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Ida para o ensino fundamental 2 pede que pais reforcem diálogo com filho

Na escola, crianças mais novas podem usar drogas para imitar os colegas mais velhos  - Getty Images
Na escola, crianças mais novas podem usar drogas para imitar os colegas mais velhos Imagem: Getty Images

Do UOL, em São Paulo

19/05/2016 07h25

A transição escolar da criança do quinto ano do ensino fundamental um para o sexto, no fundamental dois, é uma fase na qual os pais devem reforçar pontos --que já devem ter sido abordados-- na educação do filho. Aos 11, 12 anos --idade em que essa passagem acontece--, o grupo passa a ter uma influência muito grande na vida da criança. Sair com amigos, namorar, beber e usar drogas são algumas das experiências que passam a estar na pauta das conversas com amigos.

“O adolescente começa a se distanciar do núcleo familiar e procura os amigos. Os mais novos tendem a imitar o comportamento dos mais velhos, para não serem comparados aos colegas das classes anteriores”, declara a psiquiatra Jackeline Giusti, do Serviço de Psiquiatria da Infância e Adolescência do Instituto de Psiquiatria da USP (Universidade de São Paulo).

Os adultos responsáveis, por sua vez, devem ficar mais atentos aos comportamentos dos filhos, fazendo-os pensar sobre as consequências de suas escolhas. “Se o adolescente chega em casa com discurso favorável ao uso de drogas, os pais devem conduzir uma conversa sem mentiras ou exageros. Por exemplo, não adianta dizer que droga mata. Provavelmente, nessa fase, ele conhece ou ouviu falar de pessoas que usam drogas e estão vivas. Pode ser até que encontre algumas delas na escola todos os dias”, diz Jackeline. “O mais importante é que o pré-adolescente entenda por que não deve experimentá-las.”

Nem longe nem perto

Ao acompanhar posts da filha e de algumas amigas dessa nas redes sociais é que a dona de casa Ana*, 46, percebeu que novos temas rondavam a filha pré-adolescente na escola, hoje com 16 anos. “O que me chamou a atenção foi a quantidade de fotos de colegas dela com copo de bebida na mão”, diz.

A mãe também estranhou o fato de a menina não estar em muitos dos eventos dos quais as amigas postavam fotos. “Perguntei porque ela não estava mais participando das festas da turma da escola e foi então que ela me contou que as meninas estavam usando drogas. Por conta disso, ela resolveu se afastar”, fala Ana.

Para a dona de casa, a postura madura de se afastar foi fruto de muita conversa dentro de casa. “Se estamos vendo TV e surge determinado assunto, como gravidez na adolescência, eu digo: o que você faria nessa situação? Ou questiono: o que você acha disso?”, conta.

A psicóloga Deborah Moss, mestre em psicologia do desenvolvimento humano pela USP (Universidade de São Paulo), endossa a atitude da dona de casa. “Questões como o uso de drogas precisam fazer parte do diálogo familiar. Só não adianta os pais anteciparem os temas, tem perceber a necessidade da criança e do jovem, a cada momento”, diz.

A professora de educação física Vera*, 51, só se deu conta da importância de abordar o assunto com a filha quando ela entrou em coma alcoólico aos 14 anos. “Nem sabia que ela bebia. Recebi uma ligação do Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) e fui encontrar minha filha no hospital. Achei que ela estava sendo influenciada pelos amigos e a mudei de escola. Mas também comecei a falar mais sobre os prejuízos da bebida em casa”, fala.

Para a psicopedagoga Maria Luiza Werneck, membro do Centro de Estudos da Família, Adolescência e Infância do Rio de Janeiro, cabe aos pais ensinarem os filhos as consequências dos comportamentos de risco.

“O pré-adolescente mais inseguro, com dificuldade de dizer não para os amigos, é o que apresenta mais chances de usar drogas, por exemplo”, declara Maria Luiza. “Os pais devem estar alertas ao desenvolvimento emocional de seus filhos nessa faixa etária, porque trata-se de um processo de transição entre a infância e a adolescência. É comum surgirem dúvidas, além de muita ansiedade. É preciso dar atenção e apoio a eles.”

*Os nomes foram alterados para preservar a identidade das entrevistadas.