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Recém-nascido segurando DIU viraliza; dá para engravidar com o método?

O bebê Dexter Tyler, em foto onde segura o DIU que a mãe dele usava para evitar uma gravidez - Reprodução/Facebook
O bebê Dexter Tyler, em foto onde segura o DIU que a mãe dele usava para evitar uma gravidez Imagem: Reprodução/Facebook

Denise de Almeida

Do UOL

03/05/2017 10h48

A imagem de um recém-nascido segurando nas mãos um tipo de DIU (dispositivo intrauterino) viralizou nas redes sociais. A americana Lucy Hellein postou a foto em seu Facebook, para mostrar que engravidou usando o dispositivo.

Diferentemente do que muita gente pensou, o bebê Dexter não nasceu segurando o DIU, que foi encontrado, na hora do parto, atrás da placenta.

Feito de plástico, o DIU tem a forma de um pequeno T e é inserido por um médico dentro do útero, justamente para impedir que uma gravidez aconteça. Com cerca de 3 a 4 cm de tamanho, ele pode ser recoberto de cobre ou liberar hormônios.

Essa versão hormonal é também chamada de SIU (sistema intrauterino) e um dos mais famosos deste tipo é o Mirena, a marca usada pela internauta americana. Mas então o DIU funciona ou é arriscado confiar no método? E se ocorrer uma gravidez durante o uso, ele pode prejudicar a criança?

O ginecologista e obstetra Elvio Floresti Junior explica que a eficácia desses dispositivos é alta e pode ser comparada à de uma laqueadura, com uma taxa de falha que ficaria em torno de 0,2% e 0,3% no período de um ano.

O dispositivo hormonal, que geralmente impede a menstruação, seria ainda mais eficaz do que a versão de cobre. Mas algumas falhas, como um DIU mal posicionado, por exemplo, podem comprometer a proteção, explica o médico.

"Quando você vai inserir ele no útero, geralmente há uma resistência anatômica. Tem gente que fica com medo e para nessa resistência. Ou seja: o DIU não está bem colocado. Se você não for até o fundo do útero, não adianta. Nesses casos, diminui a eficácia por conta de uma falha técnica", afirma Elvio.

O obstetra conta que existe também índice de falha por expulsão e, por isso, é importante fazer o acompanhamento médico. "Todo material dentro do útero pode fazer com que ele se contraia e aí pode acontecer de sair, principalmente nos primeiros meses. Geralmente, isso acontece nos dois primeiros meses. Raramente acontece depois, mas já tive casos de expulsão com cinco meses".

"Recentemente tive uma paciente que chegou aqui dizendo que estava grávida com o DIU. Fui examinar e ela realmente estava grávida, mas cadê o DIU? Fiz o ultrassom e não estava lá. Ela deve ter expulsado o dispositivo e nem percebeu", conta.

Ele também explica que, no caso de Lucy Hellein, a colocação do dispositivo pode ter acontecido quando ela já estava grávida, mas ainda não sabia da gestação. "Eu, particularmente, não vi ainda um caso de falha do hormonal, mas ainda assim a gravidez costuma transcorrer naturalmente, sem problemas para o bebê".

Como DIU e SIU funcionam?

Os dois dispositivos vão atuar dentro do útero. Antes de tudo, é preciso ter certeza que a mulher não está grávida. A implantação do dispositivo deve ser preferencialmente feita durante o período menstrual, quando o orifício do colo do útero fica mais flexível.

Elvio explica que todo mês o útero é bombardeado pelos hormônios ovarianos, que preparam o órgão para receber uma provável gravidez. O SIU age, então, liberando progesterona, o que impede os hormônios ovarianos de fazerem esse procedimento. "Como a camada interna do útero não é preparada, a mulher geralmente não menstrua", diz o médico.

Já o DIU de cobre tem uma ação direta no endométrio. Segundo o obstetra, fora do período fértil o espermatozoide não entra de jeito nenhum no útero. No período fértil, no entanto, é o endométrio quem vai facilitar a passagem do espermatozoide. A função do DIU de cobre é atrapalhar que isso aconteça, impedindo a penetração do espermatozoide.

"O útero é preparado de uma maneira hostil: o endométrio fica mais espesso. É por isso que a mulher, quando tem DIU de cobre, costuma menstruar mais e tem mais cólica", explica Elvio. "O DIU de cobre precisa estar em íntimo contato com o endométrio, por isso é fundamental que ele seja bem colocado no fundo do útero. Quanto no fundo do útero, melhor é a ação dele".

As falhas mais comuns, esclarece o médico, acontecem quando o DIU de cobre sai do lugar implantado. "Quando ele está muito baixo, nós orientamos a retirar, porque o índice de falha é maior. Existem também casos de perfurações na parede do útero, que podem provocar a saída do dispositivo. É raro, mas pode acontecer na hora de colocar ou ainda se uma pontinha ficar para dentro da parede uterina, com o tempo esse útero tendo as contrações fará com que a haste de plástico vá penetrando, até sair fora da cavidade".

Para evitar que isso aconteça, ele explica que é fundamental fazer um acompanhamento com médico. Um ultrassom será capaz de mostrar se o DIU está no lugar correto. 

Engravidei com o DIU: e agora?

Se a mulher realmente engravida usando um dos dispositivos, Elvio destaca que o DIU não costuma entrar ao saco gestacional, onde o feto está se desenvolvendo, então a gravidez provavelmente seguirá sem riscos.

Porém, conforme o bebê vai crescendo, o DIU pode perfurar a bolsa, resultando em um parto prematuro. "Mas não dá malformação na criança", explica o especialista.

A solução, então, seria remover o DIU quando se descobre uma gravidez? "Geralmente a fecundação ocorre no fundo do útero, então se eu faço ultrassom e o saco gestacional está acima e o DIU está abaixo, eu retiro o dispositivo. Agora se o saco gestacional está abaixo do DIU, eu não mexo porque isso provocaria um aborto", esclarece Elvio. "Se os dois estão próximos, o melhor é não fazer nada, só acompanhar a gravidez, que costuma ocorrer tranquilamente e sem problemas".