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"Eu estava grávida, mas o médico me disse: não tem um bebê aí"

Karina Klitze Gasda teve uma gravidez anembrionada - Arquivo Pessoal
Karina Klitze Gasda teve uma gravidez anembrionada Imagem: Arquivo Pessoal

Helena Bertho

do UOL

07/08/2017 04h00

Durante um ultrassom, a blogueira Karina Klitze Gasda descobriu que não existia um feto dentro do seu útero, apesar de todos os sinais da gravidez. O que ela teve foi uma gravidez anembrionada, algo comum, e diferente da gravidez psicológica. Veja o que aconteceu com ela e entenda o problema.

"Minha primeira gravidez foi naquele esquema: parei a pílula e, se viesse, ótimo. E veio! Lembro quando fiz o teste de farmácia e deu positivo, foi muita alegria. Eu, meu marido, a família toda comemorou."

"Logo começaram os sinais da gravidez: enjoos matinais, os seios inchados e doloridos. E a gente também começou a se preparar psicologicamente para a chegada do bebê, compartilhando a novidade com conhecidos, que ficavam superfelizes e nos davam presentes para celebrar."

No exame não havia um feto

"No primeiro ultrassom, porém o médico já indicou que algo estava errado e pediu que eu retornasse em alguns dias para fazer um transvaginal. Eu estava de dois meses. Fiquei ansiosa, mas não imaginei que fosse algo grave. Quando cheguei para o exame, porém, o doutor soltou, como se não fosse nada: 'não tem um bebê aí'. Fiquei em choque, sem saber o que pensar ou dizer. Como assim não tinha um bebê na minha barriga?"

O médico explicou que era uma gravidez anembrionada, algo muito comum. Mas isso não me acalmou. Eu nunca tinha ouvido falar disso!"

Era preciso expelir a placenta

"Voltei para casa a pé, chorando, tentando me acalmar.  Não, eu não tinha abortado, o que aconteceu foi que meu óvulo foi fecundado e o corpo começou a desenvolver todos os sintomas da gravidez, mas o embrião nunca se desenvolveu. Então eu precisava tirar o saco embrionário (estágio inicial da placenta) que estava no meu útero. Tirei uma semana de folga e marquei o procedimento."

"Foi um processo bem ruim. Primeiro, tive de tomar um remédio abortivo, que estimulava contrações para expelir tudo e causava cólicas. Fiquei lá no hospital, esperando fazer efeito. Mas me deixaram bem em um quarto onde estavam várias mães com seus bebês, e aquilo só aumentava minha tristeza."

Karina com Alex, que hoje tem dois anos - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Karina com Alex, que hoje tem dois anos
Imagem: Arquivo Pessoal
Segunda gravidez

"O pior de tudo foi mesmo meu psicológico. Fiquei bem triste e com medo de como seria minha próxima gravidez. Mas a vida tinha que seguir. Passei um ano tendo certeza de que não queria mais engravidar, mas a vontade acabou vencendo e, assim que parei com a pílula, fiquei grávida outra vez."

"Foi um processo muito cheio de medos e receios. Demorei para contar para as pessoas e a cada exame era um alívio enorme quando tudo estava bem. Mas só acalmei mesmo depois do quinto mês, quando comecei a comprar as coisas e me preparar de fato para a chegada do meu filho."

"O Alec nasceu completamente saudável e, hoje, está com dois anos. Ele confirmou para mim o que o médico me disse na época do susto: que aquilo era normal e não significava que eu tivesse algum problema."

É um problema isolado e não algo da mãe

A gravidez anembrionada é o que acontece quando o processo de desenvolvimento do embrião se interrompe muito cedo.

"Normalmente, o óvulo fecundado forma o zigoto, que é uma célula que começa a se multiplicar e diferenciar para formar o embrião e seus anexos, como a placenta", explica Ricardo Tedesco, ginecologista da Comissão de Assistência ao Abortamento, Parto e Pérpio da Febrasgo (Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia). Ele completa que, no caso da gravidez anembrionada, acontece um problema no desenvolvimento das células que dariam origem ao embrião que param de se multiplicar.

"Não é uma gravidez psicológica. Acontece uma gestação de fato, mas ela não segue. As alterações hormonais existem e por isso o exame dá positivo". Apesar disso, esses sintomas não passam dos dois meses e meio.

A única forma de diagnosticar o problema é através do ultrassom e, uma vez identificado, é preciso retirar o saco embrionário para limpar o útero. Isso pode acontecer espontaneamente, em um processo natural do corpo, ou ser feito com medicamentos ou um procedimento de curetagem.

O médico reforça que é preciso ter cuidado com um falso diagnóstico da gravidez anembrionada: "Às vezes, o embrião está muito no início do desenvolvimento e não é possível vê-lo no ultrassom, por isso é preciso repetir o exame depois de alguns dias para confirmar".

Apesar de pouco falado, o problema não é raro. "Abortamentos naturais acontecem em 20% das gestações e a anembrionada pode representar de 10% a 15% desses abortos", diz o especialista.

Suas causas, porém, ainda são desconhecidas, mas Ricardo acredita que há maior risco de acontecer em mulheres com mais de 50 anos ou quando o pai tem mais idade, mas não se trata de algo causado por um problema de saúde da mulher. "Isso significa que ela pode ter outras gestações completamente normais".