Topo

Opinião: por que eu resolvi não comemorar mais o Dia das Mães

Bárbara, 31, e seu filho, aos três meses - Arquivo Pessoal
Bárbara, 31, e seu filho, aos três meses Imagem: Arquivo Pessoal

Bárbara Stefanelli*

Do UOL

14/05/2017 04h00Atualizada em 16/05/2017 11h47

Engraçado, mas precisei ter um filho para decidir não comemorar mais o Dia das Mães. Para mim, celebrar este dia perdeu o sentido, já que sou uma mãe 100% solo e meu filho não terá a mesma festa no Dia dos Pais. Então, para o bem dele, resolvi abolir a data do nosso calendário.

Atualmente, meu bebê está com um ano e dois meses e esse será meu segundo Dia das Mães como mãe. E olha que achei o primeiro bem bom! No ano passado, adorei as mensagens carinhosas e ligações de pessoas me parabenizando pela maternidade. A sensação foi a de que era um aniversário bônus. Mas a verdade é que, para mim, tanto faz. O que importa, agora, é como meu filho se sentirá nessas ocasiões.

Eu me tornei mãe de uma maneira totalmente inesperada, no susto mesmo. Conhecia o homem de quem engravidei há apenas três meses e acabei entrando para as estatísticas de mães que criam seus filhos sozinhas. Uma realidade ainda bastante comum no Brasil.

E, sozinha, passei a me informar loucamente sobre a maternidade, ainda na gestação. Como jornalista, também procurei conhecer e conversar com outras mães que, por razões diferentes, não contaram com os pais na criação de seus filhos. Me surpreendi com a quantidade de pessoas na mesma situação que eu e, muitas vezes, me senti privilegiada por ter um pai tão preocupado e presente.

Mas uma das queixas mais frequentes que ouvi dessas mulheres é a de que suas crianças ficavam particularmente magoadas no Dia dos Pais, tendo que fazer presentes ou escrever cartinhas no colégio para alguém que não é participativo ou que simplesmente não conhecem. Ainda não encontrei pais solo para conversar, mas imagino que eles também tenham a mesma queixa, de que seus filhos, ainda tão imaturos emocionalmente, se sintam excluídos no Dia das Mães.

Em breve, meu pequeno vai para a escolinha. Já fui conhecer algumas e, no fim da visitação, sempre faço a mesma pergunta: “Aqui vocês comemoram Dia dos Pais ou das Mães?”. A resposta da dona da creche que está ganhando até o momento foi bem simples: “Não. Bastou ter uma criança constrangida com a data para a gente decidir não comemorar mais. O que fazemos é o Dia da Família."

Esse Dia da Família tem se tornado uma realidade em muitas escolas e, na data, que normalmente é celebrada no dia 15/5 ou no fim do ano letivo, os cuidadores da criança podem levar quem participa da criação dela --avós, tios, padrinhos, amigos, quem for... Algo bem diferente do que a tradicional família brasileira preza, mas que faz total diferença quando se trata de inclusão escolar e até social. 

Sei que a maioria das mães e pais ama a data e também sei que não vou conseguir blindar meu filho de todas as questões da vida, mas, no que eu puder minimizá-las, estarei aqui. Afinal, para que serve uma mãe? E meu Dia das Mães eu comemoro todos os dias, desde quando tenho que cuidar dele estando gripada até quando acompanho seus primeiros passinhos ou ganho um carinho no rosto. Não há presente maior que esse.

* Bárbara é repórter do UOL.