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Para fazer dieta, criança precisa de apoio e exemplo da família

Filipe Cavalcante, ator de "Chiquititas" do SBT, emagreceu 22 quilos em cinco meses  - Divulgação
Filipe Cavalcante, ator de "Chiquititas" do SBT, emagreceu 22 quilos em cinco meses Imagem: Divulgação

Rita Trevisan e Suzel Tunes

Do UOL, em São Paulo

02/11/2014 07h15

Desde julho, o ator Filipe Cavalcante, 14 anos, o Rafa da novela “Chiquititas” (SBT), está passando por um processo de reeducação alimentar. Com 1,79 m de altura, o garoto iniciou o acompanhamento nutricional pesando 109 quilos. E, após cinco meses e meio de tratamento, emagreceu 22 quilos. A mudança de hábitos conta com o apoio fundamental da mãe, Cláudia Cavalcante, que, para garantir que o garoto se alimente bem, leva as refeições dele até mesmo para o estúdio de gravação da novela.

“No atendimento à criança obesa, não basta dizer que tem de fazer dieta. É necessária uma mudança geral de hábitos”, declara a endocrinologista pediátrica Carmen Assumpção, especialista do Iede (Instituto Estadual de Diabetes e Endocrinologia Luiz Capriglione), do Rio de Janeiro.

No Instituto, Carmen coordena o Ambulatório de Endocrinologia Pediátrica, que oferece um programa de internação aos casos de obesidade mais graves ou que não apresentam bons resultados no tratamento ambulatorial. O programa funciona durante o período de férias e atende crianças entre 11 e 14 anos, que ficam internadas pelo período de uma a duas semanas. O serviço é público e já existe lista de espera para 2015.

“A internação não é apenas para a criança, um responsável deve acompanhá-la, pois a família toda recebe tratamento. A experiência tem mostrado que o sucesso depende mais da família do que da criança”, afirma a médica.

A oportunidade para Filipe emagrecer surgiu na ficção quando seu personagem ultrapassou todos os limites comendo um cupcake gigante. Na história, Rafa foi levado ao consultório da nutróloga Liliane Oppermann e descobriu que seus exames apresentavam vários índices preocupantes, como altos níveis de colesterol e triglicérides.

Liliane é médica de verdade, especialista pela Abran (Associação Brasileira de Nutrologia). Convidada pelo SBT a participar da novela, no final da gravação, aproximou-se do ator e perguntou: “Você quer emagrecer de verdade?”.

A emissora não apenas permitiu como mudou os rumos da trama para atender ao desejo do ator, que sonhava em perder peso. “Para o Filipe, essa mudança no personagem foi um verdadeiro presente. Ele queria muito emagrecer e apenas adiantou seus planos futuros”, afirma a mãe do ator.

Liliane diz que não encontrou muitas dificuldades no tratamento do garoto de 14 anos. “Antes de tirar os maus hábitos, introduzo os bons. Mas o Filipe já era um menino que comia de tudo”, diz a nutróloga.

“Ele sempre gostou de hortaliças e nunca foi fã de doces e refrigerantes. O problema era apenas a quantidade de alimento que ele consumia”, diz Claudia. Agora, Filipe consome as porções ideais para o gasto calórico que tem. Além disso, o ator conseguiu incluir na agenda, entre as gravações e as aulas do primeiro ano do ensino médio, dois treinos semanais de muay thai.

Influência do ambiente

Segundo o pediatra e nutrólogo Mauro Fisberg, coordenador do Centro de Dificuldades Alimentares do Hospital Infantil Sabará, em São Paulo, a obesidade é uma doença multifatorial. Os pesquisadores admitem uma tendência genética, mas há grande influência do ambiente, destacando-se “um aumento gigantesco do sedentarismo”.

Para fazer essa afirmação, o médico baseia-se nos últimos dados da Pense (Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar), divulgada em 2013 pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). De acordo com a pesquisa, apenas 30,1% dos escolares foram considerados ativos, ou seja, praticaram 300 minutos ou mais de atividade física por semana. A maioria dos adolescentes (69,9%) foi classificada como insuficientemente ativa ou inativa.

A seguir os especialistas ouvidos por UOL Gravidez e Filhos dão dez orientações para os pais que querem apoiar seus filhos a perderem peso:

1 - Estabeleça uma rotina

Um dos cuidados mais importantes é tentar fazer, pelo menos, uma refeição em família, diariamente. Um estudo realizado, em 2010, pela Universidade do Estado de Ohio, nos Estados Unidos, relacionou três rotinas domésticas –fazer uma refeição regularmente com a família, ter um sono adequado e limitar o tempo diante da tela de TV, computador ou videogames– com a obesidade em idade pré-escolar.

2 - Elimine distrações

Desligue TV, celular e outros aparelhos eletrônicos e oriente as crianças pequenas a irem ao banheiro antes da refeição.

3 - Oriente a criança a mastigar bem os alimentos

Comece ensinando-a a repousar os talheres junto ao prato entre uma garfada e outra. Quem mastiga pouco sente menos o sabor do alimento e engole mais rápido.

Segundo a endocrinologista Carmen, como são necessários cerca de 20 minutos para a informação de saciedade chegar ao cérebro, terminar uma refeição em menos tempo pode significar comer mais do que o suficiente.

“No ambulatório, observamos que as crianças não mastigam direito. Elas engolem o alimento, com uma garfada atrás da outra, enquanto olham para a TV, o celular ou o tablet”, diz a especialista.

4 - Não permita que a criança pule o café da manhã

Se necessário, acorde-a mais cedo para que ela tenha tempo de se alimentar corretamente. “Quando a criança sai de casa sem o café da manhã, além de ter queda no rendimento escolar, chegará à hora do lanche morrendo de fome. E, sempre que possível, mande o lanche de casa”, diz Liliane.

5 - Opte por refeições caseiras

Evite os pratos prontos. Substitua refrigerantes por sucos de frutas e os doces industrializados por versões caseiras e, sobretudo, por frutas.

“Evite ter doces e biscoitos no armário, mesmo que na sua casa haja outras crianças que não precisam emagrecer. É bom lembrar que crianças magras também podem se tornar adultos obesos, e que os bons hábitos valem para toda a família”, diz Liliane.

6 - Ensine seu filho a escolher

Leve a criança ao supermercado e à feira e a ensine a fazer opções saudáveis, começando no momento da compra. Você pode colocar alguma guloseima de que seu filho goste no carrinho, mas jamais use o “junk food” como prêmio por bom comportamento e, muito menos, como maneira de se livrar da birra infantil. Aprenda a falar e a manter o “não”.

7 - Inclua as crianças no preparo dos alimentos

Organizar e preparar o cardápio com a criançada pode ser uma experiência tão educativa quanto divertida.

8 - Dê exemplo

Quer que seus filhos comam frutas e verduras? Então, coma frutas e verduras. E evite fazer comentários negativos sobre os alimentos dos quais você não gosta. Afinal, as crianças aprendem muito pelo exemplo.

9 - Sirva pequenas porções

Para emagrecer, o ideal é comer porções menores e se alimentar em intervalos mais curtos, de cerca de três horas.

10 - Diversifique o cardápio

Diante da resistência a alimentos como hortaliças, legumes e frutas, teste novas maneiras de preparo ou outras variedades que possam agradar o paladar da criança.

Não brigue nem se desespere, a insistência pode criar um ambiente hostil às refeições. Em vez disso, procure demonstrar a importância de se incluir, pelo menos, um legume, uma verdura e uma fruta por dia no menu infantil e vá, aos poucos, ajudando-o a ampliar o cardápio.