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Dar ou não chupeta ao bebê? Não há consenso entre os médicos

Um dos riscos potenciais da chupeta é fazer o bebê desistir de mamar no peito - Getty Images
Um dos riscos potenciais da chupeta é fazer o bebê desistir de mamar no peito Imagem: Getty Images

Ana Castro

Do UOL, em São Paulo

28/01/2015 07h52

Há poucas décadas, dar chupeta para o bebê era um hábito tão comum que não provocava uma reflexão nos pais sobre optar ou não por usá-la. Hoje, a decisão é mais conflituosa, principalmente por não haver um consenso entre os pediatras sobre o uso do bico artificial. Apesar disso, médicos concordam que os pais precisam estar cientes de que o acessório provoca impactos negativos, se o uso não for moderado.

Um dos principais problemas que o bico artificial –chupeta ou mamadeira– pode causar é o desmame precoce. "Bebês que usam chupeta deixam de mamar no peito com maior frequência do que aqueles que não usam", diz a odontopediatra Andréia Stankiewicz.

Segundo ela, o problema ocorre por causa de algo chamado de “confusão de bicos”. “A musculatura da boca é trabalhada de forma completamente diferente durante a sucção do peito e da chupeta. Ao usar o bico artificial, a criança perde a tonicidade e altera a postura dos lábios e da língua, o que faz com que não consiga manter a pega correta do seio, podendo machucar a mãe".

Habituar-se a bicos artificiais faz com que a criança peça menos o seio, o que leva a diminuição da produção de leite. Por causa dessa dificuldade, a OMS (Organização Mundial de Saúde), o Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância), o Ministério da Saúde e a SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria) não recomendam o uso de bicos artificiais no período da amamentação.

A odontopediatra ainda lista outros malefícios da chupeta como alteração do padrão respiratório, do desenvolvimento dos dentes, dos músculos da boca, da face e problemas de fala.

Assim como há pais que optam por usar a chupeta e outros preferem evitar, há especialistas com opiniões diferentes. O pediatra Sylvio Renan Monteiro de Barros, autor do livro “Seu Bebê em Perguntas e Respostas -- Do Nascimento aos 12 Meses” (MG Editores), sempre foi a favor de sua utilização.

“As crianças nascem com um reflexo de sucção muito forte e, às vezes, ficam desesperadas. Então, nos primeiros meses de vida, se a criança chorar, a mãe deve colocá-a no peito. Se ela não mamar e continuar chorando, pode dar a chupeta, que ajuda a acalmar”, afirma Barros.

Os principais problemas que a chupeta provoca podem ser prevenidos com o uso moderado do acessório e se ela for tirada antes dos dois anos de idade, segundo o pediatra. “Muitas crianças com um ano largam a chupeta naturalmente. A questão é que, às vezes, a mãe é muito ansiosa e acaba dando por mais tempo do que o necessário", explica o médico.

O bom senso dos pais é crucial na hora de medir se a criança está ou não abusando da chupeta. Para a odontopediatra Andréia Stankiewicz, muitos pais se acostumam com esse recurso para acalmar a criança e, depois, encontram dificuldade de controlar seu uso.

A pediatra Marisa Aprile, presidente do Departamento de Aleitamento Materno, da SBP de São Paulo, diz que o uso de bico artificial deve ser feito apenas em casos de estresse, por uma questão da humanização do atendimento para crianças que estão internadas em UTI neonatal ou precisam realizar um exame complicado.

“Quando a criança está sozinha na incubadora ou vai tirar sangue, por exemplo, oferece-se o bico apenas para que ela se acalme naquele momento. Mas, logo depois, ele deve ser retirado para que ela não tenha deformidades".

Marisa afirma que a chupeta faz com que os músculos da face e da língua fiquem fracos. "A língua de quem usa chupeta é flácida, o que acarreta dificuldades para respirar, falar e comer".

De acordo com a especialista, a criança não quer a chupeta, ela quer ter a sua necessidade atendida. "Ao dar a chupeta, você a acalma, mas não resolve o problema. Às vezes, os pais perdem uma chance de conhecer melhor o filho e atender a real necessidade do choro".