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Identifique componentes perigosos nos rótulos de produtos para bebês

A alta permeabilidade da pele do bebê a torna mais exposta à absorção de agentes químicos - Thinkstock
A alta permeabilidade da pele do bebê a torna mais exposta à absorção de agentes químicos Imagem: Thinkstock

Maria Laura Albuquerque

Do UOL, em São Paulo

02/08/2013 08h25

Engana-se quem pensa que, para manter os bebês limpinhos, é preciso ter um arsenal cosmético à mão. Os médicos são categóricos ao afirmar que, quando o assunto é higiene, menos é mais. Muitas vezes, água morna funciona muito bem como o ingrediente principal. "Cremes e perfumes devem ser usados só depois dos três ou quatro meses de vida da criança. Ainda assim, é melhor evitá-los ao máximo para afastar o aparecimento de alergias", diz Débora Passos, pediatra neonatologista da maternidade Pro Matre, em São Paulo.

Para limpar seu filho a cada troca de fralda, por exemplo, melhor abrir mão, sempre que possível, dos lenços umedecidos. Eles podem, afirmam os especialistas, provocar irritações na pele. "Por razões preventivas, o uso desse tipo de produto deve ficar restrito a situações em que não é possível dar um banho ou fazer a higienização com água morna e algodão", afirma Zilda Najjar Prado de Oliveira, professora de dermatologia da Faculdade de Medicina da USP e vice-presidente do departamento de Dermatologia Pediátrica da SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria), da regional de São Paulo.

A permeabilidade da pele dos bebês é muito elevada, sobretudo, durante a primeira quinzena de vida, o que a deixa exposta à absorção de agentes químicos com mais facilidade. Além disso, os lencinhos contêm sabão, ingrediente que altera a camada lipídica (de gordura) da pele. Em função disso, às vezes, surgem assaduras, que facilitam a chegada de agentes infecciosos. Na hora das compras, leia atentamente o rótulo e prefira os que não contêm álcool e perfume.


De olho no rótulo

Fique atento à presença dos seguintes ingredientes nos produtos indicados para uso infantil. O ideal é que eles não façam parte da fórmula ou, se fizerem, que apareçam em baixa concentração.

- Propilenoglicol: componente de emolientes e lenços umedecidos, pode causar ardência e irritação cutânea, especialmente, se utilizado em uma concentração maior do que 5%;

- Sódio lauril sulfato (SLS): detergente presente em sabonetes e xampus, que é um potencial fator de irritação da pele. Capaz de danificar a barreira lipídica e causar inflamação e descolamento das camadas da pele;

- Sódio laureth sulfato (SLES) e amônio laureth sulfato: agentes que formam a espuma de produtos como gel de banho e espuma para banheiras. Podem provocar irritações;

- Parabenos (metilparabeno, propilparabeno, etilparabeno e butilparabeno): encontrados em loções, xampus e lenços umedecidos. Podem causar dermatite de contato e rash cutâneo (manchas avermelhadas que saltam da pele).

Fonte: artigo “Prevenção e Cuidados com a Pele da Criança e do Recém-Nascido”

Troca da fralda

Pode parecer pouco limpar o bebê com algodão embebido em água morna, depois de ele fazer xixi, e dar um banho com água e sabonete no caso de ele ter feito cocô. Mas esses são os cuidados que a pele necessita para ficar bem limpa. "Além disso, os pais devem cuidar para que as trocas sejam constantes, porque, mesmo as mais modernas fraldas, depois de sujas, mantêm a criança em contato, ainda que pequeno, com a urina e com as fezes", afirma a dermatologista Zilda. E quando se fala em trocas constantes, a orientação deve ser levada a sério: um recém-nascido urina em média 20 vezes ao dia.

No mais, é muito importante limpar as meninas, passando o algodão ou o lencinho, da parte da frente para trás, na direção do bumbum, para evitar infecções. No caso dos meninos, Débora explica que é preciso levantar o pênis delicadamente para limpar e secar bem a área em que o órgão se apoia sobre o saco escrotal.

Para evitar que a pele asse, ela recomenda aplicar, após a higienização, óleo mineral, que forma uma camada protetora e é fácil de retirar, o que evita irritar a área. No caso do aparecimento de assaduras, Zilda indica o uso de cremes próprios para tratar o problema. "Não é necessário usar esse produto a cada troca se a criança não tiver assaduras", diz a médica.



Hora do banho

Os pediatras também recomendam que os pais se livrem dos excessos na hora do banho. Sabonete e água bastam, inclusive, para lavar o cabelo da criança. De acordo com a pediatra Débora Passos, restringir o número de produtos ajuda a identificar a causa de alergias, caso elas apareçam.

Segundo a especialista, o banho deve começar de cima para baixo, começando pelas áreas mais limpas (cabeça e rosto) em direção das mais sujas (mãos, órgãos genitais e pés). E nada de usar esponjas ou paninhos, mesmo que sejam ultramacios e específicos para uso infantil. "É suficiente aplicar um pouco de sabonete na mão e passá-la delicadamente sobre o corpo do bebê. Esfregar pode machucar a pele e abrir caminho para a entrada de bactérias e fungos", diz Zilda.

Se possível, dê preferência a produtos líquidos. Eles costumam custar mais caro, porém são mais higiênicos. Se a opção for por sabonetes em barra, lembre-se de manuseá-los somente com as mãos bem limpas. Independentemente da escolha, dê preferência aos que não contenham perfume e corantes.  Juliana Dûmet, doutora em dermatologia pela USP e professora de dermatologia da UFBA (Universidade Federal da Bahia), ainda recomenda escolher os que tenham a inscrição "syndet gel" na embalagem, que informa a ausência de sabão. E mais: não use sabonetes de glicerina. "Esse ingrediente é um poderoso umectante, ele puxa água para fora da pele, não hidrata. Pode causar secura e irritações."

Tão importante como lavar todo o bebê, incluindo as famosas dobrinhas, é enxaguar bem. Se restar um pouco de sabonete no corpo, a barreira lipídica sofre e a pele pode ficar irritada. A temperatura da água também merece atenção. O ideal é que esteja entre morna e fria –nunca quente porque pode ressecar a pele e até queimá-la. "Outro cuidado é com a toalha. Ela deve ser usada para secar as partes mais limpas primeiro (cabeça e face), trocada diariamente, se possível, e ser de uso exclusivo da criança", fala a pediatra da Pro Matre.

Vale prestar atenção também na duração do banho. "Os pais devem dar conta do recado em cinco minutos, no máximo, para não prejudicar a barreira epidérmica, ainda em desenvolvimento", diz a professora de dermatologia da Universidade Federal da Bahia.