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Dona de casa teve três gestações de gêmeos em dez anos

Débora da Silva Monteiro, 38, posa com os seis filhos, frutos de três gestações gemelares - Edson Lopes Junior/UOL
Débora da Silva Monteiro, 38, posa com os seis filhos, frutos de três gestações gemelares Imagem: Edson Lopes Junior/UOL

Janaina Nunes

Colaboração para o UOL

10/09/2015 07h15

Quando soube, aos cinco meses de gestação, que estava grávida de gêmeos, a hoje dona de casa Débora da Silva Monteiro, 38, ficou desnorteada. Chorou igual criança e não conseguiu ir ao trabalho –na época, era empregada doméstica. Entristeceu de repente. “Fiquei muito mal. Não sabia o que fazer. Perdi o chão. Achei que não era comigo. Só chorava”, conta. Não tire conclusões precipitadas: Débora ama crianças, tem uma vida simples, porém estável e não passou por nenhum trauma. A não ser que você considere um tanto traumático (ou impactante) engravidar pela terceira vez de gêmeos em uma década.

Não, você não leu errado! Débora, nos últimos dez anos, engravidou três vezes, sendo que todas as gestações foram de gêmeos bivitelinos (não idênticos). E o mais curioso, tudo de forma natural. Não é algo impossível, mas é bem raro. Débora foi casada duas vezes e ainda é mãe de Ruama, 17.

Miguel e Priscila, os frutos da última gestação gemelar da dona de casa, nasceram há quatro meses e meio e são bem saudáveis. Têm olhos curiosos, adoram um chamego e riem de qualquer coisa. A dupla ama, acima de tudo, ficar no colo de suas irmãs, as também gêmeas Ruth e Raquel, 10. Entretanto, se o assunto é bagunça, o negócio é se agarrar aos braços de seus outros dois irmãos, Cauã e Cauani, 8.

Agora, pense, quantas pessoas no mundo você conhece que tenha passado por uma situação semelhante? “Não conheço ninguém! Muito menos na minha família. Minha mãe teve nove filhos e chegou a engravidar de gêmeos, mas perdeu com três meses. Minha tataravó teve trigêmeos, mas foi no começo do século passado. Ela morava no Nordeste e as condições eram diferentes, bem mais difíceis, por isso as crianças morreram ainda novinhas. Tenho cinco irmãs e nenhuma engravidou de gêmeos. Fui abençoada”, fala Débora.

Hoje, ela está muito mais calma do que meses atrás. “Confesso que foi assustador. Acho que seria para qualquer mulher! Estava prevenida, tomava anticoncepcional regularmente. Fiquei oito anos sem engravidar.”

A primeira gestação de Débora não foi gelemar e ela deu à luz Ruama. Na foto, a dona de casa posa com seus sete filhos - Edson Lopes Junior - Edson Lopes Junior
De vermelho, Ruama, única filha da dona de casa que não nasceu de gestação gemelar
Imagem: Edson Lopes Junior

Na comunidade onde mora (na zonal sul de São Paulo), Débora é muito conhecida. Basta procurar “pela mulher que teve três barrigas de gêmeos”, que todos os vizinhos apontam sua casa. Parece até que a moça ganhou na loteria. “O médico que me atendeu na última gestação disse [ao pedir o ultrassom]: ‘se forem gêmeos novamente, você deve ir ao ‘Programa do Ratinho’ porque será um fenômeno’. Quando voltei com os exames, comentei: ‘acho que já posso ir ao Ratinho’. Ele ficou surpreso.”

Brincadeiras à parte, a metáfora da loteria cai muito bem para a dona de casa. De acordo com o professor Rui Alberto Ferriani, chefe do departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP-USP), Débora foi mesmo premiada.  “A cada 80 gestações, uma pode ser gemelar. Repetir isso três vezes, ainda mais sendo natural, é raríssimo. No entanto, uma mulher que já teve gêmeos bivitelinos tem mais chance de ter uma segunda gestação de gêmeos do que uma que nunca teve. Não há muita literatura que explique casos como esse, mas os fatores genéticos, idade e raça influenciam muito”, diz Ferriani, que nunca tratou de um caso semelhante.

O chefe de Obstetrícia e de Gestação Múltipla do Hospital das Clínicas, em São Paulo, Wagner Hernandez, já ouviu o relato de uma mulher que teria tido quatro gestações de gêmeos. “Ela me contou, mas não sei se era verdade. Não vi as crianças”, conta. Segundo ele, existem mulheres que têm mais probabilidade de engravidar de gêmeos, principalmente se já tiverem histórico familiar, como é o caso de Débora.

“Ela teve um par de gêmeos aos 38 anos. Mulheres com mais de 35 anos têm mais chances de uma gravidez gemelar porque o estímulo para ovular é maior. O organismo acaba produzido em maior quantidade o FSH (hormônio folículo estimulante, que acentua a ovulação). Assim, mais de um óvulo pode ser liberado em um ciclo. Se ela já tem predisposição, as chances de ter gêmeos são maiores ainda”, explica Hernandez.

Há outros fatores, como já foi dito, a questão racial --negros e caucasianos têm mais chances de terem gêmeos do que pessoas de origem oriental --, altura e peso também contam. “Existe uma tribo na África em que, a cada 50 gestações, uma é de gêmeos. Mulheres mais altas e com sobrepeso têm mais risco de ter uma gestação gemelar. Elas podem converter mais hormônios na gordura. Assim, produzem mais FSH”, fala Hernandez.

Débora se encaixa bem no perfil das possibilidades: tem casos na família, mede aproximadamente 1,68 m de altura, está acima do peso e vem de uma família miscigenada. Depois da terceira gestação gemelar, ela fez uma laqueadura (cirurgia de esterilização definitiva).