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Adolescente precisa ser motivado para escapar da "geração nem-nem"

IBGE: um em cada cinco jovens entre 15 e 29 anos não estuda nem trabalha - Getty Images
IBGE: um em cada cinco jovens entre 15 e 29 anos não estuda nem trabalha Imagem: Getty Images

Fernanda Carpegiani

Do UOL, em São Paulo

19/09/2014 08h05

Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), um em cada cinco jovens entre 15 e 29 anos não estuda nem trabalha, formando a chamada "geração nem-nem". Os dados são da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) de 2012. Até chegar a esse ponto, muitos adolescentes dão sinais de desmotivação, que, muitas vezes, passam despercebidos para os adultos ao redor.

São 9,6 milhões de "nem-nem" ou "nenéns", como brinca a psicóloga Susana Orio, orientadora educacional do Colégio Madre Alix, de São Paulo, que avalia esse comportamento como prejudicial não só para os jovens. "Essa parcela da população é responsável pela diminuição de mão de obra e do nível de escolaridade no país, por isso escola, pais e Estado precisam trabalhar juntos. A sociedade não acolhe o jovem e não dá estímulo para que ele procure emprego e alcance uma vida melhor, uma vez que as exigências do mercado de trabalho são enormes. Já a escola não favorece o surgimento do desejo de saber e não tem o cuidado de ouvir e motivar os alunos", afirma Susana.

O tema é tão atual que em duas novelas da Globo, "Geração Brasil" e "Império", há personagens representantes da categoria. Na novela das 19h, Lara (Elisa Pinheiro) é mãe de uma criança e depende da família para se sustentar. Por causa de sua condição, ela até se inscreve para participar de um reality show voltado para ajudar integrantes da "geração nem-nem".

Já na novela das 21h, a expressão não aparece, mas o personagem João Lucas (Daniel Rocha), filho do comendador João Alfredo (Alexandre Nero), é um exemplo típico e vive em conflito com o pai, que cobra que ele tome um rumo na vida.

De acordo com a pesquisa do IBGE, boa parte dos jovens que "não fazem nada" é composta por mulheres de classe social baixa que têm filhos. Uma das explicações seria que elas abandonam estudos e emprego para cuidar das crianças.

Mas a classe média também é atingida por esse fenômeno. "O que acontece nesse caso é que os pais não dão disciplina e não cobram tarefas simples, como fazer comida, arrumar a cama e lavar a louça. O resultado é que os filhos estão pouco acostumados a fazer esforço. Não vão atrás de emprego e estudo porque acham que não precisam", diz o professor Gilberto Alvarez Giusepone Jr., diretor do Cursinho da Poli, em São Paulo, instituição sem fins lucrativos que trabalha a educação como inclusão social.

Independentemente de qual for o caso, os "nem-nem" costumam ter baixa autoestima e precisam de ajuda para sair da inércia. "É muito triste ouvir um menino de 17 anos dizer que não vai prestar Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) ou Fuvest (vestibular para ingressar na USP) porque sabe que não vai passar. São muitos que estão desmotivados e despreparados, porque não recebem estímulo nem em casa nem na escola. Eles entram na zona de conforto do 'não sou capaz' porque ninguém acreditou neles", diz a psicopedagoga Alessandra Venturi, que é orientadora educacional do Cursinho da Poli e ministra workshops em diversas escolas em São Paulo.

Como lidar com um filho "nem-nem"

Orientação e estímulo desde a infância. Esses são os principais ingredientes para tirar o jovem da estagnação profissional e escolar, segundo os especialistas. "A criança tem de ter contato com livros desde os primeiros anos de vida, e os pais precisam sempre tomar cuidado com falas negativas relacionadas à leitura, ao trabalho e ao estudo, como 'não aguento mais trabalhar' ou 'dinheiro é um problema'", afirma a psicopedagoga Alessandra.

Os adultos também devem ajudar o filho a descobrir seus interesses, habilidades e desejos. "O desejo não tem a ver com obrigação, por isso é necessário saber quais são os interesses dele, aguçar a curiosidade em aprofundar o conhecimento", afirma Susana. Converse sobre tudo com seu filho, pergunte o que ele mais gosta de fazer e proporcione alternativas de lazer e de cultura.

Palavras de incentivo são sempre bem-vindas. Acredite no seu filho e mostre que tentar, arriscar e até fracassar fazem parte do processo. "A capacidade de sonhar e de se imaginar em uma perspectiva depende de coragem, audácia, de suportar frustrações e de esforço para recomeçar", diz a terapeuta familiar Edith Rubinstein, coordenadora do Centro de Estudos Seminários de Psicopedagogia, em São Paulo.

Outra atitude importante é favorecer a autonomia, delegando tarefas da casa e deixando que a criança assuma responsabilidades de uma maneira tranquila e gradual. "Há sociedades que incentivam jovens a realizar tarefas remuneradas em períodos de férias escolares. As vivências relacionadas ao trabalho podem ser úteis na construção da necessidade de produzir algo que contribua para si e para o outro", declara Edith.

A escola pode e deve ser uma aliada dos pais nesse sentido. Uma boa parceria com coordenadores e professores deixa os pais a par do desempenho escolar e do processo de aprendizado. "É preciso que os adultos saibam o que o filho está aprendendo, quais são suas dificuldades e o ajudem a pesquisar, a resolver problemas e a conversar com os professores", fala a psicóloga Susana Orio.