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Colegas de república afetam desempenho de jovem na faculdade

Segundo estudos, quando você fica com um colega que bebe suas notas tendem a cair - Getty Images
Segundo estudos, quando você fica com um colega que bebe suas notas tendem a cair Imagem: Getty Images

Perri Klass*

The New York Times

05/03/2014 15h42

Quando um filho sai de casa para fazer faculdade em outra cidade, você se preocupa com a saúde dele em geral, o estado de espírito, uso de álcool e, enquanto paga as mensalidades, as conquistas acadêmicas.

Porém, quanto tempo você dedica a pensar no colega com quem ele vai dividir o quarto?

O relacionamento entre colegas de repúblicas universitárias foi foco de pesquisa nos últimos anos. Economistas e cientistas sociais empregaram duplas de alunos formados aleatoriamente para examinar "efeitos do colega" e as formas pelas quais o comportamento estudantil pode ser forjado pela sorte da escolha. Os estudos mostram que a designação do colega de quarto pode afetar todos os aspectos, do desempenho acadêmico ao ganho de peso do calouro.

Os hábitos em relação ao álcool também têm impacto. "No fim das contas, descobrimos que, quando você fica com um colega que bebe, suas notas tendem a cair", afirmou Dan Levy, professor titular de políticas públicas em Harvard e coautor de um estudo, de 2008, sobre universitários e álcool.

Quando a pesquisa foi publicada originalmente, alguns pais já se preocupavam com os perigos representados pelo "contágio social" no grupo de colegas. Contudo, pesquisa mais recente forneceu uma informação surpreendente –e, para os pais, tranquilizadora– a respeito da forma pela qual os alunos são afetados pela doença mental de um colega de quarto.

Em estudo publicado no ano passado, Daniel Eisenberg, professor adjunto de gestão de saúde da Universidade do Michigan, que dirige um levantamento anual sobre a saúde mental dos universitários, incluindo questões ligadas aos colegas de quarto, não encontrou nenhum efeito de "contágio" significativo de saúde mental de um colega para outro. A pesquisa também contou com a participação de outros cientistas.

"Problemas de saúde mental não parecem contagiosos, por assim dizer, em grande medida entre colegas de quarto. Por exemplo, ficar com um colega com sintomas de depressão não aumenta as chances de se ter um aumento de seus sintomas."

Outro estudo de 2013 constatou que as bebedeiras eram o único risco "contagiante" em termos de comportamento; os outros itens examinados pelos pesquisadores, tais como fumar, apostar em jogos de azar e sexo com vários parceiros, não foram afetados pelos hábitos do colega de quarto.

Entretanto, ainda que os problemas mentais não atravessem o quarto feito mononucleose ou gripe, muitos desafios –tanto as pequenas distrações quanto os grandes problemas morais– podem ser apresentados por um colega em dificuldades.

Imagine que você é um calouro universitário vivendo (graças ao gordo pagamento feito pelos pais) em um espaço relativamente pequeno com uma pessoa designada a você com o intuito de ampliar seus horizontes e a forjar fortes relações com os colegas ou qualquer coisa nesse sentido.

E você está começando a sentir que alguma coisa está errada com o colega. Ele parece ter parado de ir à aula ou de participar das atividades extracurriculares. O colega está perdendo muito peso e se exercitando fanaticamente. Parou de tomar os remédios que o mantinham nos trilhos na escola. Você pensa que o colega pode estar se mutilando. Chega a cogitar que ele seja suicida.

"Não queremos que os colegas de quarto sintam que têm de lidar com isso sozinhos", afirmou Greg Eells, diretor de orientação psicológica na Universidade Cornell. "O dormitório universitário não é uma ala psiquiátrica. Às vezes, a resposta adequada é ajuda profissional."

E os seus pais? Enquanto pediatra já atendi um ou outro telefonema sobre um colega de sala ou de quarto que anda fazendo algo estranho, problemático ou possivelmente perigoso, e meu papel, geralmente, tem sido o de dizer: "deixe o seu colega saber que você está preocupado, por que está preocupado e alerte o orientador dos residentes".

Às vezes os alunos simplesmente não querem se envolver na hierarquia universitária porque têm medo de encrencar um amigo e, além disso, a condução das questões de saúde mental tem sido criticada nos campi.

Um aluno que sente alguma conexão com os pais de um colega pode ficar mais à vontade para procurar sua ajuda – mais um motivo para conhecer e ser conhecido pelos colegas de república dos filhos, pelo menos um pouquinho.

Às vezes, o estudante fica com medo de enraivecer quem ocupa o beliche de cima. Janis Whitlock, pesquisadora da Cornell e coautora dos estudos de 2013, investiga automutilação não suicida. Como especialista de um site universitário de saúde mental, ela lida com a preocupação de que uma colega possa estar se mutilando, aconselhando a amiga a buscar ajuda.

"Em muitos casos, é uma amiga, uma colega de sala ou de quarto que foi a primeira a reparar e fez a escolha de contar a um adulto", ela contou. Os colegas costumam sentir raiva e ressentimento quando são flagrados, acrescentou a cientistas, "mas, em todos os casos, terminam se sentindo gratos no longo prazo".

A pesquisa de Eisenberg mostra que mais da metade dos universitários com sintomas importantes de depressão, sem falar em quem bebe para valer, não recebe ajuda. Trata-se de um papel potencial que colegas e amigos podem desempenhar.

A perspectiva íntima que um colega de quarto tem pode ser extremamente valiosa na detecção de problemas que deixam um estudante em perigo. Embora o colega não possa ser responsável pelo tratamento, Eells testemunhou essa ligação funcionar muito bem no sentido de ajudar os alunos em dificuldades.

"O colega de quarto passa a sensação de 'eu me preocupo com você'; essas conexões sociais podem salvar vidas. Os resultados podem ser mágicos."

* Perri Klass é médica pediatra.