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Na entrevista de emprego, pergunta sobre filhos pode virar caso de polícia

Se a mulher se sentir discriminada, pode fazer um boletim de ocorrência ou pedir indenização por danos morais na Justiça - Getty Images
Se a mulher se sentir discriminada, pode fazer um boletim de ocorrência ou pedir indenização por danos morais na Justiça Imagem: Getty Images

Do UOL

11/11/2016 07h25

Ainda é bastante comum que mulheres, em entrevistas de emprego, vejam-se diante de perguntas como “você tem filhos?” ou “tem intenção de engravidar?”. Embora não haja legislação que impeça esse tipo de questionamento, ele pode ser entendido como discriminatório, e a candidata tem o direito de tomar providências legais.

“De acordo com a lei n. 9029/95, é proibida a adoção de qualquer prática discriminatória e limitativa para efeito de acesso à relação de trabalho, ou de sua manutenção, por motivo de sexo, origem, raça, cor, estado civil, idade, entre outros”, afirma a advogada Ana Paula Braga, especializada em direito das mulheres e desigualdade de gênero e membro da Comissão da Mulher Advogada da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) de São Paulo.

A advogada diz que, se a mulher se sentir discriminada, pode registrar um boletim de ocorrência em uma delegacia e entrar na Justiça Cível com uma ação por danos morais.

“Esse é o caminho mais seguro, já que como ainda não há um vínculo empregatício, há uma certa divergência se é possível entrar na Justiça Trabalhista nesse tipo de caso”, fala a especialista.

Na opinião de Ana Paula, se o interesse do empregador é identificar qual o grau de comprometimento que a mulher pode ter com o trabalho, a pergunta deve ser feita de outras formas, como “quantas horas semanais pode se dedicar ao emprego?”.

Apesar da natureza discriminatória dessas questões, recusar-se a responder pode eliminar a candidata do processo seletivo. “O melhor é devolver a pergunta: ‘dentro das limitações do cargo, qual é a importância de ter ou não filhos?’”, fala a consultora de carreira Ana Lisboa, especializada em gestão de pessoas pela Fundação Getúlio Vargas. A candidata deve ainda ressaltar a capacidade de se organizar e conciliar bem a vida profissional e familiar.

“As pessoas têm medo de perder a vaga ao questionar, mas é preciso entender a contratação como uma negociação. Preciso escolher também, não é só a empresa que me escolhe”, diz Ana Lisboa.

A consultora recomenda não mentir sobre a intenção de ter filhos, mas que a mulher evite dizer quando pretende engravidar.

Conheça a empresa

Antes de se candidatar a uma vaga, é interessante saber quais as políticas de acolhimento à mulher que aquela empresa tem: creche para crianças, horário flexível, possibilidade de trabalhar remotamente ou se ausentar do posto para amamentar são algumas práticas adotadas por companhias que valorizam as profissionais.

Em março de 2016, a comunidade de carreiras Love Mondays --em que profissionais publicam o nível de satisfação e os salários das companhias pelas quais passaram-- divulgou um ranking com as dez melhores empresas na avaliação de 12 mil mulheres. Os dados foram coletados entre janeiro de 2015 e março de 2016. O setor farmacêutico foi o melhor avaliado.

A Bayer, que ocupou o sexto lugar no ranking, orgulha-se de promover ações de incentivo à maternidade, como licença-amamentação, reembolso de parte do valor gasto em vacinas e a possibilidade de fazer home office uma vez por semana.

“Nas contratações, observamos estritamente as competências pessoais e profissionais da candidata, a sua motivação para a posição e a sua aderência e identificação com os valores da nossa empresa. Qualquer outro aspecto que fuja desse conceito não entra em questão em nosso processo seletivo”, afirma a diretora de recursos humanos da empresa Elisabete Rello.