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Com ajuda da mãe, menino autista de 11 anos lança livro

O menino Thor com os pais, Rafael e Claudia, no lançamento do livro - Arquivo Pessoal
O menino Thor com os pais, Rafael e Claudia, no lançamento do livro Imagem: Arquivo Pessoal

Thamires Andrade

Do UOL, em São Paulo

11/04/2016 07h15

Mãe de um menino autista de 11 anos, a fonoaudióloga Claudia Cristine Cugnier Guenther sabe que receber o diagnóstico de autismo é um choque para os pais, no entanto, ela diz que eles não devem achar que o filho está condenado a uma vida sem conquistas. Foi por pensar assim que ela e a família hoje comemoram o lançamento do livro “O Bebê Dragão” (Nova Letra Gráfica e Editora) escrito por Claudia em parceria com Thor, diagnosticado com TEA (Transtorno do Espectro Autista) aos dois anos e quatro meses.

"No universo autista, a família tem um longo caminho pela frente, mas os pais precisam ter esperança e saber que existem possibilidades para o filho se desenvolver", afirma a fonoaudióloga.

Claudia sabe que a concretização do livro só foi possível graças aos investimentos que a família fez para que o filho se comunicasse. "Ninguém consegue nada sozinho. Isso é um alerta para os pais de crianças com autismo. Elas precisam de atendimento diferenciado. O Thor teve apoio na família, na escola, além de fazer acompanhamento com fonoaudióloga e psicóloga", conta.

Como havia trabalhado com pacientes autistas na sua profissão, Claudia suspeitou que o filho tinha a doença quando ele tinha um ano e meio, pois, além de não se comunicar, ele não atendia aos chamados dos pais e evitava o contato olho no olho. "Levei ele ao pediatra, e todas as minhas queixas foram banalizadas. Fomos em outro médico, que também relativizou tudo o que levantei. Comecei a achar que a maluca era eu."

O quadro, no entanto, além de continuar o mesmo, ainda se agravou, pois, além de permanecer sem falar, Thor ficou com muitas dificuldades de interação social e não conseguia permanecer no mesmo espaço que outras crianças. "Não tivemos como escapar do diagnóstico, que é sempre um choque para a família. Choramos muito, principalmente por projetar um futuro e ficarmos sem saber se ele teria amigos, se terminaria a escola... Esse impacto dói, mas é necessário fazer as pazes com o diagnóstico o quanto antes para dar continuação à história e ao tratamento", fala Claudia.

Para isso, Thor começou a fazer acompanhamento com fono e uma psicóloga, terapias que ele mantém até hoje, além de também ter feito terapia ocupacional e equoterapia. O médico também indicou que o garoto fosse matriculado em uma escola regular.

"Encontramos uma escola disposta a nos ouvir. Não conseguimos tudo aquilo que desejamos, mas discutimos questões e obtivemos várias mudanças pedagógicas para ele, como a flexibilização da prova –as questões são praticamente as mesmas, mas, em uma pergunta dissertativa, por exemplo, se o enunciado da prova regular for enorme, para o Thor, é mais objetivo", afirma.

Cursando o sétimo ano atualmente, quando entrou na escola, Thor contava com o acompanhamento de um facilitador pedagógico, mas, a partir do terceiro, quis ter mais independência na aula. "A professora dele também abraçou a causa para si, encarou essa responsabilidade pedagógica de ensiná-lo e, hoje, ele acompanha a aula sozinho e tem uma professora de apoio em casa, para resolver algumas questões do colégio", diz.

Claudia conta que os amigos de Thor abraçam o movimento e, como a base da turma está junta desde os dois anos e oito meses, ele se sente acolhido e feliz no ambiente escolar. "Para mim, é isso que faz diferença. É mais importante ele ter uma história emocional feliz dentro da escola do que uma boa história acadêmica."

Universo da imaginação

Foi inclusive a partir de uma tarefa da escola que surgiu a ideia de escrever o livro. "Após o tratamento, Thor virou um menino muito falante. Ele adora contar histórias, ama esse universo de imaginação, assiste a muitos filmes e animações. Um dia, veio da escola com uma tarefa de contar uma história e já chegou com a ideia pronta, mas, em função do autismo, ele ainda tem alguns problemas de leitura e escrita. Ele não consegue escrever com a mesma velocidade que pensa. Então, ele me contou o enredo, digitei e, em um insight materno, resolvi que aquilo poderia virar um livro", diz.

Capa do livro "O Bebê Dragão" escrito pelo garoto autista Thor Guenther - Divulgação - Divulgação
Capa do livro "O Bebê Dragão" escrito em parceria por mãe e filho
Imagem: Divulgação

O livro conta a história de uma família que encontra um ovo de dragão e é marcada por espaços que desafiam o leitor a interagir, desenhando ou escrevendo, a explorar sua imaginação e a liberar sua emoção. A publicação pode ser adquirida pelo site da Livrarias Curitiba.

Claudia não tinha ambição de fazer uma grande transformação na vida do filho com a obra, no entanto, ele passou a ficar mais confiante e deu um salto significativo em relação ao processo de escrita e leitura. "Ele tem feito várias redações e continua desenhando. Todas as ilustrações do livro são dele, e não fizemos nenhuma edição, pois queríamos deixar o traçado dele bem claro", fala. 

"O livro contribuiu para movimentar a temática do autismo. Os pais precisam aprender a olhar e a escutar o que os filhos autistas dizem, pois, às vezes, estamos exigindo alguma resposta deles que vai vir de outra maneira e vai ser tão importante e significativa quanto. Graças à escuta cuidadosa, não perdi a oportunidade de mostrar que o Thor tinha essa possibilidade de narrar uma história", afirma Claudia. O menino gostou tanto da experiência que confidenciou que já tem uma próxima história para virar livro.