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Pais liberais demais dão a filho mais responsabilidade do que ele pode ter

Deixar os filhos "soltos" demais pode torná-los carentes de uma figura que impõe limites - Getty Images
Deixar os filhos "soltos" demais pode torná-los carentes de uma figura que impõe limites Imagem: Getty Images

Ludmilla Ortiz Paiva

Do UOL, em São Paulo

07/03/2014 07h05

À primeira vista, deixar os filhos "soltos" demais pode até parecer um sinal de confiança forte dos pais. Mas liberdade em excesso pode tornar crianças e jovens carentes de uma figura que impõe limites.

Além disso, quando a liberdade é muito grande –principalmente no caso de crianças–, os pais acabam deixando para o filho a responsabilidade de tomar decisões que ele não tem maturidade para administrar. É o que diz o psiquiatra Içami Tiba, autor de diversos livros sobre educação, como "Quem Ama, Educa!" (Integrare Editora).

"Apesar de pensar que está ajudando o filho, os pais estão errando como educadores. Não se pode deixar a criança ou o adolescente fazer tudo que tiver vontade. São os adultos que vão arcar com as consequências dessa liberdade toda", declara Tiba. E, futuramente, os filhos também. 

"Os pais têm a ilusão de que proibir fará os filhos sofrerem. Só que, quanto menor a criança, menos conhecimento ela tem para avaliar as consequências dos seus atos”, afirma a professora Audrey Setton Lopes de Souza, do Instituto de Psicologia da USP (Universidade de São Paulo). Segundo a especialista, a liberalidade excessiva não ajuda e, sim, assusta a criança.

Para Leila Salomão de La Plata Cury Tardivo, também professora do Instituto de Psicologia da USP, é preciso observar as características culturais e comportamentais de cada família. Há núcleos familiares que são, naturalmente, mais liberais; outros, mais repressivos. Só que existem regras e situações sociais que transcendem os conceitos ideológicos de cada grupo.

“Muitas crianças não querem ir à escola, mas não se pode acatar esse tipo de pedido. Todas as crianças têm o direito de estudar, isso é protegido por lei. Existem outros valores mínimos necessários para a convivência em sociedade, que devem ser ponderados na hora de liberar ou não o filho a fazer algo”, fala a psicóloga Leila.

De acordo com Audrey de Souza, as regras devem começar a ser impostas quando a criança ainda é bebê. “A gente nasce com uma busca pelo prazer ilimitado. E são com regras básicas que aprendemos a lidar com o mundo”, diz.

Adolescência

Segundo os especialistas, a liberdade total, geralmente, leva o adolescente para dois caminhos: um é a carência, o sentimento de estar abandonado. O outro é a delinquência.

A professora Leila Tardivo conta que, certa vez, acompanhou o caso de uma adolescente que fingia estar sempre conversando com a mãe pelo telefone. “Ela fazia de conta que tinha uma mãe que a repreendia, como as amigas tinham. Ela precisava de um cuidado, e a mãe não ligava, deixava a garota fazer tudo. Enquanto as amigas achavam aquilo legal, a menina se sentia abandonada”, descreve a especialista.

Segundo a professora Audrey de Souza, o adolescente é transgressor por natureza e é preciso ir contra a essa tendência. “Para o jovem, é importante desafiar. A gente sabe que, uma hora ou outra, ele pode experimentar bebidas alcoólicas. É importante que haja um adulto que diga 'não'. Que dê bronca se ele beber. O desafio sem uma certa intervenção pode criar um delinquente, que só vai parar de cometer excessos quando for barrado pela justiça".