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A partir dos três anos, é preciso aferir a pressão arterial das crianças

O ideal é monitorar a pressão das crianças e dos jovens, pelo menos, duas vezes por ano - Thinkstock
O ideal é monitorar a pressão das crianças e dos jovens, pelo menos, duas vezes por ano Imagem: Thinkstock

Rita Trevisan e Thaís Macena

Do UOL, em São Paulo

09/09/2013 08h05

Segundo estimativa da Sociedade Brasileira de Cardiologia, 6% das crianças e adolescentes do país estão hipertensos. Para ter uma ideia do tamanho do problema, basta saber que, no caso dos adultos, a incidência da doença é de 30%.

Entre os mais jovens, o mal costuma se manifestar a partir dos três anos e, raramente, está associado a outras doenças mais sérias, cardiológicas, renais ou endocrinológicas. O mais comum é que, aliado à predisposição genética, o sobrepeso ou a obesidade respondam por grande parte dos casos de pressão alta.

“Por volta dos três anos, a criança passa a ter mais autonomia para se alimentar, começa a ter acesso a comidas menos balanceadas e mais calóricas, com índices mais altos de gordura. Ao mesmo tempo, torna-se mais seletiva. Então, não por acaso, é nessa faixa etária que começamos a ver um aumento dos casos de sobrepeso, obesidade e hipertensão, sendo que um fator está diretamente relacionado ao outro”, afirma o cardiologista pediátrico Gustavo Foronda, do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo.

Pesquisas recentes corroboram com a opinião do especialista, chamando a atenção para o estabelecimento de um ciclo vicioso que deve atingir um número cada vez maior de jovens, daqui em diante. Segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), de 2008/2009, uma em cada três crianças de cinco a nove anos e dois em cada dez adolescentes estão acima do peso recomendado pela OMS (Organização Mundial de Saúde).

Um apanhado dos últimos levantamentos feitos pelo IBGE também mostrou que, nas duas últimas décadas, a obesidade entre crianças de cinco a nove anos saltou de 4,1% para 16,6%, entre os meninos, e de 2,4% para 11,8%, entre as meninas. No grupo dos adolescentes, o excesso de peso passou de 3,7% para 21,7% nas últimas quatro décadas. Por fim, dados da Sociedade Brasileira de Cardiologia indicam que as crianças obesas têm até oito vezes mais chances de desenvolverem hipertensão.

Prevenção

Para piorar o quadro, que é bastante alarmante, a pressão alta não costuma provocar sintomas e é comum que seja descoberta só na idade adulta, no momento em que o quadro se agrava e provoca alguma complicação cardiológica importante. Isso justifica a importância de se fazer o acompanhamento desde cedo, nas consultas de rotina das crianças.

Segundo a cardiologista Fernanda Consolim Colombo, diretora científica da Socesp (Sociedade de Cardiologia de São Paulo), a aferição da pressão arterial deve ser feita, rotineiramente, em meninos e meninas a partir dos três anos. “É preciso monitorar a pressão, pelo menos, duas vezes por ano”, diz a cardiologista pediátrica Célia Maria Camelo Silva, da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).

Além disso, é essencial que os pais estejam sempre atentos ao crescimento e ao ganho de peso da criança, verificando com o  pediatra se eles estão dentro da curva considerada normal. Qualquer desvio deve ser tratado o quanto antes, a começar por uma intervenção nos hábitos da criança.

“Hoje em dia, a tendência é que as crianças ocupem seu tempo livre com computadores, tablets, televisão e games eletrônicos, o que as torna extremamente sedentárias. Além disso, muitas delas se alimentam mal. Como se não bastasse, a partir da pré-adolescência, os jovens são submetidos a um alto nível de estresse, sofrem uma cobrança exagerada por resultados, tanto em casa quanto na escola. Todos esses aspectos estão ligados ao aparecimento da pressão arterial”, fala o cardiologista pediátrico Foronda.

Para minimizar todos esses fatores de risco, a atuação da família é  fundamental. “Para mudar o estilo de vida da criança, é preciso que toda a família faça as adequações necessárias, que adote uma dieta mais saudável e uma rotina que inclua mais atividades físicas. Isso aumenta muito as chances de sucesso no tratamento”, afirma Fernanda.