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Como contar para seu filho que ele vai ganhar um irmão

As reações do primogênito vão variar com a idade e os pais devem ficar atentos - Getty Images
As reações do primogênito vão variar com a idade e os pais devem ficar atentos Imagem: Getty Images

Beatriz Vichessi

Colaboração para o UOL

06/12/2015 08h05

A chegada de uma nova criança na família é uma alegria, mas com ela também podem chegar problemas com o filho mais velho, como ciúme, insegurança e sensação de rejeição.

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Uma psicóloga, um pediatra e uma educadora dão dicas de como os adultos podem lidar com a situação conforme a idade do mais velho. 

Se o irmão mais velho é....

Bebê ou criança de até dois anos

Conte que ele vai ganhar um irmão, mesmo que ele não entenda as consequências disso nem consiga verbalizar suas emoções. Segundo o pediatra Marcos Antonio Monte, de São Paulo, é importante que a criança saiba que há espaço para todos na casa. A maior preocupação nessa idade é deixar de ser amado ou perder o posto. Então, mostre para seu filho que ele terá uma relação forte com o bebê que está para chegar, dizendo que o irmão “é dele”, ou seja, não são apenas os pais que vão “ganhar” algo. Compreenda também que as reações da criança vão variar ao longo do tempo, mas não há nada de errado com isso.

Para a psicóloga especializada no atendimento de crianças e adolescentes Gerusa Torquato Mengarda, de Florianópolis, preocupante é o contrário: quando a criança não se manifesta ou fica presa a uma determinada ação –mostrando-se violenta ou quieta demais. Nesses casos extremos, vale procurar a ajuda de um profissional especializado e ajudar seu filho a nomear o que está sentindo (por exemplo: “Você está nervoso, gritando muito”), reconhecer os motivos e pensar como encará-los (“você está preocupado com a chegada do seu irmãozinho, mas não é necessário gritar assim. Está tudo bem, vou continuar te amando muito. Vamos aprender a lidar com essa novidade”).

Criança de até seis anos

Até os seis anos, a criança vai notar que a mãe já não a carrega mais tanto no colo, está mais cansada e preocupada com outras providências. As mudanças em casa ou na rotina também passam a ser sentidas. Por isso, se os novos irmãos vão passar a dividir o quarto, por exemplo, vale estar atento para manter a identidade do filho maior, mesmo com a adaptação do espaço. “Colocar o berço para o bebê, mas manter um cantinho predileto do primogênito é uma forma de respeito e atenção com ele”, diz Gerusa.

Se o filho mais velho começar a frequentar a escola na mesma época da chegada do bebê, isso fará com que ele viva muitas transições ao mesmo tempo. Se possível, o ideal é que ele inicie na escola ainda no início da gravidez.

Embora seja muito comum, não caia na armadilha de dizer ao filho que ele vai ganhar o irmão porque pediu. Ele pode mesmo querer, mas a decisão é responsabilidade dos pais, e as crianças têm de ter clareza disso. “Um bebê é um poder dos adultos. Claro que a criança pode compartilhar o desejo, mas o melhor é dizer: 'Lembra que nós queríamos ter um bebê em casa? Ele vai chegar!'”, fala a psicóloga.

Outra estratégia recorrente são os pais entregarem um presente para o mais velho dizendo que quem deu foi o caçula, às vezes, até colocando o pacote nas mãozinhas do bebê. “Não há nada de mal nisso. Mas não quer dizer que todos os desafios da adaptação serão resolvidos”, afirma Monte. O pediatra diz que é comum algumas crianças terem ações irritadiças e violentas, portanto, no momento da entrega, os pais devem estar vigilantes.

Pré-adolescente

Nessa fase, os filhos têm muita clareza de que a casa está mudando. A saída que os pré-adolescentes encontram é chamar mais atenção para si. Vale estar atento, então, se seu filho está fazendo birra, começou a se desinteressar pela escola ou pelos amigos ou retrocedeu de alguma conquista, e compreenda que isso é normal. “Supervalorizar as ações, vibrando demais se são positivas, ou dando muitas broncas se são negativas, não o ajudam em nada a pensar no que está sentindo”, declara Monte. 

Gerusa ressalta que a fase da pré-adolescência também tem uma peculiaridade: a descoberta da sexualidade. “Ao ver a mãe grávida, o filho mais velho tem a constatação de que seus pais fazem sexo. Isso pode ser uma surpresa, já que é comum os pré-adolescentes acharem que os pais são 'velhos demais' para isso”, afirma a psicóloga. Por isso, vale incluir na conversa informações sobre o assunto.

Adolescente

Com esse grupo é importante falar mais claramente, afinal, o adolescente tem mais proximidade com o mundo adulto. Se o bebê estava nos planos, compartilhe desde o início e escute as opiniões dele. Se não estava planejado, divida também as inseguranças e alegrias, converse sobre o que está sendo esperado como consequência. Manter um diálogo constante e ouvi-lo é essencial: alguma opinião ele tem e precisa ser respeitado. Isso não significa que a reação dele vai ser necessariamente pacífica. O adolescente pode achar um absurdo os pais terem filhos e se sentir rejeitado, assim como seria a reação de uma criança pequena. Por isso, lembrar de amigos que já passaram por isso é uma opção.

Com filhos nessa fase, a escola deve ser vista como ponto de apoio, diz Cristiane Vieira, coordenadora pedagógica da Escola Bakhita, em São Paulo. Sabendo que o aluno está passando por um momento de transição em casa, os professores ficam mais atentos às mudanças de comportamento e podem colaborar para que ele supere a fase da melhor maneira possível. "Nem sempre as oscilações ocorrem ao mesmo tempo na escola e em casa. Pode parecer que está tudo bem entre os colegas e, em casa, o adolescente revela outros sentimentos. E depois a situação se inverte e parece que a escola é o cenário para os problemas", diz.