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Seu filho sempre passa mal antes da escola? Pode não ser enrolação

Obrigar seu filho a ir à escola pode piorar um quadro de angústia extrema - Getty Images
Obrigar seu filho a ir à escola pode piorar um quadro de angústia extrema Imagem: Getty Images

Carolina Prado

Colaboração para o UOL

05/10/2017 04h00

Cada vez que você fala para o seu filho que daqui a pouco é hora de ir para a escola, ele se queixa de dor de barriga, dor de cabeça, dor de garganta ou ânsia de vômito? Nas primeiras vezes, ok, você deixa ele ficar em casa para se recuperar. Mas, depois de um tempo, percebe que as reclamações se tornaram frequentes e faltar à escola não é mais uma opção. Chegou a achar que o filho estava te manipulando? Pois saiba que dores físicas podem surgir de um sofrimento interno --e verdadeiro-- da criança.

Não é enganação

O filho pequeno, na maior parte das vezes, não está inventando uma doença. Ele acredita que está se sentindo mal, porque não sabe identificar sentimentos muito elaborados. Assim, uma angústia vira aperto na garganta e ansiedade vira dor de barriga. “A alergia, por exemplo, é outro sintoma bem comum. Questões de pele estão frequentemente relacionados a problemas emocionais”, explica a pedagoga Luciana Brites.

É preciso investigar a causa da dor

Obrigar seu filho a ir à escola pode piorar um quadro de angústia extrema. Assim como desvalorizar a dor dele, ao dizer que está preguiçoso, “Em qualquer etapa do desenvolvimento infantil, os pais devem olhar para os conflitos e problemas da perspectiva da criança”, fala a psicóloga clínica e escolar Marta Souza.

A recusa de ir ao colégio pode ter motivações diversas: dificuldade de aprendizagem, alguma cobrança por parte dos professores, brigas com outras crianças e até bullying, que tem impacto negativo nas emoções de qualquer pessoa e, mais ainda, na criança.

A sugestão da psicopedagoga Cida Ferri é questionar a criança, sem pressioná-la. Em vez de dizer “aconteceu alguma coisa de ruim na escola?", pergunte “teve alguma novidade esses dias na escola?” ou “está tudo tranquilo na escola?”. “A abordagem indireta deixa a criança mais confortável para se abrir”, diz.

Ao olhar com cuidado, os pais podem perceber se é uma situação pontual - por exemplo, ela não fez a lição de casa e está passando mal, com medo de enfrentar a cobrança - ou se algo mais grave está acontecendo.

O problema nem sempre é a escola

Mas você deve coletar o máximo de dados na instituição, ao falar com os educadores. Pode perguntar, se há algum problema do filho com outros coleguinhas, por exemplo. Se não receber informações que apontem problemas no ambiente escolar, saiba que o cansaço pode deixar a criança irritada e sem disposição para ir à escola. Também é bom avaliar o que está acontecendo no ambiente familiar. Por mais que a gente tenha medo de encarar que o motivo do desconforto dos nossos filhos vem de casa, é preciso pensar no bem-estar deles. Brigas entre o casal, uma separação, a chegada de um irmãozinho… Tudo pode influenciar.

Técnica para identificar sentimentos

Ajuda muito se os pais, no dia a dia, ensinarem os filhos pequenos a expressarem o sentimento de alguma forma. Ao desenhar, por exemplo. “Adultos também podem falar sobre o que os deixa tristes ou felizes, e como se sentem, para a criança conseguir identificar quando sentir-se assim também”, sugere Luciana Brites.

Ao falar sobre o sentimento com a criança, pode pedir que ela aponte a intensidade: “Hoje, quando você teve medo, foi bastante ou pouco?”. Meça essa intensidade com uma fita, uma régua ou desenhe para ela, para ilustrar o que é bastante e pouco. No outro dia, pergunte o quanto ainda ficou de medo, para mostrar a ela que isso pode estar diminuindo.

Passo a passo para ajudar a criança que não quer ir à escola

  1.  Não brigue com ele, mostre que entende o que está sentindo. Você pode, inclusive, dizer que também tem dores de nervoso.
  2.  Não o obrigue a falar, mas ouça com atenção o que ele tem a dizer, mesmo que pareça fantasioso.
  3. Tente coletar o máximo de dados na escola, ao falar com os professores.
  4. Conte sobre suas experiências positivas e negativas – e como lidou com elas - da época de escola.
  5. Sinta as necessidades do seu filho e nunca desvalorize suas emoções. Elas são reais.