Topo

Em gravidez gemelar, risco de parto prematuro é 24 vezes maior

Risco de prematuridade é, pelo menos, 24 vezes maior, mas cesárea não é obrigatória - Getty Images
Risco de prematuridade é, pelo menos, 24 vezes maior, mas cesárea não é obrigatória Imagem: Getty Images

Marina Oliveira e Amanda Sandoval

Do UOL, em São Paulo

27/05/2015 07h15

Segundo estudo conduzido pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e divulgado em outubro de 2014, uma mulher grávida de mais de um bebê tem 24 vezes mais risco de ter um parto prematuro do que as demais. Quando se trata da segunda gravidez, o índice aumenta para 29 vezes.

A matemática explica a relação. Quanto mais bebês, mais esforço o organismo da mulher terá de fazer para gerá-los.

“A prematuridade está fortemente relacionada com o peso dos bebês e a rápida distensão do útero da mãe”, afirma o ginecologista e obstetra Wagner Rodrigues Hernandez, médico do setor de gestações gemelares do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo). É esse crescimento acelerado do órgão que pode desencadear contrações e o trabalho de parto.

Da mesma forma, o aumento da pressão dentro do útero pode levar à ruptura da bolsa antes da 37ª semana (a gestação é considerada a termo a partir da 37ª semana completa).

Vídeo mostra dificuldade de uma mãe para trocar a fralda de gêmeos

Os bebês também correm o risco de crescerem menos do que o esperado e, quando há somente uma placenta, mas duas bolsas, podem sofrer da chamada síndrome de transfusão feto-fetal. “Nesse caso, um deles 'rouba’ grande parte do fluxo de sangue da placenta. Este feto cresce mais, mas pode ter seu coração sobrecarregado. O outro fica com a nutrição deficiente e, geralmente, cresce pouco”, afirma o ginecologista e obstetra Rogério Leão, médico da área de ginecologia do Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher da Unicamp e membro da equipe do IPGO (Instituto Paulista de Ginecologia e Obstetrícia). É uma situação perigosa e que, se não acompanhada e tratada, pode levar à morte das duas crianças.

Já a gestante, por ter de nutrir mais de um bebê, corre o risco de desenvolver anemia, sentir mais fadiga e sono. De acordo com Leão, a dosagem do hormônio Beta HCG --que prepara o útero para o crescimento do feto no início da gestação-- aumenta para quem espera gêmeos. Com isso, a mulher pode sentir mais enjoos.

"O desconforto abdominal e respiratório também é frequente, por conta do tamanho maior da barriga”, diz Leão. Alterações naturais do organismo ainda podem abrir as portas para a diabetes gestacional e para a pré-eclâmpsia --a hipertensão arterial que surge durante a gravidez.

Para evitar complicações

Com o acompanhamento médico constante, há grandes chances de se detectar problemas e fazer as intervenções necessárias a tempo. Por isso mesmo, em uma gravidez múltipla, a frequência de ultrassonografias deve ser maior.

Em uma gestação de baixo risco e de um único bebê, cerca de seis ultrassons são suficientes para um pré-natal adequado. “No caso de gemelares com duas placentas, recomenda-se exames mensais e, com uma única placenta, quinzenais. Isso sem contar as ultrassonografias morfológicas de primeiro e segundo trimestres”, afirma Hernandez.

Assim como ocorre com todas as mulheres, a mãe de gêmeos terá suplementar a alimentação, pois a gravidez exige um aporte maior de nutrientes. “Geralmente, indicamos a ingestão de dois comprimidos de polivitamínicos por dia, durante toda a gestação. Dependendo do caso poderá ser necessário suplementar outros itens, como cálcio”, declara o médico.

O repouso na gestação gemelar não é uma regra, mas é aconselhável, principalmente no terceiro trimestre. “O ideal é que se diminuam a jornada e a intensidade do trabalho e evite-se permanecer em pé por períodos longos. Caso haja algum indício de risco adicional de prematuridade, será preciso afastamento do trabalho até nova avaliação médica”, afirma o ginecologista e obstetra Eduardo Zlotnik, do Hospital Israelita Albert Einstein.

Cesárea ou parto normal?

Na gravidez de gêmeos, a recomendação do tipo de parto dependerá da posição dos fetos na barriga da mãe. Para um parto vaginal, é preciso que o primeiro bebê a nascer esteja de cabeça para baixo, segundo Wagner Rodrigues Hernandez.

“A posição do segundo não importa tanto, mas, sim, o peso dele. Caso ele seja em torno de 20% maior do que o primeiro, a cesárea, geralmente, é a melhor via”, diz Zlotnik.