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A gravidez de risco aproximou essas mulheres e hoje são melhores amigas

Arquivo Pessoal
Imagem: Arquivo Pessoal

Helena Bertho

do UOL

03/05/2017 04h00

"Sua gravidez é de risco e você vai precisar ficar internada". Quando o médico deu essa informação para Maria Aparecida Ferreira, 27, ela não podia imaginar que algo bom podia sair dali. "Eu só pensava no medo de ter alguma complicação para o meu bebê", lembra.

Mas a entrada na Casa da Gestante do Hospital Cachoeirinha, em São Paulo, acabou se revelando positiva, no fim das contas: lá, ela conheceu outras dez gestantes na mesma situação e criou um grupo de grandes amigas que hoje é sua segunda família.

Todas em gravidez de risco, as mães internadas ali compartilhavam as angústias e os receios. O que abria caminho para conversa, troca e apoio mútuo.

"Estávamos todas no mesmo Titanic, porque não sabíamos o que de fato ia acontecer no final das contas. Nossa única certeza era de que tínhamos o mesmo objetivo: salvar a vida dos nossos bebês e sobreviver", relembra Agnalda Maria dos Santos, 38, que também estava no hospital na época.

Uma rede de apoio no hospital

Cida passou quase dois meses internada, entre idas e vindas. Ela tinha diabetes gestacional e corria risco de perder o bebê. Ao seu lado, mulheres com diversos problemas, como pré-eclâmpsia, pressão alta, parto antecipado, depressão.

Ali elas se apoiavam. Ouviam os desabafos umas das outras, conversavam, davam conselhos e também se ajudavam a distrair, falando dos planos para o futuro e contando sobre suas vidas.

As mães se conheceram durante a gravidez de risco. - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Os bebês reunidos em um dos encontros.
Imagem: Arquivo Pessoal
"A gente formou uma grande família e lembro a alegria que foi quando nasceu a primeira de nossas filhas, a Gabi, em janeiro de 2016", conta Cida. O problema é que depois que nasceu, Gabi e sua mãe logo foram embora.

Na semana seguinte, mais duas crianças nasceram e duas mulheres partiram. Naquelas que ficavam, o sentimento era misto da alegria pelos bebês e tristeza pelo distanciamento. Até que Luana Oliveira, ao ter sua filha Bia, teve a ideia de criar um grupo do WhatsApp para manter contato com as novas amigas ao sair da maternidade. "Nós éramos uma família, estávamos sempre preocupadas umas com as outras".

"Elas me ajudaram a vencer a depressão"

Em fevereiro de 2016, todos os 11 bebês haviam nascido. Alguns completamente saudáveis, outros prematuros, precisando de cuidados especiais. E a partir de então, o grupo de mães ganhou um novo propósito: trocar conselhos e dicas sobre a maternidade e seus desafios.

"Essas mulheres me ajudaram a superar uma depressão pré e pós-parto, e a vencer as dificuldades de cuidado com um recém-nascido, após passar quase a gravidez inteira internada. Elas me ajudaram a superar a dor e aflição de ter um filho prematuro. Só quem viveu sabe o quão importante fomos umas para as outras ", lembra Joyce Ribeiro, 21, mãe de Heitor.

A relação entre elas era tão intensa que só o contato por celular parecia pouco. Movidas pela saudade da convivência, decidiram marcar um primeiro encontro. "Foi tão bom, a gente falou de tudo. De briga com marido a bico do peito rachado", conta Cida. Por isso, logo veio o segundo e, no fim das contas, as reuniões se tornaram mensais, cada vez na casa de uma.

Na festa de um ano de Jean, um dos 11 bebês da turma.  - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Na festa de um ano de Jean, um dos 11 bebês da turma.
Imagem: Arquivo Pessoal
Amizade cada vez mais forte

Quase um ano e meio depois do nascimento do primeiro bebê, essas 11 mães continuam se encontrando mensalmente e mantendo conversas incessantes no WhatsApp. Agora, não só mais os filhos são assunto entre elas: os relacionamentos, as carreiras e qualquer angústia pessoal encontram ali escuta e apoio.

"Nós compartilhamos grandes momentos, que foram os nascimentos de nossos filhos e isso ficou marcado. Encaramos juntas obstáculos e hoje somos uma família vitoriosa", diz Adrielle Almeida, 22. O nome do grupo: Vitória na Guerra.