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Crianças entre quatro e seis anos são exigentes à mesa; veja como agir

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Respeite os Imagem: Getty Images

Rita Trevisan e Louise Vernier

Do UOL, em São Paulo

10/02/2014 11h46

Seu filho recusa verduras e legumes, não quer provar receitas que não conhece e só come se estiver entretido com a TV ou algum brinquedinho? Se ele tiver entre quatro e seis anos, saiba que esse é um padrão de comportamento . Foi o que mostrou uma pesquisa feita pela Mead Johnson Nutrition Brasil, de 2012, chamada “Picky Eaters” (comedores exigentes, em tradução livre do inglês).

Segundo o levantamento, as crianças nessa faixa etária são as mais difíceis de alimentar, já que se tornam, nessa fase, extremamente seletivas. “Chamamos esse processo de neofobia alimentar. A criança sente medo de ingerir novos alimentos, dando preferência aos já conhecidos. É um fenômeno biológico”, afirma o pediatra nutrólogo Fábio Ancona, coordenador da “Série Filhos”, da SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria).

Como consequência, as crianças acabam optando por alimentos que, normalmente, possuem tonalidade bege e amarelada e são mais macios e fáceis de mastigar.

A causa desse comportamento, em grande parte das vezes, tem a ver com a alimentação que a criança recebeu nos anos anteriores. “A papinha homogênea que os pais fazem, assim que o bebê começa a comer, não tem muita variação de cor. Ou é amarelada ou tende para o vermelho claro, raras vezes possui tons de verde, já que os alimentos de cores mais fortes vêm misturados nessa massa”, diz o pediatra Mauro Fisberg, coordenador do Centro de Dificuldades Alimentares do Hospital Infantil Sabará, em São Paulo.

Por esse motivo, muitos especialistas já não incentivam o uso da papinha. “Para evitar problemas futuros de adaptação, o ideal é que a criança receba, no período posterior à amamentação, alimentos com certa textura. Indicamos os mais macios e menos fibrosos, mas nunca batidos”, declara a nutricionista pediátrica Priscila Maximino, autora do livro “Guia Descomplicado da Alimentação Infantil” (Editora Abril). Outra dica é que os pais ofereçam cada alimento de uma vez, evitando a sopinha que funde todos os sabores em um só.

Bons de boca

Para as crianças que passaram há tempos dessa fase, o jeito é correr atrás do prejuízo e procurar educar seu paladar. O quanto antes começar, melhor. Afinal, crianças que não seguem uma dieta balanceada e ingerem uma pequena variedade de alimentos, dificilmente, contarão com o aporte ideal de nutrientes que precisam para crescer, em especial de vitaminas e minerais.

“A longo prazo, essa carência pode influenciar negativamente o crescimento, prejudicar o sistema imunológico e favorecer o aparecimento de doenças, como a obesidade ou, no extremo oposto, a desnutrição”, afirma o pediatra Fisberg.

Para driblar o problema e garantir que a criança aceite uma alimentação saudável e completa, o ideal é ter postura firme e perseverar na tentativa de introduzir novos pratos. De acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), é necessário oferecer de oito a dez vezes um alimento antes de, realmente, constatar que a criança não gosta da textura ou do sabor. Na maior parte das vezes, ela o recusa apenas porque não conhece e precisa de um tempo para se adaptar.

Evitar ao máximo as concessões à mesa também é uma saída para contornar a situação. “Nessa faixa etária, o hábito alimentar não está formado. Então, se a criança rejeita um alimento, por mais drástica que pareça, a alternativa é dizer que ela não tem outra opção. Ela pode recusar no momento, porém, quando a fome apertar, vai comer”, afirma Priscila.

Sem distrações

Outra estratégia eficiente é estimular a criança a conhecer melhor os alimentos e prepará-los. “Aproveite para levar seus filhos à fazenda, para conhecer os animais que produzem os alimentos que você coloca na mesa. Depois, convide-os para irem à feira ou ao sacolão fazer as compras. Por fim, peça uma ajuda na hora de elaborar pratos simples, saudáveis e saborosos”, diz o pediatra Ancona.

“Dessa forma, além de conhecer de perto esse universo, ela se torna corresponsável pela alimentação e ainda tem a autoestima elevada”, fala a nutricionista Priscila.

Investir em receitas que rendam pratos bonitos de ver, suculentos e cheirosos também pode despertar o apetite dos filhos. Vale até mesmo montar desenhos e figuras com os alimentos, pois essa é uma maneira de tornar o momento da refeição mais lúdico e prazeroso.

Por outro lado, jamais permita que a criança confunda o horário da refeição com o momento da brincadeira e que coma em frente à televisão ou segurando bonequinhos. Cantar músicas, bater palmas e se sujar um pouco são atitudes saudáveis e permitidas, mas é preciso ter bom senso.

“A hora da alimentação deve ser tranquila e agradável para todos. A família deve se reunir em volta da mesa e conversar sobre assuntos amenos. Esse não é o momento de saber como a criança se comportou na escola, por exemplo”, afirma Ancona.

Rotina

Também é importante respeitar os horários das refeições, mantendo uma regularidade, além de preservar os limites da criança. Assim, insistir repetidamente para que ela coma, ameaçar, chantagear ou mesmo oferecer recompensas em troca de mais uma ou duas colheradas são atitudes que os especialistas condenam. Melhor que isso é retirá-la da mesa e oferecer o mesmo prato mais tarde ou um outro tipo de lanche saudável.

“A criança tem um mecanismo de autoregulação muito preciso, quando ela não quer mais é porque, realmente, está satisfeita”, diz Priscila.

Por fim, o exemplo dos pais vai contar muito para que a criança coma alimentos mais saudáveis e se aventure por novos sabores. “A preferência do filho vai ser pautada sempre pelo tipo de alimento que foi introduzido em sua alimentação pelos pais”, afirma Fisberg.