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Para jovem, risco de dependência do álcool é maior; proteja seu filho

O sistema nervoso central segue aprimorando seus recursos até, pelo menos, 21 anos, mais um motivo para deixar os adolescentes longe do álcool - Getty Images
O sistema nervoso central segue aprimorando seus recursos até, pelo menos, 21 anos, mais um motivo para deixar os adolescentes longe do álcool Imagem: Getty Images

Rita Trevisan e Thaís Macena

Do UOL, em São Paulo

23/12/2013 07h15

Uma pesquisa realizada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), em 2012, envolvendo mais de 100 mil adolescentes, em 2.842 escolas de todo o país, mostrou que o consumo de bebidas é comum e tolerado pelos jovens. Entre os entrevistados, com idades de 13 a 15 anos, 50,3% afirmaram ter provado, pelo menos, um drinque alcoólico. Além disso, um em cada quatro jovens assumiu ter bebido nos últimos 30 dias anteriores à realização do levantamento. A maioria teve acesso ao álcool em festas (39,7%), mas muitos informaram que conseguiram comprar bebidas em lojas, bares ou supermercados (15,6%).

Sem ter muita ideia dos efeitos nocivos que a bebida pode ter sobre seu desenvolvimento, os jovens afirmam beber para se soltarem mais ou para se divertirem. O ponto é que inúmeras pesquisas já provaram que os danos do álcool sobre o organismo são muito maiores quanto mais precoce é o seu uso.

Um levantamento feito por um órgão governamental americano, o Substance Abuse and Mental Health Services Administration, publicado em 2008, mostrou que indivíduos que começam a beber antes dos 15 anos têm sete vezes mais chance de desenvolver problemas relacionados ao uso de álcool do que aqueles que o fazem após os 21. 

As complicações relacionadas ao uso começam pelos efeitos físicos, pois o álcool agride o sistema nervoso de diversas formas. “Há um efeito tóxico direto tanto para o cérebro quanto para os nervos periféricos. O uso frequente reduz a quantidade de neurônios e suas conexões, chamadas de sinapses. Isso evidentemente leva a um comprometimento da performance intelectual e motora”, declara o neurologista Leandro Teles, graduado pela Faculdade de Medicina da USP.

Esses malefícios aparecem com mais intensidade nos jovens, já que eles ainda estão em processo de amadurecimento do sistema neurológico.

“O sistema nervoso central segue aprimorando seus recursos até, pelo menos, 21 anos. Coerente com essa questão fisiológica, a legislação proíbe o álcool para menores de 18 anos. Isso explica também porque, em alguns países, a restrição se dá até os 21”, afirma o psiquiatra especialista em dependência química Carlos Salgado, membro do conselho consultivo da Abead (Associação Brasileira de Estudos do Álcool e Outras Drogas).

E isso sem falar nos riscos para outros órgãos e sistemas –como o fígado– e nos prejuízos para a vida social. “Não há dúvida de que os adolescentes ficam mais propensos a comportamentos de risco sob os efeitos do álcool, incluindo brigas, sexo desprotegido e acidentes de carro”, diz a psiquiatra Camila Magalhães Silveira, coordenadora do Cisa (Centro de Informações sobre Saúde e Álcool).

Dependência

É claro que todos esses efeitos passam a preocupar mais à medida que aumenta a frequência do consumo de bebida. No entanto, segundo os especialistas, não há uma quantidade ou regularidade mínima que possa ser considerada segura, quando falamos em consumo de álcool entre os mais jovens.

“Não sabemos de antemão quem será aquele que partirá para um uso abusivo e danoso e aquele que saberá a hora de parar, porque isso depende de características individuais e contextuais com muitas variáveis. Há pessoas que passam a vida toda tomando apenas uma dose de bebida por dia, enquanto outras vão beber de forma progressiva quantidades muito maiores. O problema é que ambas começam do mesmo jeito, com o primeiro copo”, fala Teles.

Na juventude, o risco de viciar também é maior. “A ativação do sistema de recompensa cerebral é mais intensa, tornando-os mais predispostos ao abuso e à dependência. Além disso, os jovens ainda estão buscando a aceitação do grupo, são vulneráveis e têm uma certa sensação de indestrutibilidade que os mais velhos já aprenderam a relativizar”, afirma o neurologista.

Por isso, a recomendação aos pais é evitar que o jovem beba mesmo dentro de casa. Até nas festinhas de família, o ideal é que os adolescentes brindem com coquetéis sem adição de álcool.

Orientá-los para as escolhas feitas quando em companhia dos amigos também é fundamental. “O álcool permeia o mundo dos jovens. A oportunidade para beber surgirá e a decisão será deles, que terão de fazer escolhas sobre quando, onde, com quem e o quanto consumirão. O que os pais podem fazer é contribuir para que o filho tenha subsídios fortes para fazer uma escolha responsável”, diz a psiquiatra Camila.

Segundo a especialista, o ideal é que as conversas sobre os riscos associados ao uso abusivo de bebidas alcoólicas ocorram de maneira ocasional e frequente, sem um tom de sermão. “Quando falar sobre o álcool, deixe seu ponto de vista claro, discutindo suas crenças e opiniões com honestidade. Também vale lembrar que o diálogo deve ser uma via de mão dupla, por isso dê ao seu filho a oportunidade para perguntar livremente sobre o assunto e ouça o que ele tem a dizer”, fala Camila.

Nessa conversa, é interessante que os pais exponham de maneira clara que não tolerarão o consumo de bebida alcoólica e o que acontecerá caso o filho não cumpra o que foi combinado previamente. “Cabe aos pais decidir o que consideram melhor para os seus filhos quando esses ainda não têm maturidade suficiente para tomar decisões. Também é importante que os adultos transmitam de forma objetiva as regras que valem naquela família”, declara a psiquiatra.

Por fim, é preciso considerar que o exemplo dos pais fará toda a diferença, por isso não adiantar ter um discurso contra a bebida alcoólica e beber abusivamente na frente do jovem. “Muitos pais julgam que seus filhos não terão complicações em decorrência da embriaguez, porque eles não tiveram em sua juventude. O problema é que podem estar enganados e correm o risco de ver seus adolescentes enfrentando desfechos muito diferentes e até bastante dramáticos”, afirma Salgado.