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'Menino não chora' e outras 4 frases para não dizer ao filho

Para os meninos, certas frases machistas e carregadas de preconceito podem gerar muito sofrimento, em qualquer fase da vida - Getty Images
Para os meninos, certas frases machistas e carregadas de preconceito podem gerar muito sofrimento, em qualquer fase da vida Imagem: Getty Images

Heloísa Noronha

Colaboração para o UOL

03/02/2018 04h00

Tudo o que falamos para as crianças têm um impacto significativo na forma como elas vão agir no dia a dia, umas com as outras, e no futuro. Para os meninos, certas frases machistas, limitantes e carregadas de preconceito podem gerar muito sofrimento em qualquer fase da vida. Veja exemplos para eliminar já das conversas em família.

1. “Menino não chora!”

O choro é a expressão de um sentimento – de alegria, inclusive – e independe de gênero. Ao tentar impedir que um garoto chore, a mensagem que o adulto transmite é a de que os homens devem reprimir as emoções, pois elas são sinais de fraqueza e pouca virilidade.

É importante que os pais e/ou cuidadores, principalmente, procurem dar significado às lágrimas das crianças, com frases do tipo “sei que você está triste” ou “é assim mesmo, calma”. Meninos que “engolem” o choro podem encontrar dificuldade de aceitar ou até de reconhecer as próprias emoções, quadro que pode desencadear doenças psicossomáticas e depressão.

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2. “Vai lá e bate também!”

Não é nada construtivo ensinar uma criança a revidar um tapa, uma mordida ou um empurrão. Esse tipo de “conselho” estimula a falta de diálogo e a empatia. Vivemos em uma cultura de ódio e revanche, sobretudo nas redes sociais. Qual o sentido de incutir isso em uma criança?

E mais: a frase impõe que um menino precisa usar a agressividade para resolver um problema, algo que pode ter consequências devastadoras no futuro. De acordo com os especialistas, o ideal é mostrar que ser forte é ter habilidade de conversar e respeitar a opinião do outro.

“Bate que nem homem” é uma variação ainda mais problemática dessa frase, pois pressupõe que as mulheres são frágeis e indefesas e de que o homem deve ser violento e dominador.

3. “Isso é coisa de menina!”

Trata-se de uma expressão dita pelos adultos em diferentes contextos, mas os mais recorrentes são quando veem o menino brincando com algo tido “de menina” ou manifestando a vontade de ter ou usar alguma coisa cor-de-rosa.

Categorizar é limitar papéis e incitar preconceitos nas crianças sobre coisas que os adultos acreditam –e que não são verdades absolutas nem correspondem à realidade dos fatos. Também é uma mensagem errônea de que meninas são frágeis e têm comportamentos inferiores aos dos meninos. Quem faz sexismo e machismo são os adultos e não as crianças. Vale lembrar que a cor que uma criança usa ou o brinquedo com o qual ela brinca não determinará a orientação sexual de ninguém.

4. “E as namoradinhas?”

Com cara de brincadeira bobinha, feita para arrancar risos ou alguma resposta engraçada, é um gracejo nocivo. Primeiramente, porque pode despertar o interesse da criança sobre algo para o qual ela não é madura.

Em segundo lugar, porque passa a ideia de que os meninos, desde cedo, devem se preocupar em se autoafirmar, tendo várias namoradas. O que também expõe o menino à ideia que ele não precisa respeitar a mulher com quem assumiu um compromisso, pois faz parte do “papel do homem” ter várias garotas. Terceiro, porque objetifica as meninas –dificilmente esse tipo de pergunta é feita a elas, certo?

5. “Você um dia vai ser o homem da casa”

Como assim? Só os homens podem ser “donos” da casa ou “chefes” de família? É melhor repensar essa colocação, afinal, homens e mulheres são iguais em deveres e direitos.

É uma frase que não só põe a mulher, mais uma vez, em uma posição inferior, como desperta na criança um senso de responsabilidade que não lhe cabe e para o qual ela não está preparada.

Fontes: Cristiane Dameto, psicóloga de crianças e adolescentes e diretora do Ampliatta - Instituto de Educação em Psicologia e Saúde, em Bauru (SP); Fernanda Mary Machado, psicóloga e neuropsicóloga; Luciana Brites, psicopedagoga e cofundadora do Instituto NeuroSaber, em Londrina (PR), e Monica Pessanha, psicopedagoga e psicanalista infantil e de adolescentes.