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Febre alta em bebês não deve ser atribuída ao nascimento dos dentes

Febre alta, respiração ofegante, vômitos, diarreia e apatia são sinais de alerta  - Getty Images
Febre alta, respiração ofegante, vômitos, diarreia e apatia são sinais de alerta Imagem: Getty Images

Melissa Diniz

Do UOL, em São Paulo

17/03/2016 07h25

Um estudo brasileiro publicado no jornal científico "Pediatrics" afirma que febre acima de 38,3°C em bebês não deve ser atribuída ao nascimento dos dentes. A pesquisa, dissertação de mestrado da dentista Carla Massignan pela UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), aponta como principais sintomas do nascimento dos dentes em crianças até 36 meses a irritação na gengiva, irritabilidade e produção excessiva de saliva.

Para Tadeu Fernando Fernandes, presidente do Departamento de Pediatria Ambulatorial da SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria), a erupção dentária costuma ser erroneamente apontada como causadora de febre, diarreia e uma série de outros eventos, porque coincide com a idade em que a criança entra na escola, estando mais propensa ao aparecimento de viroses.

“Em casos raros, um dente com dificuldade para eclodir pode causar um pequeno processo inflamatório local, que dará febre e dor, mas é uma exceção, não uma regra”, diz Fernandes.

De acordo com o médico, a febre é um sinal que precisa ser analisado juntamente com outros sintomas para se tentar chegar a um diagnóstico. “Trata-se de uma reação do organismo contra um agente agressor, como vírus, bactérias, traumatismos ou mesmo o estresse. Nem sempre, a existência de febre é sinal de doença.”

O pediatra explica que outros sinais de alerta em bebês são respiração ofegante, vômitos, diarreia, apatia, sonolência, irritabilidade excessiva e alterações no nível de consciência.

Embora a febre nunca deva ser ignorada, tampouco precisa ser supervalorizada, criando-se uma espécie de “febre fobia”. “Em 90% dos casos, trata-se de uma virose, que vai desde o resfriado comum até dengue, zika e catapora. Portanto, não é necessário o uso de antibióticos”, afirma Fernandes.

Já as causas bacterianas mais frequentes da febre são otite média aguda, infecção urinária (mais comum em meninas), pneumonia e doenças como meningite, além de outras enfermidades mais raras.

O medo da convulsão

Segundo Fernandes, o antitérmico só deve ser administrado se a febre estiver incomodando. “Não existe um número mágico. Se a criança está brincando e correndo com 38,5°C, não é o caso. Mas se com 38°C ela estiver deitada, abatida, deve-se dar o remédio imediatamente.”

O medo mais comum dos pais é que a criança tenha uma convulsão febril. “Para que isso aconteça, é preciso que a criança tenha predisposição, ou seja, antecedentes e genética. Nesses casos, febre em torno de 37,5°C já pode levar a convulsão. Outras crianças chegam a 40ºC sem manifestar o problema.”

Apesar de assustar, a convulsão febril é benigna e tem cura espontânea, sem a necessidade do uso de medicamentos. “É mais perigoso fazer uso de medidas extremas, como colocar uma criança com febre em um banho gelado, o que pode matar por choque térmico, do que a própria convulsão.”

Quando os dentes são o problema

Segundo Paulo César B. Rédua, presidente da ABO (Associação Brasileira de Odontopediatria), os sinais mais comuns da erupção dentária incluem desconforto, inquietação, perda de apetite, elevação de temperatura até 37,6°C, e acordar durante a noite. Outros sintomas são dor, coceira e gengiva inchada. “Se a febre durar mais de 48 horas ou acima de 38°C, procure um pediatra.”

É comum que, nessa fase, a criança comece a mastigar brinquedos, a chupeta e os dedos, e apresente um aumento da produção de saliva, que pode causar tosse e erupções cutâneas no rosto, pescoço e tórax. “Recomenda-se manter essas áreas secas, usando babador, e trocar a roupa molhada frequentemente.”

Segundo o especialista, o uso de mordedores resfriados na geladeira pode ser útil para aliviar o desconforto. Outro recurso é massagear a gengiva com o dedo envolvido em um pano limpo.