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Amamentar age como um botão de "reset" para o metabolismo da mulher

Amamentar diminui risco de diabetes - Julie Glassberg/The New York Times
Amamentar diminui risco de diabetes Imagem: Julie Glassberg/The New York Times

Roni Caryn Rabin

The New York Times

10/12/2015 15h17

 

O leite materno pode ser a melhor nutrição para uma criança, mas dois estudos recentes estão mudando o debate entre amamentar versus dar mamadeira, sugerindo que as mães, não apenas os bebês, podem ganhar muito com a prática.

Uma pesquisa descobriu que amamentar pode proteger as mulheres de um tipo particularmente cruel de câncer no seio. A outra diz que dar o peito pode agir como uma espécie de botão “recomeçar” para o metabolismo depois da gravidez, ajudando as mulheres que tiveram diabetes gestacional a evitar que a doença continue.

As descobertas complementam pesquisas anteriores mostrando que mulheres que amamentam têm risco mais baixo de câncer de seio e ovários, de diabetes tipo dois e de artrite reumatoide. Amamentar também melhora a saúde cardiovascular e deixa a pressão sanguínea mais saudável.

“Só tem benefícios e é bom para o bebê também”, diz Eleanor Bimla Schwarz, professora de medicina da Universidade da Califórnia. Ela explica a importância da licença-maternidade paga, afirmando que uma pesquisa anterior mostrou que, se a amamentação fosse quase universal nos Estados Unidos, o país poderia eliminar cerca de 5.000 diagnósticos de câncer de seio todos os anos e diminuir em 14 mil o número de ataques do coração. “Serve para todas as mulheres que querem fazer alguma coisa para diminuir o risco de câncer no seio. Temos de ter certeza de que fará parte do debate.”

Os últimos relatos sobre os efeitos da amamentação no câncer de mama analisaram dezenas de estudos abrangendo quase 40 mil casos da doença em todo o mundo. O estudo, publicado no "Annals of Oncology", descobriu que amamentar reduziu o risco de tumores de hormônio receptor negativo, um tipo de câncer muito agressivo, em cerca de 20%. Mesmo que a criança mame no peito por um período breve, o risco desses tumores difíceis de tratar, que são comuns em afro-americanas e mulheres mais jovens, diminui.

A médica Marisa Weiss, principal autora do trabalho, diz que a gravidez e a lactação são passos importantes no longo caminho de maturação dos seios, com a segunda produzindo mudanças nas células dos canais de leite, que tornam as mamas mais resistentes ao câncer.

“A glândula da mama é imatura e incapaz de fazer seu trabalho –que é produzir leite– até que passa por uma gravidez”, fala Marisa Weiss. “Amamentar força a mama a finalmente crescer e arrumar um trabalho: produzir leite, aparecer no emprego todos os dias e todas as noites e parar de brincar.”

Mas as mudanças fisiológicas da lactação vão além do seio. Alguns cientistas começaram a se referir à amamentação como o “quarto trimestre” da gravidez, que completa o ciclo reprodutivo, restaurando o corpo da mulher para a saúde metabólica e cardíaca de longo prazo.

Mulheres que desenvolvem diabetes relacionada à gravidez, e que têm sete vezes mais chances do que o normal de continuar com a doença depois do parto, são tipicamente encorajadas a amamentar, porque a lactação melhora o metabolismo da glicose e a sensibilidade à insulina. Fazer o bebê mamar também incentiva o metabolismo de lipídios, queima calorias e mobiliza as reservas de gordura, que foram acumuladas durante a gravidez (embora isso nem sempre leve a uma grande perda de peso).

Mas os médicos disseram não ter certeza se deixar o bebê mamar no peito diminui as chances de as mulheres desenvolverem diabetes de longa duração. Para testar essa possibilidade, pesquisadores identificaram 1.010 mulheres que desenvolveram diabetes gestacional e as monitoraram de perto por dois anos depois do nascimento. Elas vinham de realidades diversas: um terço tinha antecedentes asiáticos; um terço, hispânicos; cerca de 9% eram negras; e 25%, brancas.

Das 959 que foram avaliadas, 113 –ou cerca de 12%– desenvolveram diabetes tipo dois. Mas aquelas que amamentaram cortaram o risco pela metade, e quanto mais tempo seus bebês mamaram no peito e mais elas apostaram em seu leite em vez de dar fórmula aos filhos, maior foi a diminuição do risco.

Aquelas que amamentaram por mais de dez meses cortaram o risco de diagnóstico de diabetes em cerca de 60% nos dois anos em que foram acompanhadas pela pesquisa. Das 205 mulheres que apenas amamentaram e não usaram fórmula nos dois meses primeiros da vida do bebê, 17 --ou 8%-- desenvolveram diabetes, comparadas com 27 mulheres –ou 18%– das 153 que não amamentaram e usaram apenas fórmula. O estudo foi publicado recentemente no "Annals of Internal Medicine".

“A gravidez é um desafio metabólico”, afirma Erica P. Gunderson, que conduziu o estudo e é pesquisadora do Kaiser Permanente Northern California. Durante a lactação, os níveis de glicose estão mais baixos e há menos demanda por insulina. “Uma das explicações biológicas possíveis é que isso dá às células beta pancreáticas da mulher um pouco de tempo, permitindo que se recuperem das demandas da gravidez”, diz.