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Drama de Fernanda Gentil por não amamentar é comum, mas tem solução

Fernanda Gentil dá mamadeira ao filho - Reprodução/Instagram
Fernanda Gentil dá mamadeira ao filho Imagem: Reprodução/Instagram

Do UOL, em São Paulo

15/10/2015 07h25

 

O mito de que amamentar é instintivo, que não exige técnica ou prática, pode levar muitas mulheres a enfrentarem dificuldades na hora de dar de mamar aos filhos, sobretudo na primeira gestação. Foi o que aconteceu com a apresentadora Fernanda Gentil, que usou seu perfil no Instagram para fazer um desabafo: “achei que amamentar fosse tão automático quanto ser mãe”. No post, ela contou que seu leite secou e que por isso precisou recorrer à mamadeira para alimentar Gabriel, seu filho de um mês.

De acordo com uma pesquisa realizada em agosto pelo Datafolha, Fernanda não é um caso isolado. O instituto ouviu 977 mães de filhos de até seis anos, de 224 municípios brasileiros, e apontou que 9% delas não amamentaram. Entre as que iniciaram a prática, 8% o fizeram somente até o primeiro mês de vida do bebê.

Para o pediatra Moises Chencinski, membro do Departamento de Aleitamento Materno da Sociedade de Pediatria de São Paulo, o maior empecilho para a amamentação é a falta de informação adequada das mães. “A recomendação da Sociedade Brasileira de Pediatria é que a mulher amamente desde a sala de parto, que permaneça com aleitamento exclusivo até o sexto mês do bebê, podendo estender até dois anos ou mais.”

Alguns fatores, no entanto, podem dificultar o processo, entre os quais, a dor causada por mastite (inflamação da mama), fissura nos mamilos e ingurgitamento (excesso de leite, que pode levá-lo a empedrar), além da presença de mamilos planos ou invertidos. Nenhum deles, porém, é impeditivo para a amamentação, segundo o médico, que é idealizador do movimento “Eu Apoio Leite Materno”.  “Todos esses problemas podem ser resolvidos ou prevenidos com a técnica adequada.”

É preciso, portanto, tomar alguns cuidados: massagear os seios e fazer compressas frias no caso de o leite empedrar e permitir que o bebê mame por livre demanda (quando e quanto quiser), o que estimula a produção. Além disso, é preciso garantir que ele faça a pega correta, aquela que envolve toda a aréola e não somente o mamilo, para evitar rachaduras e driblar problemas de inversão do bico.

“Quando a mulher é bem orientada pelo médico e acolhida pela família, as chances de ter sucesso são maiores. Muitas vezes, ela é convencida por pessoas próximas a dar mamadeira para o filho engordar, isso é um erro. Não há alimento melhor para a criança do que o leite materno”, diz Chencinski.

Investigações feitas pelo médico nos grupos de mães que administra nas redes sociais mostram que 85% das mulheres não recebem orientação sobre aleitamento materno durante o pré-natal. O especialista lembra que a primeira consulta com o pediatra deve acontecer ainda na 32ª semana de gestação. “É uma oportunidade para esclarecer dúvidas.” A segunda consulta deve acontecer até o oitavo dia de vida do bebê. “Nessa visita, o médico pode verificar se a pega está correta.”

Lobby da mamadeira

Na opinião de Clery Bernardi Gallacci, pediatra do Hospital e Maternidade Santa Joana, em São Paulo, problemas anatômicos representam uma minoria entre os fatores que podem levar a mulher a não amamentar. Segundo a médica, a ansiedade e o medo de não ser capaz de alimentar o filho atrapalham mais. “Muitas mães fazem uma interpretação errônea de que sempre que o bebê chora é fome. Nas primeiras 24h de vida, ele vai chorar por uma questão adaptativa. O estado emocional da paciente, a ansiedade e o peso da responsabilidade de alimentar o filho causam estresse, o que de fato, pode bloquear a produção de leite.”

Mas, na maioria dos casos, de acordo com a pediatra, o leite seca em consequência da introdução de algum suplemento na alimentação do bebê. “Quanto menos a criança mamar, menos leite a mãe vai produzir. É importante deixar que o bebê mame no seu tempo, até o esvaziamento completo do peito.”

De acordo com Chencinski, o medo de que o filho passe fome é totalmente infundado. “Cabem apenas 5 ml (uma colher de chá) de leite no estômago do recém-nascido por mamada e, além disso, o bebê nasce com uma carga de reserva de 48h por garantia”, explica.

Segundo ele, por desconsiderar essas informações, alguns hospitais iniciam uma pressão pelo uso da mamadeira logo após o parto. “Muitas mães recebem na maternidade alguma oferta de fórmula para dar ao bebê, há quem alegue que elas não vão ter leite suficiente ou que precisem descansar, isso é um grande desestímulo à amamentação”, declara.

Esse problema, aliás, não é uma exclusividade brasileira. Um estudo publicado em outubro no jornal científico “Morbidity and Mortality Weekly Report”, que avaliou o suporte dado à amamentação nos hospitais e maternidades americanos, entre 2007 e 2013, apontou que 75% das instituições do país ainda dão aos bebês saudáveis algum tipo de fórmula, mesmo que a mãe insista em amamentar.

Excetuando-se os casos extremos, como mulheres soropositivas, que façam tratamento quimioterápico ou que utilizem drogas não permitidas na amamentação, a grande maioria das mães pode amamentar se quiser.

Mulheres que passaram por cirurgias de redução mamária com grande retirada de tecido também podem ter dificuldades para ter leite. “No caso do uso de antidepressivos, há muita desinformação. Existem remédios dessa natureza que, inclusive, são utilizados para aumentar a produção de leite, basta que o médico consulte o manual”, fala Chencinski. 

O pediatra esclarece também que, ainda que a mulher tenha parado de amamentar, pode retomar a prática por meio da relactação. A técnica consiste em colocar o bebê no peito para mamar com a ajuda de uma sonda, que fornece alimentação suplementar a ele. Conforme o bebê suga o peito, acaba estimulando que a mãe volte a produzir leite.

Outra questão que influencia a diminuição do leite é a pressa da mulher em voltar à forma física, fazendo dietas radicais ou exercícios antes da hora. “Para conseguir amamentar, é fundamental ter uma alimentação saudável, hidratar-se corretamente e não se exercitar antes de três meses após o parto”, afirma o médico.

Para ele, é importante lembrar que toda mãe tem a opção de não amamentar e não deve ser julgada por isso. “Caso faça essa escolha, ela precisa ser orientada sobre as vantagens de que está abrindo mão e sobre os riscos que está assumindo, tanto para sua saúde quanto para a do filho”, diz. Segundo a SBM (Sociedade Brasileira de Mastologia), cada ano de amamentação diminui em até 4% o risco de a mulher desenvolver câncer de mama.