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Pais listam vantagens e desafios de ter filhos com idades próximas

Getty Images
Imagem: Getty Images

Gabriela Guimarães e Rita Trevisan

Colaboração para o UOL

28/04/2017 04h00

Depois da novidade do primeiro filho, alguns pais costumam ter dúvidas se já é hora de ter o segundo bebê. Vai dar muito trabalho? Vamos dar menos atenção para um deles? Os irmãos vão se dar bem? Essas são algumas dúvidas que rondam a decisão. 

A incerteza não foi problema para a assessora de imprensa Gabriella Santana Caldeirão, 28, que já se casou com a decisão tomada: queria ter dois filhos, um na sequência do outro. O desejo passa pela experiência que teve com o seu irmão, 12 anos mais velho. Não que a relação fosse distante, mas, de fato, ambos sempre estiveram em fases de desenvolvimento muito diferentes e, portanto, cultivavam interesses diversos.

A natureza favoreceu os planos dela, que hoje é mãe de Leonardo, 4, e Lorenzo, 3. Como Gabriella previa, a relação de companheirismo entre dois se estabeleceu e se consolidou com o tempo. “Os dois fazem tudo juntos, até dormem no mesmo quarto por opção. Não conseguem ficar longe, chegam a chorar de saudades quando têm que se separar por algum motivo”, conta.

Na família da terapeuta sistêmica Ana Ariel, 36, a diferença de um ano e meio entre os filhos foi igualmente planejada. “Minha intenção foi a de que eles crescessem próximos e amigos, que tivessem sempre companhia para brincar”, diz Ana, mãe de Catarina, 8, e João, 6.

Com o passar dos anos, ela percebeu que a cumplicidade entre os dois também favorecia a troca de experiências e o aprendizado. “Foi muito mais fácil desfraldar o segundo, por exemplo”, afirma. E não foi só a experiência da mãe que fez a diferença no processo. Ana conta que a disponibilidade do mais novo para a transição era muito maior. “Ele queria ter a mesma autonomia do irmão”, diz.

O trabalho em casa também dobra

Para proporcionar uma convivência tão intensa entre irmãos, é preciso que os pais estejam preparados para as mudanças na rotina. “No planejamento do segundo filho, os pais devem se questionar se estão preparados para fazer com duas crianças o que estão fazendo, no momento, com apenas uma. Por mais que tenham experiência prévia, precisam estar cientes de que um novo filho trará novas solicitações e desafios”, afirma a psicóloga Juliana Germinari, pós-graduada pela Faculdade de Saúde Pública da USP (Universidade de São Paulo).

Ter duas crianças pequenas em casa significa assumir um dia a dia repleto de tarefas, que vão exigir bastante dos pais. “Pelo menos nos primeiros anos de vida dos filhos, será preciso dedicar quase que 100% do tempo livre a eles”, diz a psicóloga Marilena Bigoto, especialista em desenvolvimento humano.

Para dar conta de tudo, não é raro que um dos pais tenha que desacelerar a carreira. Na família do analista judiciário Jamil de Sousa, 51, foi a esposa quem abandonou a vida profissional para dar uma atenção maior aos filhos, Gabriela, 7, e Nicolas, 5.

Ele conta que a relação do casal passou por transformações profundas a partir do nascimento das duas crianças. “A gente realmente ficou sem tempo para nada. Além disso, enquanto as crianças são pequenas, elas exigem muitos cuidados. Então, interferem a todo momento”, diz.

Do lado dos filhos, também podem surgir dificuldades. Nos primeiros anos de vida, o mais velho pode se ressentir de não ter o colo da mãe sempre à disposição, se ela estiver muito dedicada ao bebê. “Pode ser que a criança projete essa carência no irmão e passe a ter raiva dele”, explica Marilena. É daí que surgem os primeiros episódios de ciúmes, que precisarão ser mediados pelos pais. 

Pais precisam ter tempo para relaxar

Lidar com todo o tipo de contratempo fica mais fácil quando o casal dialoga e toma as decisões em consenso. “Ter filhos é uma escolha, que deve ser tomada de forma consciente. É preciso ter em mente que ambos precisarão dar atenção e estar presentes na educação das crianças durante toda a vida delas”, diz Marilena.

Contar com uma rede de apoio – formada por profissionais, amigos ou familiares – também é uma forma de garantir uma transição mais suave na rotina, depois da chegada dos filhos. “Se os pais tiverem um tempo para si mesmos e para a relação, também estarão mais relaxados e seguros nos momentos de interação com as crianças”, diz o psicólogo Yuri Busin, mestre em Emoções Humanas pela Universidade Presbiteriana Mackenzie.