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Entenda os testes feitos com o recém-nascido, como o do pezinho

Os testes detectam distúrbios que podem prejudicar o desenvolvimento da criança - Getty Images
Os testes detectam distúrbios que podem prejudicar o desenvolvimento da criança Imagem: Getty Images

Luciana Mattiussi

Do UOL, em São Paulo

23/04/2014 08h05

A futura mãe quando chega à maternidade não pensa em outra coisa senão dar à luz uma criança perfeitamente saudável. Depois que o bebê nasce, a preocupação aumenta. Por isso, ela não deve abrir mão das triagens neonatais. Os testes realizados em recém-nascidos são de extrema importância para detectar possíveis distúrbios que, mais tarde, podem prejudicar o desenvolvimento da criança. Saiba quais exames podem ser realizados ainda na maternidade e, dentre eles, quais são obrigatórios por lei.

Teste do pezinho

Obrigatório por lei desde 1991 –e por isso realizado de forma gratuita no SUS (Sistema Único de Saúde) –, ele consiste na retirada de algumas gotas de sangue do calcanhar do bebê para que sejam analisadas em laboratório. Por meio dele, é possível detectar doenças metabólicas, hereditárias e infecciosas, que não se manifestam clinicamente no nascimento.

“Quando não se faz o exame, podemos deixar de realizar diagnósticos de patologias que podem levar a consequências graves,  entre elas a deficiência intelectual”, afirma Oscar Marsuoka, pediatra do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo.

Segundo o especialista, o teste deve ser feito “após 48 horas de vida e com a certeza de que a criança tenha realizado boa ingestão de leite materno”. “Isso é importante para que o resultado possa ser interpretado com segurança”, diz Marsuoka.

A versão obrigatória do teste do pezinho, realizada pelo SUS (Sistema Único de Saúde), diagnostica as seguintes doenças: hipotiroidísmo congênito, fenilcetonúria, anemia falciforme e fibrose cística. Nos hospitais privados, é possível fazer a ampliada, que abrange 46 doenças.

Teste da orelhinha

Também conhecido como Triagem Auditiva Neonatal, é realizado com um fone de ouvido, que emite sons de fraca intensidade, acoplado a um computador, que produz um gráfico com as respostas do bebê. Ao analisar esse gráfico, o médico descobre se o recém-nascido apresenta problemas como surdez e otite. Por lei federal, tornou-se obrigatório em 2010.

O teste deve ser feito até os seis meses de vida da criança, no máximo.

“Sua realização é muito importante, pois estudos indicam que um bebê que tenha um diagnóstico de deficiência feito precocemente pode, com o tratamento adequado, desenvolver a linguagem de forma muito próxima a de uma criança ouvinte”, afirma a pediatra Ana Gabriela dos Santos, da Santa Casa de São Paulo e da Clínica Vivid, também na capital paulista.

Teste do olhinho

Ainda não existe uma lei que determine a realização dele em todo o território nacional –apenas em algumas cidades e estados como São Paulo–, mas não é por isso que o exame do olhinho é menos importante do que outras triagens neonatais.

“O teste do olhinho é um exame que deve ser realizado rotineiramente em bebês no começo de vida e que pode detectar e prevenir diversas patologias oculares (como glaucoma congênito e catarata), assim como o agravamento dessas alterações, como uma cegueira irreversível”, declara o oftalmologista Renato Neves, formado pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e com pós-doutorado pela Harvard Medical School, nos Estados Unidos.

O teste consiste na identificação de um reflexo vermelho, que aparece quando um feixe de luz ilumina o olho do bebê. O fenômeno é semelhante ao observado nas fotografias. Para que esse reflexo possa ser visto, é necessário que o eixo óptico esteja livre, sem nenhum obstáculo à entrada e à saída de luz pela pupila, o que significa que a visão da criança é normal.

“Trata-se de um exame indolor. Ele pode ser realizado em qualquer momento após o nascimento, mas até antes da alta hospitalar”, diz Matsuoka, do Einstein.

Teste da linguinha

Um projeto de lei que exige a realização do teste da linguinha por profissionais de saúde em todas as maternidades do país já passou na Câmara e está no Senado.

O exame tem como objetivo detectar uma alteração na membrana que conecta a língua, o frênulo, ao assoalho da boca. Quando a língua presa é diagnosticada, um corte simples da membrana resolve o problema. O projeto de lei para tornar o teste da linguinha obrigatório não prevê a exigência de realização desse corte, mas o procedimento já é feito no SUS.

Segundo a Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia, o teste é relevante porque é comum o atendimento de crianças mais velhas com problemas de fala por falta de diagnóstico quando eram bebês. Ainda de acordo com a entidade, a língua presa pode dificultar a amamentação.

“A mãe acaba achando que seu leite é fraco e começa a complementar com outro leite, o que leva ao desmame precoce. Posteriormente, as limitações dos movimentos da língua  podem alterar a fala, comprometendo o desenvolvimento social e profissional dos portadores de língua presa”, diz a fonoaudióloga Roberta Martinelli, criadora do exame.

A técnica desenvolvida por Roberta consiste em examinar com os dedos o movimento da língua e a posição do frênulo. Em seguida, observa-se e grava-se a criança sendo amamentada, para análise de detalhes.

A exigência do teste da linguinha enfrenta oposição da Sociedade de Pediatria de São Paulo, que considera desnecessária a avaliação, pois, segundo a entidade, ela já é feita rotineiramente por pediatras nas maternidades.

Teste do coraçãozinho

Segundo balanço do Ministério da Saúde, a cada mil recém-nascidos, aproximadamente, dois apresentam problemas cardíacos, que seriam facilmente diagnosticados pelo teste do coraçãozinho ou oximetria de pulso.

Mesmo assim, ele é obrigatório apenas em alguns estados, como Mato Grosso do Sul, que é pioneiro na exigência da avaliação.

Durante o exame, um sensor é aplicado na pele do bebê para aferir a oxigenação dos membros superiores e inferiores.

“Se registramos uma medida de oximetria menor do que 95% em qualquer membro ou uma diferença de três pontos percentuais entre os membros superiores e os inferiores devemos suspeitar de uma cardiopatia crítica”, afirma Gustavo Foronda, cardiologista infantil do Einstein. O bebê deve passar pelo teste entre 24h e 48h após seu nascimento.

De acordo com a SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria), de 30% a 40% das crianças que têm problemas cardíacos graves recebem alta das maternidades sem diagnóstico.