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Beleza não é tudo: como e por que ensinar isso aos filhos

Elogiar quem foge do padrão tradicional mostra à criança que há vários tipos de beleza - Getty Images
Elogiar quem foge do padrão tradicional mostra à criança que há vários tipos de beleza Imagem: Getty Images

Fernanda Carpegiani

DO UOL, em São Paulo

15/03/2015 08h05

Em um mundo repleto de padrões de beleza (o galã da novela, a modelo da capa da revista, a heroína do filme infantil), torna-se desafiador, e necessário, que os pais não reforcem na infância um modelo engessado do que é ser bonito.

"Se nem mesmo em casa uma criança pode ser quem ela é, ser elogiada por seus cabelos crespos ou não passar constrangimentos por estar acima do peso esperado, o mundo se torna um lugar ainda mais opressor. Isso dificulta qualquer processo de auto-reconhecimento e auto-valorização", afirma a antropóloga Michele Escoura, pesquisadora da USP (Universidade de São Paulo) e da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).

Exemplo dos pais

Para a antropóloga, o importante é mostrar, no dia a dia e com atitudes simples, que há muitas formas de beleza possíveis. "Os pais podem intervir quando ouvirem seus filhos julgando alguém pela aparência, elogiar outras crianças ou adultos que fogem dos padrões tradicionais e, principalmente, evitar qualquer tipo de reprodução de estereótipos dentro de casa."

Em paralelo, também é positivo reconhecer e valorizar outras características além das visuais, para mostrar que a aparência não é e nem precisa ser a principal qualidade de alguém.

Essas referências ajudam a criança a construir sua visão sobre a importância da imagem e têm um efeito protetor contra os estereótipos. "Quanto mais a criança se sente segura e amada pelos pais pelo que é, mais imune estará em relação a se submeter aos padrões externos impostos pela mídia ou pela sociedade", diz a psicóloga Ana Maria Trape Trinca, professora da PUC (Pontifícia Universidade Católica) de São Paulo.

Na adolescência

Trabalhar esse assunto na infância também pode amenizar questões relacionadas à aparência que, fatalmente, vão surgir em diferentes fases da vida. A engenheira de alimentos da Unicamp Jane Palermo constatou isso em uma pesquisa com 127 meninas, de 14 a 18 anos.

"Muitas disseram que mudariam alguma característica física, como cabelo, nariz, altura e até o pé, enquanto outras se sentiam bem e se consideravam bastante aceitas. Essas últimas costumavam ter o apoio da família", fala Jane.

Mesmo que tenha crescido em um ambiente livre de padrões de beleza, o adolescente tende a ter problemas para se aceitar em uma fase tão marcada por mudanças físicas e mentais.

"Naturalmente, os adolescentes se movimentam para ter um jeito próprio, diferente da família, e buscam isso nos amigos, mas podem surgir comentários maldosos e comparações", diz a psicopedagoga Ana Cássia Maturano, de São Paulo.

Se o jovem tiver um espaço para diálogo em casa e o assunto for tratado com naturalidade, a tendência é que essa passagem seja mais tranquila. "Os pais devem conversar, minimizar as críticas e valorizar as diferenças de cada um. Quando o filho tem certeza de que é querido e amado do jeito que é, não é a critica do amigo que vai derrubar tudo isso", declara.

Para ler com as crianças

Livros podem ajudar os adultos a conversarem sobre padrões de beleza e aparência com as crianças de forma mais leve. Veja sugestões da antropóloga Michele Escoura:

- “As Tranças de Bintou”, de Sylviane Anna Diouf (Cosac Naify);

- “Menina Bonita do Laço de Fita”, de Ana Maria Machado (Ática);

- “O mundo no Black Power de Tayó”, de Kiusam de Oliveira (editora Peirópolis);

- “Morango Sardento”, de Julianne Moore (Cosac Naify);

- “Laís, a Fofinha”, de Walcyr Carrasco (Ática);

- “Quando Tomé engordou”, de Silmara Rascalha Casadei (Just Editora);

- “Pois É, Lá Vou Eu”, de Edna Bueno (Editora Garamond).