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Ver o filho sair de casa pode doer; conheça a síndrome do ninho vazio

Segundo a psicóloga Anna Frimm, é comum que pais com a síndrome evoluam para um quadro depressivo - Getty Images
Segundo a psicóloga Anna Frimm, é comum que pais com a síndrome evoluam para um quadro depressivo Imagem: Getty Images

Marcos Candido

Do UOL, em São Paulo

11/01/2018 04h00

A advogada Tânia Sanches, 53 anos, sempre estimulou os filhos a irem em busca de experiências inéditas na vida. “Eu eduquei para quem fossem aonde quisessem, fossem o que quisessem. Ensinei-os a irem atrás de liberdade.”

Acontece que, em 2010, todos os três filhos --de 32, 30 e 26 anos-- saíram de casa, quase de forma simultânea. Casaram-se, mudaram de cidade e de país.

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Ao se ver naquela situação, o que Tânia sentiu foi contraditório com seus ensinamentos. “Não soube lidar. Vinha uma melancolia. Nos seis primeiros meses, não queria mais me relacionar com as pessoas."

O sentimento da advogada não é algo isolado e tem até nome: "síndrome do ninho vazio", uma tristeza que afeta pais que veem os filhos saírem de casa. O problema tem levado pais e mães a consultórios e até a grupos de internet em busca de apoio.

Saída do ninho acontece cada vez mais tarde

Segundo estimativa do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), atualmente, as pessoas têm abandonado o "ninho" cada vez mais tarde --entre os 25 e 34 anos--, já que costumam levar mais tempo para concluir os estudos e arranjar um emprego.

O tempo maior no lar significa que a relação, que pode ter mantido uma rotina por décadas, pode acabar da noite para o dia. 

Para a psicóloga Anna Frimm, especialista em casais e famílias, é comum que pais com a síndrome evoluam para um quadro depressivo.

Tania Sanches - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Tania, com o marido e os dois filhos
Imagem: Reprodução/Instagram

“Geralmente, quem sofre mais é o cuidador que passou mais tempo com o filho e que, muitas vezes, tinha a maior parte do seu tempo voltado para ele”, explica Katty Kurozawa, psicóloga especialista em saúde emocional.

Buscando ajuda

No início, Tânia conta precisou de ajuda psicológica. Tomou remédios para reduzir a tristeza, mas abandonou o método. Com a ajuda do marido, que também sofreu no período, traçou alternativas. Começou a meditar e a enxergar o mundo de outra forma.

“Pela manhã, conversava consigo mesma em voz alta, na frente do espelho, para refletir sobre as dificuldades que estava enfrentando." Ela ainda passou a embarcar em viagens e a fazer novos amigos e a estreitar o relacionamento com os antigos.

“Foi muito difícil, mas pensei comigo mesma: por que ficar triste enquanto eles estão por aí, sorrindo?”

O que fazer quando bate aquela tristeza ao ver os filhos saindo de casa?

  • Aceitar que esse processo é natural e que os filhos continuarão sendo filhos, mesmo com a nova rotina. O “abandono do ninho” é um momento de recomeço e novas perspectivas para pais e filhos. E, como todo recomeço, exige muita coragem e apoio da família.
  • Não tome nenhuma decisão precipitada. Não queira logo vender a casa, o apartamento ou mudar de cidade. Amadureça as ideias. Procure pensar de cabeça mais fria.
  • Retome tudo aquilo que gostaria de fazer na vida e que ainda não fez por algum motivo. Busque um novo hobby que lhe interesse, cursos ou um trabalho voluntário.
  • Olhe os pontos positivos dessa mudança e não fique apegada aos aspectos negativos.
  • Mostre ao seu filho que sua casa continuará sendo uma base permanente, para quando ele quiser ou precisar retornar. Isso fornece a você e a ele um senso de pertencimento e segurança, que é muito positivo nesse momento de transformações.
  • Mantenha contato, com ligações, mensagens de texto, e-mail etc.. Mas esteja ciente que, à medida que o tempo passa, seu filho pode não responder tão prontamente quanto antes.
  • Dialogue sobre o que sente. Não esconda o sofrimento e aceite apoio e ajuda, se precisar. A sensação de tristeza, vazio, preocupação e angústia é normal em um primeiro momento, mas, se demorar a passar, é importante buscar apoio emocional e psicológico.
  • Compreenda que os filhos precisam viver novas experiências e evoluir. Confie na criação e educação que deu a eles e "solte-os", literalmente, da sua proteção.