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ANS firma parceria com hospital para buscar redução de cesáreas

A gestante terá acompanhamento médico para saber qual é o melhor parto para ela - Getty Images
A gestante terá acompanhamento médico para saber qual é o melhor parto para ela Imagem: Getty Images

Priscila Tieppo

Do UOL, em São Paulo

30/10/2014 07h05

Com o intuito de controlar as altas taxas de cesáreas que ocorrem em hospitais particulares e oferecer à paciente o que chamam de “parto adequado”, a ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar), que regula os convênios particulares, fechou uma parceria com o Hospital Albert Einstein, em São Paulo.

O objetivo da campanha é treinar médicos para que façam um diagnóstico mais amplo da paciente para decidir se o caso dela é de parto cesáreo ou vaginal.

“A meta principal não é simplesmente reduzir as taxas de cesárea, é promover o parto mais adequado para aquela gestante, o que consequentemente vai diminuir as cesarianas. Mas quando for diagnostica essa necessidade (da cirurgia), deve ser feita”, afirma Miguel Cendoroglo, médico e superintendente do Hospital Israelita Albert Einstein.

O médico explica que o hospital irá adotar medidas como ter o cartão da gestante, que conterá as informações clínicas da paciente, e seguir com o partograma (que já faz parte da rotina do hospital), documento que acompanha a evolução da gravidez e do bebê.  O Albert Einstein servirá de incubadora do projeto da ANS, que deve ser expandido para outros hospitais particulares.

Atualmente, a taxa de cesáreas em redes privadas é de 80% a 90%, considerada bastante alta pela OMS (Organização Mundial de Saúde), que recomenda que seja de 15%. No Einstein, esse número é de 75%. Já no SUS (Sistema Único de Saúde) fica em torno de 45%.

Entre os pontos a serem debatidos pela ANS está a divulgação dos dados das cesáreas, tanto pelos hospitais quanto pelos médicos, mas Cendoroglo diz não acreditar que essa seja a melhor forma de tratar o assunto.

“Quando você torna essa divulgação de dados uma obrigação, pode acabar gerando resistência. Antes de tudo, é preciso que as boas práticas médicas se tornem rotina. Com os treinamentos tenho certeza de que teremos bons resultados.”

O médico ressalta também que altas taxas de cesáreas podem ser interpretadas erroneamente pelos pacientes. “Um médico pode ter mais cesáreas porque tratou de pacientes com quadros clínicos que não favoreciam um parto vaginal e isso não deve significar que ele é um médico ruim, por exemplo”, disse.

A parceria, que também conta com o Ministério da Saúde e o IHI (Institute for Healthcare Improvement), hospital que faz trabalho semelhante nos Estados Unidos, é de dois anos.

Dados de cesáreas

A ANS abriu uma consulta pública para que mulheres, gestantes ou não, possam dizer o que pensam sobre a divulgação de dados de cesáreas por estabelecimentos de saúde e também por médicos –uma das medidas pedidas pelo Ministério Público Federal em ação ajuizada em 2010.

O ministério emitiu a notificação ao constatar que o número de cesáreas em clínicas e hospitais privados no Brasil é muito maior do que na rede pública. Em agosto, foi realizada uma audiência na Justiça na qual a ANS se comprometeu a apresentar medidas. O compromisso foi cumprido neste mês de outubro.

Segundo o ministro da Saúde, Arthur Chioro, a divulgação dos dados das taxas por hospitais e médicos pode ajudar a gestante. "No setor privado, o percentual que temos de cesarianas é o que deveríamos ter de partos normais. Respeitar a mulher é, acima de tudo, disponibilizar a ela todas as informações sobre o parto normal e fazer com que o parto cirúrgico seja adotado apenas quando indicado."

O envio das contribuições acontece até 23 de novembro e deverá ser feito exclusivamente em formulário disponível no portal da ANS. A expectativa é que as normas entrem em vigor em dezembro.