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"Conselhos da vovó" podem colocar bebês em risco, diz estudo

Avós precisam se atualizar nos cuidados com os netos - Getty Images
Avós precisam se atualizar nos cuidados com os netos Imagem: Getty Images

Thamires Andrade

Do UOL

11/05/2017 15h38

Os avós têm um papel fundamental no desenvolvimento dos netos. No entanto, muitas vezes eles reproduzem hábitos antigos que já foram contestados pelos médicos, pois podem colocar a saúde das crianças em risco. É o que revela um estudo apresentado esta semana na reunião das Sociedades Acadêmicas de Pediatria, nos Estados Unidos, que revelou que grande parte dos avós prega crenças equivocadas como banho gelado é bom para baixar a febre e que os bebês devem dormir de bruços.

O líder do estudo, Andrew Adesman, chefe de Pediatria Comportamental e do Desenvolvimento no Cohen Children's Medical Center, em New Hyde Park, nos EUA, fez um questionário detalhado para 636 avôs e avós com objetivo de descobrir se eles ainda colocavam em prática crenças antigas no cuidado com as crianças.

O resultado foi que 44% dos avós afirmaram que "banhos gelados eram uma boa forma de baixar a febre alta". Fernanda Viana, pediatra formada pela USP (Universidade de São Paulo) e uma das idealizadoras do site @saúde4Kids, explica que o banho gelado pode piorar a condição de saúde da criança.

"Antigamente não tinha antitérmico, então, achavam que, para baixar a temperatura, bastava um banho gelado. De fato, isso provoca uma queda de temperatura corporal, mas porque gera uma hipotermia, que causa problemas como aumento da frequência cardíaca e vasoconstrição [diminuição dos vasos sanguíneos]. Ou seja, além de não curar a febre, o banho gelado causa uma hipotermia que é um problema ainda maior de saúde para a criança", explica.

No caso de febre infantil, a pediatra indica fazer o uso de um antitérmico e dar um banho com água morna.

Quase 25% dos avós ouvidos no estudo acreditam que os bebês deveriam ser colocados para dormir de bruços. Mas, na verdade, a posição aumenta o risco de engasgo e da Sids (Síndrome da Morte Súbita Infantil), também conhecida como "morte do berço".

"Se o bebê está de bruços e regurgita ou engasga, ele não tem reflexo de virar a cabeça ou de levantá-la, ou seja, ele não consegue se mexer e pode se asfixiar, por isso, essa posição traz riscos para a saúde e pode levar à morte", explica.

Fernanda explica que a SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria) recomenda que a criança seja colocada no berço de barriga para cima, tanto para o cochilo durante o dia, quanto para o sono da noite. "Fora que também não são recomendados o uso de kit berços ou qualquer outro adereço que facilite a asfixia", fala.

E como lidar com os avós?

Ainda que essas crenças tenham deixado os pesquisadores preocupados, eles reconhecem a importância da presença dos avós no dia a dia das crianças, portanto, os pais precisam aprender a lidar com essa situação para que a convivência em família não seja afetada.

Segundo Fernanda, uma maneira de deixar os avós mais atualizados com as "novidades" da medicina é convidá-los para participar da consulta com o pediatra. "Muitos querem participar desse momento, mas nem sempre são chamados. Se um dos avós cuida da criança para que os pais possam trabalhar, então, é ainda mais importante que ele participe da consulta, pois assim ele também cuidará do seu neto melhor", explica.

Outra dica da pediatra é que os pais do bebê compartilhem com os avós os blogs e programas que assistem para se inteirar sobre o universo infantil. "Às vezes é chato você falar diretamente que o avô ou a avó está fazendo algo errado, por isso, dá para chamar para mostrar um vídeo ou enviar um post de algum blog, convidar de uma forma mais suave e carinhosa que ele participe da vida do bebê munido de mais informações sobre os cuidados adequados", fala.