E não há problema em expor isso para o filho. Nessa situação, o importante é que eles sejam sinceros, mostrem-se solícitos e acolhedores”, declara Jackeline.

Quanto mais precoce for o diagnóstico do “cutting”, mais breve tende a ser o tratamento. Em todos os casos, é necessário avaliar, antes de tudo, se o jovem sofre de algum transtorno psiquiátrico associado à automutilação. Porém, de modo geral, o problema é tratado com acompanhamento psiquiátrico, uso de medicação e psicoterapia, individual ou em grupo. “Em fases agudas, a hospitalização pode ser indicada, especialmente porque os ferimentos podem infeccionar, acarretando outros problemas de saúde”, afirma Rita.