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Para evitar lesões, entidade americana proíbe cabeceios no futebol infantil

Cabecear a bola pode causar lesões - Getty Images
Cabecear a bola pode causar lesões Imagem: Getty Images

Do UOL, em São Paulo

12/11/2015 15h40

 

Para prevenir contusões e lesões na cabeça de crianças, a USSF (Federação de Futebol dos Estados Unidos, tradução da sigla em inglês) proibiu que praticantes do esporte menores de dez anos façam cabeceamentos. A entidade também limitou esse tipo de jogada aos treinos, no caso de adolescentes de 11 a 13 anos.

A mudança é consequência de uma ação judicial, movida por um grupo de pais em 2014, que acusou várias organizações ligadas ao futebol de negligência no tratamento de lesões e contusões ocasionadas por choques da bola na cabeça de estudantes que praticam o esporte.

Na ação, os autores afirmam que quase 50 mil jogadores de futebol em categorias estudantis teriam sofrido contusões em 2010. Eles pleitearam também uma mudança no regulamento universal da modalidade, mas conseguiram apenas que houvesse alterações nos Estados Unidos, referentes às categorias de menor faixa etária.

Para o médico Robert Cantu, autor do livro “Concussions and Our Kids” (contusões e nossos filhos, em tradução livre do inglês), por terem cabeças mais maleáveis e não completamente desenvolvidas, os mais jovens correm o risco de ter o cérebro agitado ao cabecear a bola, o que pode gerar sequelas no futuro.

Risco intrínseco

De acordo com o pediatra Getúlio Bernardo Morato Filho, especialista em medicina do esporte, apesar de protetora, a medida é um tanto exagerada. “Todo esporte tem um risco intrínseco de lesões, e cabecear faz parte do futebol. Além disso, para fazer esse movimento, a criança aprende uma técnica que minimiza os riscos. Mais grave seria começar a cabecear na adolescência sem ter aprendido direito como fazer”, afirma.

De acordo com o médico, boladas, cotoveladas inesperadas na cabeça e quedas são mais graves do que cabeceios propositais. “O problema não é o choque em si, mas a aceleração e a desaceleração do cérebro dentro da caixa craniana. Se isso acontece repetidamente, o risco de surgir uma lesão no futuro é maior."

Segundo o especialista, tem havido muitos debates sobre concussões nos Estados Unidos por conta dos depoimentos de ex-lutadores de boxe e ex-jogadores de futebol americano que tiveram demência em virtude de pancadas levadas na prática esportiva. “Quanto mais cedo as concussões acontecem, mais precocemente podem aparecer problemas”, diz Morato Filho.

O médico considera que a decisão da entidade americana é uma precaução para evitar processos futuros, caso alguma criança se machuque jogando. “Já houve no passado uma tentativa de adotar capacetes na liga infantil, mas não funcionou. Talvez fosse melhor usar bolas mais leves e criar regras específicas para diminuir o choque, uma vez que a criança não tem tanto cuidado quanto o adulto ao jogar.”