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Após parto normal no SUS, mulher cria vaquinha para parir em casa

Everton, Flora e Thais posam para divulgar a campanha de financiamento coletivo - Reprodução/Facebook
Everton, Flora e Thais posam para divulgar a campanha de financiamento coletivo Imagem: Reprodução/Facebook

Thamires Andrade

Do UOL, em São Paulo

29/09/2015 12h39

 

Após um parto normal em um hospital público paulistano, a pedagoga Thais Silva Rodrigues, 25, resolveu criar um financiamento coletivo para que pudesse dar à luz sua segunda filha, Luna, em casa. "Depois de tudo o que aconteceu no nascimento da minha primeira filha, começamos a nos informar sobre parto humanizado domiciliar e decidimos que nosso próximo filho viria ao mundo assim, pois eu e meu marido, Everton, acreditamos muito nessa nova forma de nascer", conta.

A decisão de parir longe do hospital veio pelas diversas intervenções que a pedagoga sofreu há um ano e seis meses no nascimento da primogênita, Flora. "Meu marido não participou do pré-parto, fiquei por duas horas sozinha lá dentro e as enfermeiras falavam que ele estava nervoso, o que acabou me deixando tensa também. Eles estouraram a minha bolsa e injetaram ocitocina sintética (hormônio) para acelerar o trabalho de parto", fala.

Além disso, segundo Thais, a enfermeira obstétrica aplicou a anestesia mesmo contra a vontade do casal. "Ela disse que tinha de dar para o caso de haver necessidade de uma episiotomia (corte entre a vagina e o ânus, que teria função de facilitar a passagem da criança), e nós sabemos que esse procedimento não é necessário", afirma.

"Só fui ver minha filha cinco horas depois do parto, ela não veio para mamar e descobri que os médicos a puxaram com tanta força que ela quebrou a clavícula ", diz Thais.

"Queria ter a Flora na casa de parto do hospital Sapopemba (na zona leste de São Paulo), que é referência em parto humanizado, mas como testei positivo para a bactéria Streptococcus B, eles precisaram me transferir para outra instituição, que foi onde tudo isso aconteceu."

De acordo com Sérgio Peixoto, presidente da Comissão Pré-Natal da Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia), 5% das mulheres são portadoras dessa bactéria, que pode ser transmitida para o bebê quando ele passa pelo canal vaginal. "A identificação desse microrganismo deve ser feita na 35ª semana de gestação e, caso o teste dê positivo, a mãe deverá receber tratamento com penicilina uma hora antes da cesárea ou durante todo o trabalho de parto normal", explica.

A administração do medicamento previne a contaminação da criança e diminui o risco que ela desenvolva uma brônquio pneumonia neonatal. "Geralmente, o recém-nascido nasce bem e a bactéria vai se multiplicando. Vinte e quatro horas depois do parto, acontece a manifestação clínica, que é a brônquio pneumonia, uma doença infecciosa que aumenta o risco de morte do bebê", diz Peixoto.

Orçamento e custo da "vaquinha"

Ao buscar informações para ter um parto domiciliar, Thais percebeu que essa forma de nascer ainda é muito cara e elitizada. "Só quem tem muito dinheiro pode pagar e consegue ter o parto em casa. Como nós não dispomos de recursos, resolvemos criar uma vaquinha para que os amigos e familiares pudessem nos ajudar. Já que queremos esse parto, temos de lutar por ele", afirma a pedagoga.

O orçamento do procedimento é de R$ 5.500. "Esse é apenas o valor do parto, fora o material (como gaze ou piscina inflável, para alívio das contrações) que precisa ser comprado e as consultas pré-natais com a parteira. Tudo fica em torno de R$ 7.000", fala Thais, que está com 31 semanas de gestação (Luna deve nascer em novembro). Até o fechamento desta reportagem, o financiamento coletivo tinha arrecadado R$ 1.350. A previsão é alcançar o montante necessário até 25 de outubro.

Segundo Thais, a partir do compartilhamento dos familiares, amigos e da doula que a acompanha, várias pessoas que eles nem conhecem começaram a ajudar na causa. "Tem gente ajudando por causa da nossa história", fala.

Para dar destaque à campanha, Thais e o marido tiveram a ideia de criar o debate on-line "Existe Nascimento Ideal?", que será realizado nesta terça-feira (29), às 19h. "Vão participar duas doulas, uma psicóloga e o cantor Leone", conta.

Cheia de esperança, Thais diz acreditar que eles atingirão a meta. "Vou fazer um plano de parto domiciliar e hospitalar e, se não conseguirmos o dinheiro necessário, a opção será alguns dos hospitais próximos de casa que estou pesquisando."