Topo

Usar perguntas para falar com filho pode ser um erro; veja como ser direto

A pergunta tem seu valor se há opções, mas faça uma seleção prévia: mostre, por exemplo, duas roupas para a criança escolher - iStock
A pergunta tem seu valor se há opções, mas faça uma seleção prévia: mostre, por exemplo, duas roupas para a criança escolher Imagem: iStock

Carolina Prado

Colaboração para o UOL, em São Paulo

09/09/2017 04h00

“Vamos tomar um banho?”, você pergunta ao seu filho. É uma frase doce, mas a interrogação no fim deixa brecha para ouvir um sonoro “não”. Muitas vezes, a gente nem se dá conta de que está fazendo uma pergunta ao filho, quando deveríamos direcioná-lo a uma ação. Então, o problema está em se comunicar com perguntas.

Veja só: dá para dizer “filho, está na hora de tomar banho” sem medo de traumatizá-lo. Até porque, crianças são muito diretas, os rodeios geralmente ficam por conta dos adultos. “Quando a criança precisa fazer alguma coisa de que ela não tenha escolha, o pai ou a mãe deve olhar no olho dela, se precisar, abaixar, e dizer de uma maneira que seja afirmativa”, diz neuropsicóloga Deborah Moss, especializada em desenvolvimento infantil. Ao direcionar, é importar usar frases curtas, para que ela entenda que ali não há escolha: “Agora, você vai tomar banho” ou “agora vai jantar”.

A pergunta tem seu valor quando há opções

O ponto de interrogação é importante no diálogo com a criança, porque ela aprende a tomar decisões e assumir as consequências. Quando há opções para escolher, é bom questionar, sim: “Você quer ir ao parquinho agora ou prefere brincar em casa?”. Ou “quer ver TV ou vai tomar banho? Se for TV, depois vai tomar banho e não tem mais TV’.

Mas é preciso estar preparado para aceitar qualquer que seja a resposta, até para que ele possa confiar na sua palavra. “Tudo pode, contanto que seja do direcionamento dos pais”, diz Deborah Moss.

A especialista dá um exemplo pessoal: “Minha filha gosta de escolher a roupa no fim de semana, mas estava se tornando chato, porque ela queria usar vestido curto no inverno. Então, eu mudei para uma situação em que ela pudesse escolher, sem que aquilo virasse uma negociação sem fim. Eu mostrava duas opções e a deixava decidir”.

Direcionar é diferente de ser autoritário

É sempre bom pensar se o que a criança está pedindo é pertinente ou não, se dá para fazer alguma concessão. “São sempre os pais quem decidem. Gritar e agir de forma rígida não são as melhores saídas. Se a criança argumentar, você escuta e mostra a ela por que aquilo não pode ser realizado naquele momento”, diz a psicóloga Renata Berto.

A aceitação é maior, quando a criança já está acostumada com aquela orientação, naquele momento do dia. “A criança tem uma noção de tempo diferente do adulto, a rotina norteia o dia e dá segurança a ela”, explica a pedagoga Roseli Amaral.

A estratégia não é à prova de birra

Se acontecer de ela espernear e chorar, é preciso manter a calma e explicar que aquele comportamento não resolve. “Aos poucos, a criança perceberá que não adianta insistir na birra. Porém, se ela for atendida depois de um ataque, sempre recorrerá a esse comportamento para conseguir o que quer”, explica Roseli.

É uma questão de ir testando. A criança não tem manual. “Em alguns momentos, você vai precisar impor, mas sempre na palavra, sem agressão verbal, para não perder a sua capacidade de argumentação”, fala Renata.