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Problema de crescimento precisa ser tratado antes da puberdade

Um cálculo feito a partir das alturas do pai e da mãe dá a estatura-alvo da criança - Getty Images
Um cálculo feito a partir das alturas do pai e da mãe dá a estatura-alvo da criança Imagem: Getty Images

Daniela Venerando

Do UOL, em São Paulo

24/02/2015 08h56

“Doutor, estou preocupada com a altura do meu filho.” A frase é uma das queixas mais comuns nos consultórios pediátricos. Muitas vezes, a insatisfação é manifestada tarde demais, quando a criança atingiu a puberdade, fase em que os hormônios sexuais passam a atuar sobre as cartilagens de crescimento (localizadas nos ossos), calcificando-as e barrando o crescimento.

“A idade adequada para tratar algum problema ocorre entre sete e dez anos. Em algumas situações, há necessidade de se iniciar o tratamento mais cedo, a exemplo dos bebês que nasceram prematuros e não recuperaram o peso até os dois anos”, afirma o médico Durval Damiani, chefe da endocrinologia do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas de São Paulo.

Quando ainda há tempo, a primeira iniciativa é procurar o pediatra, que irá checar a curva de crescimento da criança, um gráfico que determina se ela tem estatura normal ou abaixo da média da população.

“É preciso analisar a velocidade de crescimento, fator mais importante do que a própria estatura atual da criança. Geralmente, é um problema quando o crescimento (a partir dos cinco anos) atinge menos de quatro centímetros ao ano”, diz a endocrinologista Léa Lederer Diamant, médica da clínica de especialidades pediátricas do Hospital Albert Einstein, também na capital paulista.

Além disso, tem de se levar em conta o padrão familiar. Para tanto, o pediatra irá fazer uma conta para chegar à estatura-alvo dos pais (cálculo feito a partir da soma das alturas do pai e da mãe. No caso de menino, é preciso acrescentar 13 ao resultado e dividir por dois, e, se for menina, do total subtrair 13 e dividir por dois).

Se o valor estiver “fora” do que é esperado em função das alturas paterna e materna (considerando-se uma margem de erro de oito centímetros para mais ou para menos), os motivos têm de ser investigados, mesmo que a curva esteja em uma velocidade adequada. A partir daí, o caso deve ser encaminhado para um endocrinologista pediátrico, médico especialista em problemas de crescimento.  

Outro fator importante para o diagnóstico é o exame de raios x do punho, que estipula a idade óssea da criança. Com esse dado em mãos, o especialista conseguirá saber quanto ela ainda pode crescer ao comparar a idade cronológica com a óssea. Se a criança tem sete anos, mas tem idade óssea de cinco, trata-se de uma boa notícia, pois significa que ela tem potencial para crescer futuramente.

Investigação detalhada

Detectado algum problema na velocidade de crescimento, na estatura-alvo ou no raio X  de punho, o endocrinologista irá analisar a causa do problema. Entre as mais comuns estão anemia, alimentação inadequada, infecções de repetição (otite, sinusite, pneumonia, urinária), doença celíaca (intolerância ao glúten), problemas na tireoide, nos rins ou no fígado e excesso de cortisol no organismo, causado, muitas vezes, pelo uso frequente de medicamentos à base de corticoide. Em cada situação será aplicado um tratamento específico.

As causas mais raras são a síndrome de Turner e o déficit de hormônio de crescimento, o chamado GH. A primeira acomete apenas meninas e se caracteriza pela falta de um cromossomo “x”. Nesses dois casos, o tratamento é feito com injeções diárias do hormônio e são custeadas pelo governo.

Se não tratada, a criança com deficiência de GH, por exemplo, vai apresentar nanismo, ou seja, terá menos de 1,50 metro de altura (homens) e 1,40 metro de altura (mulheres).

Genética é preponderante

“Entre os motivos de baixa estatura, cerca de 70% dos casos acontecem em função de características genéticas, fator preponderante na determinação da altura da criança. O que significa que não há nenhum problema de saúde”, declara o médico Paulo Solberg, membro do Departamento Científico de Endocrinologia da SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria).

No entanto, pais preocupados com a autoestima do filho procuram o tratamento de injeções de hormônio com o objetivo de aumentar a estatura em alguns centímetros. Nesses casos, Solberg alerta que a família precisa entender as expectativas de crescimento e não alimentar falsas esperanças.

“Dependendo da indicação, há uma resposta diferente no tratamento. Quando a questão é deficiência de GH, o ganho é excelente, a criança pode crescer 20 centímetros. Já as saudáveis com baixa estatura familiar vão ganhar entre quatro e seis centímetros. Vale a pena? A família deve avaliar”, diz o médico.

Solberg conta que já atendeu pais cujos filhos iriam atingir 1,78 metro e que, mesmo assim, queriam fazer o tratamento só pela vaidade de ultrapassar 1,80 metro de altura. Ele recusou porque o potencial de altura estava bem acima da média nacional, que é de 1,72 metro, segundo pesquisa do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) de 2008/2009.

Outro ponto a ser avaliado é o alto custo do tratamento, que pode variar entre R$ 500 e R$ 2.000 mensais por um longo período (até chegar à puberdade). Segundo os especialistas ouvidos nesta reportagem, o procedimento é seguro e apresenta poucos efeitos colaterais, como inchaço nas mãos e nos pés, e, em casos raros, edemas cerebrais.